Cadialina

Realmente, em tempos de politicamente correto e de pessoas que querem tudo pela lei do menor esforço, a vida de quem tem senso de humor está cada vez mais complicada. Perigosa, até.
Um médico de Salvador (BA), contratado da Fundação José Silveira, que percorre as comunidades carentes da capital baiana, receitou um inusitado regime a uma paciente muito da gorda e esfomeada.
Receitou-lhe o remédio Cadialina. Genial.
A moça, com o peso inversamente proporcional ao QI, não entendeu o chiste, perguntou onde ela poderia encontrar tal remédio. O médico disse, então, que ela passasse em uma loja de ferragens e comprasse 6 cadeados : um para a sua boca, outro para a geladeira, outro para o armário, outro para o freezer, outro para o congelador e outro para o cofre de casa. Há!Há!Há!Há!
E para que ela não tivesse dúvidas, até prescreveu a receita. Abaixo, a gabiru de 1,53m e 100 kg, e a receita do médico gaiato, que, apesar do humor, não deve também dos mais letrados, vejam como ele escreveu freezer, frize.
O médico ainda ofereceu uma terapia alternativa à Cadialina. Caso ela não quisesse os cadeados, o único jeito seria fazer jejum em 4 dias da semana, e só beber água nos outros três.
Pode até parecer sacanagem, a brincadeira do médico, mas queriam que ele dissesse o quê? Que explicasse para ela os processos de anabolismo e catabolismo? Que falasse dos gastos energéticos basais e necessidades energéticas totais? Que desfiasse cálculos de IMC e calorias contidas em cada alimento?
Ele, a seu modo galhofeiro, falou o linguajar que o povão consegue entender, ou seja, se quiser emagrecer, tem que fechar a boca. Receitar uma dieta balanceada também seria besteira. Povão gosta de coisa gordurosa, boiando no óleo. Uma saladinha com um bifezinho grelhado não têm graça para eles, não tem gosto. 
O que a moça queria era receber um desses remédios milagrosos, esses queimadores de gordura e inibidores de apetite, que ela deve ter lido que essa ou aquela atriz usa, queria uma pílula mágica para continuar a encher a pança de vatapá, abará e acarajé, tudo regado a muita caipirinha, cerveja, axé e olodum.
A paciente fez queixa ao Conselho de Medicina da Bahia e o médico foi afastado para averiguações.
Ouvido, o médico disse que usou linguagem figurada e pediu desculpas caso tenha sido mal interpretado pela paciente.
"É uma paciente que tem compulsão por alimento. Infelizmente, ela vive numa comunidade que não tem capacidade de abstrair as coisas", afirmou o médico à TV. 
Há!Há!Há! Genial, esse cara. Primeiro, receita Cadialina, depois pede desculpas dizendo que a gordinha vive numa favela e que não tem a capacidade de abstrair as coisas, ou seja, que também é burra!
Além disso, o médico não assinou nem carimbou a receita. Ele pode muito bem só ter escrito como brincadeira e ela ter levado o papel consigo já pensando em uma indenização, que, para esse tipo de coisa, não tem ninguém burro; que, para tirar dinheiro de quem trabalha, não tem ninguém analfabeto nesse país.
A moça disse não aceitar as desculpas e que seguirá com o processo contra o médico.
Brasileiro é isso aí. Ouviu o que não queria, que teria que fechar a boca, que não existem milagres para emagrecer, ficou ofendida e agora que arrancar uns trocados do médico. Com a grana que provavelmente receberá, ela poderá encher a geladeira, o freezer e o armário. 
Será que o médico não tinha nenhuma amostra grátis do Cadialina genérico para dar à paciente? Nem que fosse um só, só para a boca, só para começar o tratamento?

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