O Ilustrador (parte final)

Fui direto da casa da Bernadete pra boate onde trabalho das dez da noite às seis da manhã, ainda tinha um tempinho, mas resolvi ir direto, fiquei lá no meu balcão olhando pro granito dele, gosto dessa pedra, ela é feita de um monte de pedaços que vão se juntando em desenhos bem legais, queria saber desenhar um granito, nunca nem tentei, sei que não daria. 
Aí chegou a Bárbara do outro lado do meu balcão, a Bárbara é cliente de todos os dias que essa bodega abre, deliciosa, debruçou com os braços apoiados no balcão e eles escorregaram no granito, trazendo os peitos da Bárbara pra mais perto da minha cara, os braços escorregaram no suor de tanta dança que ela tinha dançado, molhou o balcão com seu suor e encharcou o ar com seus feromônios, feromônio é uma puta duma palavra difícil, dessas que sempre me dão dor de cabeça, só que eu aprendi o que era num documentário e agora uso sempre que dá, os peitos gigantes da Bárbara gritavam de dentro da sua pouca roupa, urravam através do decote, os peitos da Bárbara estão sempre gritando, mas parece que só eu é que ouço. 
A Bárbara pediu seu coquetel de sempre e perguntou se eu andava desenhando muito, a Bárbara gosta de conversar comigo, sempre conversa quando vem pegar bebida, acho que nem é pela minha conversa, pela minha beleza é que não, ela só deve achar divertido conversar comigo, poder dizer pros outros que conhece o barman, essas coisas. 
O único desenho que tinha era um que fiz da Bárbara nua, imaginando como a Bárbara seria nua, caras como eu nunca comem mulheres como a Bárbara, e achei que ficou bem legal, bem parecido com ela, pensei em não mostrar por causa da vergonha que eu iria sentir quando a Bárbara se reconhecesse, só que a Bárbara iria achar que eu não sou ilustrador porra nenhuma se dissesse que não tinha nenhum desenho, e isso eu sou, sou um ilustrador, e dos bons, puxei a folha dobrada debaixo do balcão e dei pra Bárbara, a Bárbara olhou e foi pior do que eu pensava, a Bárbara perguntou quem era essa coitada do desenho, toda feiosa e desconjuntada, respondi que não era ninguém, era só um desenho de treino de imaginação, a Bárbara riu com todos os seus 32 dentes e disse que eu tinha que praticar muito a minha imaginação, mas muito mesmo, me jogou um beijo no ar e saiu de volta pra pista de dança, fui atender a um outro cliente e reparei que eu tava de pau duro, agora o desgraçado fica duro, pensei de ir pra casa da Bernadete quando terminasse o serviço, só que é melhor que não, o mais certo é que eu encontrasse a Bernadete já sentada no pau de outro garotão e que ela dissesse que era um pau muito mais duro do que o meu quando me visse chegando. 
Senti uma coisa ruim, teria sido capaz de pular o balcão e mutilar a Bárbara, de pegar uma faca daquelas de desossar lá atrás na cozinha e cortar os peitos da Bárbara fora, os dois, de fazer que parassem de gritar, de levar eles comigo, de empalhar e exibir eles numa placa de madeira, que nem aquelas cabeças de bicho que a gente vê em casa de caçador nos filmes, mas não havia o que eu pudesse fazer, só que fiz foi atender o outro cliente e mais outro, mais outro e terminar a minha noite, e fui embora. 
Agora tô aqui nesse meu quarto, nessa minha vaga alugada de pensão e desenhando, desenhando os peitos da Bárbara, só os peitos, sem a Bárbara, e ficaram bem bons no desenho, bons mesmo, pra mim parecem tão apetitosos quanto os da Bárbara, toco uma punheta olhando pros peitos da Bárbara que eu desenhei e vou me deitar pra ver se pego no sono. Sinto uma coisa ruim, mas não há nada que eu possa fazer.

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