Vou Votar No Tiririca

Coulrofobia é o nome dado ao medo patológico a palhaços, muitas pessoas o têm. O palhaço causa medo em alguns pelo mesmo motivo do riso desatado em outros, ele é uma caricatura e nada mais fiel a um objeto que sua caricatura.
A caricatura, a boa caricatura, realça e expõe - realça para expor - as imperfeições do indivíduo ou grupo representado, ressalta as asperezas, as arestas, as deformidades, uma boa caricatura passa longe da suavidade pasteurizadora dos photoshops, sejam photoshops de imagem ou de discursos, sempre tão morais e éticos, apenas na fala. Por isso, uma boa caricatura é sempre medonha.
O palhaço é uma caricatura por excelência, a mais fidedigna caricatura do ser humano, também medonha e disforme. A visão do disforme pode gerar duas reações no ser humano, distintas e antagônicas. Aos dados a um humor mais mórbido, o palhaço causa risos, um riso de si mesmo transferido para o palhaço, um riso de quem senta em cima do próprio rabo e diz do rabo alheio; somente uma morbidez de humor faria alguém rir de uma deformidade. Aos afeitos a uma maior racionalidade, a desconforme figura do palhaço causa, no mínimo, certa aversão, que, se escapar do controle, converte-se em fobia.
A política brasileira está com cuolrofobia, a política brasileira está com medo do Tiririca, oito já foram as tentativas de impugnar sua candidatura.
O Tiririca - ingênua ou intencionalmente, não sei - transformou-se na mais perfeita caricatura do político brasileiro. Ele diz que não sabe sobre as atribuições de um deputado (e quais deles sabem?), ele diz que pior do que está não fica (alguém é capaz de contestar?), diz que vai ajudar os necessitados, inclusa sua família (novidade?), convoca ainda as criancinhas a convencerem os pais a votar nele (beijar crianças em frente às câmeras não dá no mesmo?). O Ministro da Cultura o acusa de debochar da democracia; é o palhaço, na visão do ministro, quem debocha da democracia e não os mensaleiros, chefes da Casa Civil ou o próprio presidente Lula e sua candidata, já multados algumas vezes por ilegalidades de campanha.
Não é à toa o medo ao Tiririca. Ele tira o photoshop da classe política; rugas, marcas de acne, cicatrizes, olheiras e pústulas afloram no semblante político brasileiro. Tiririca tirou do porão - e mostra em horário eleitoral - os retratos de Dorian Gray da politicada tupiniquim. O Tiririca é um amálgama de todos os outros candidatos - por isso, grotesco -, é a quintessência da canalhada política.
Meu último voto válido - e aqui confesso ter sido em Fernando Henrique Cardoso - se deu em 1994, anulei todos os outros de lá para cá. Invalidação que repetirei nesse pleito, com uma exceção : votarei em Tiririca, nº 2222. Pela graça que acho nele como comediante e pelo medo que ele vem incutindo naqueles a quem mais temo, os políticos.
Votarei no Tiririca!
E você, abestado, votará em quem?

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