Todo Castigo Pra Corno é Pouco (34)

Até o início desse ano, nunca havia antes sequer manuseado um celular. Tenho certa repulsa à tal estrovenga. Certo asco da cara apalermada de quem passa horas e horas fixo à sua tela. Então, a desgraça do ex-governador Doria Calcinha Apertada, entre as tantas canalhices que aprontou para cima do professor, tirou-nos o clássico Diário de Classe, o de papel. O livro em que registrávamos as frequências, as atividades e as notas dos apedeutas. 
Somos obrigados, hoje, a usarmos uma porca e mal-acabada versão digital dele na plataforma da Secretaria de Educação Digital, a famigerada SED. Que inclusão digital no cu dos outros é refresco. Além de muito mal elaborada, o seu uso é um verdadeiro suplício. 
Quando não é a internet da escola que está capenga, é a plataforma que está com sobrecarga de usuários e trava. Em outras vezes, o registro da frequência não é salvo e temos que repetir a chamada. Noutras ainda, as notas desaparecem. Uma desgraça. 
Com o bom e velho papel, não havia erro. Papel não precisa conectar à rede, não fica sem bateria, não sobrecarrega o sistema, não dá bug, registrou, o registro não some "misteriosamente".
Assim, tendo que fazer a chamada online, fui obrigado a ter um celular. Peguei lá um Samsung da idade da pedra que fora da minha esposa e que estava no fundo de uma gaveta, troquei-lhe a bateria e o uso desde então na escola.
Uma vez no inferno, acatei o velho ditado e coloquei nele coisas de que gosto, pelo menos. Transferi alguns gigas de músicas e as ouço em uma caixinha de som com bluetooth aposentada pelo meu filho; gosto de ouvir música, mais do que assistir à TV ou a filmes. Ouço-as baixo, só para mim, quando limpo a casa, quando vou lavar os banheiros, quando faço a comida e, nos fins de semana, na sacada do apartamento, de madrugada, entornando. 
Passei a usar também a câmera, fotografo coisas pelo meu caminho que julgo interessantes e algumas, inclusive, chego a usar aqui no Marreta.
Aplicativos, fora os que já vieram fábrica e o da SED, instalei mais três.
O Plantnet, que identifica plantas a partir de fotos tiradas na hora ou já pré-existentes na galeria. Fornece os nomes científicos, os populares, as áreas de maior ocorrência da planta etc. Muito bom e útil para quem gosta de plantas e de saber-lhes os nomes.
O Accupedo, um contador de passos e de quilômetros, que uso para medir a distância percorrida em minhas andanças, o tempo decorrido, a velocidade média e o número de calorias queimadas.
E o Radionet, que tem endereços de rádios AM e FM do Brasil e do mundo. Podemos pesquisar por gênero, pelo nome da música, nome do autor, local.
Na sexta-feira, e, enfim, o motivo desta postagem, entrei nas rádios de Brasília, DF, à cata de rádios de MPB - xenófobo musical assumido que sou.
E encontrei uma preciosidade : a Corno FM, o chifre em primeiro lugar.

A rádio é uma verdadeira ode, um verdadeiro altar ao chifre. Toca os clássicos dos cabarés e dos zonões. 
Entre uma música e outra, em alguns momentos, o locutor solta uma frase sobre a galhada, autênticos aforismos do chifre. Por exemplo, "um homem sem chifre é um animal indefeso ".
E, de cara, nem bem eu tinha sintonizado a rádio, um clássico da cornagem sertaneja de raiz.


Solidão

(Milionário e José Rico)

Alguém me falou que você me enganou
Eu não posso acreditar
Eu preciso saber se foi mesmo você
Que mandou me avisar
Eu preciso partir, sei que não vou resistir
Esta solidão do amor para o meu coração
Eu preciso partir, sei que não vou resistir
Esta solidão do amor para o meu coração
Alguém me falou que você me enganou
Eu não posso acreditar
Eu preciso saber se foi mesmo você
Que mandou me avisar
Eu preciso partir, sei que não vou resistir
Esta solidão do amor para o meu coração
Eu preciso partir, sei que não vou resistir
Esta solidão do amor para o meu coração
Amor, eu gostaria saber
Se foi mesmo você que mandou me avisar
Porque se for verdade

Eu preciso partir, sei que não vou resistir

Esta solidão do amor para o meu coração Eu preciso partir, sei que não vou resistir Esta solidão do amor para o meu coração Para o meu coração, para o meu coração Para o meu coração.

Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu solitário MARRETÃO.

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11 Comentários

  1. Vc está fazendo um bom uso do aparelho e isso é ótimo. Acho que preciso de umas férias de celular. Neste ponto, admiro vc. Mas, para mim, quanto mais ferramenta eletrônica em meu trabalho melhor, pois me poupa tempo e me permite até que eu não saia de casa para tarefas funcionais. Gosto de ficar em casa. Para mim, é tão útil que até pago caro em celular. É um investimento. Veja só. Há alguns anos, para penhorar, avaliar e registrar um imóvel (sou de um TRT), eu precisava me deslocar bastante. Imagine um imóvel a 100 km de distância. Hj, avalio com imagens de Google street view, imagens de satélite, régua do Google mapas e fotos q recebo via WhatsApp. Auto pronto, registro no cartório via malote digital. Depois, sendo o caso, envio ao interessado por whatsapp. Me poupo e poupo tb a grana do contribuinte, sem usar veículo oficial. Tb gravo vídeos para o youtube com o aparelho e edito nele mesmo. Adoro tecnologia, mas reconheço que às vezes precisamos lhe dar férias. Desconhecia a música. Abraços.

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    1. Nesse caso que descreveu, de fato vale o investimento, só o que você economiza em viagens já compensa, fora o tempo perdido, o incômodo de ficar fora de casa etc. Mas para o meu trabalho, por exemplo, que tem que ser presencial, o diário digital só atravanca tudo. Assim, tento tirar algum proveito particular dele. Mas tem fins de semana que ele não sai da gaveta, chega a descarregar.
      Abraço.

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  2. Rapaz, você já está mais conectado, menos analógico que eu! Desse jeito, daqui a pouco vai seguir os passos do Gil:
    “Criar meu web site
    Fazer minha home-page
    Com quantos gigabytes
    Se faz uma jangada
    Um barco que veleje”
    (a única coisa que não muda é o gosto musical meio duvidoso)

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    1. Só meio duvidoso? Então, tá tudo certo.
      Rapaz, eu gosto do Tom Jobim e do Reginaldo Rossi; do Clube da Esquina e do Amado Batista, e assim por diante. Não de todo o conjunto da obra dos chamados bregas, mas uma letra ou outra, muitas vezes, me agrada.
      Olha, não sei não, mas todo esse seu preconceito contra o repertório, ou melhor, contra a playlist dos zonões, para ser algo meio atávico, algum trauma antigo, talvez um amor não correspondido de uma das secretárias da noite que você tentou tirar daquele lugar; quiçá, no Lagoinha.

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  3. Erro de avaliação. Na verdade eu estava apenas gozando a sua cara. Já falei que passei a infância ouvindo boleros e músicas "para dançar", pois meus tios eram chegados a um "dois pra lá dois pra cá". Também já disse que tenho um pé na periferia, pois já usei calça de bolso redondo e camisa breguíssima copiada do cantor do "Trio Esperança". Então, de letra escrota eu acho é graça. E para provar que não sou tão elitista assim, sugiro duas músicas que ouvi no rádio e gostei muito: "Emoções" com o Trio Irakitan e "A raposa e as uvas", do Reginaldo Rossi. Depois me dê notícia.

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    1. Rapaz, eu também estou zoando com a sua cara. A Raposa e as Uvas, eu conheço. As Emoções com o Irakitan, é a do Roberto? Procure também Los Castillos, um grupo uruguaio, formado por familiares, que também interpreta boleros, guarânias etc

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    2. Ah, e falando em trios, conhece o Trio Mentol, aí de BH?

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  4. Sim, é a música do Roberto (muito boa!). Você acha fácil no Youtube. Nunca ouvi falar de Los Castillos (vou procurar) e menos ainda do Mentol Trio (mesmo já tendo tomado muito licor de menta). E, para finalizar, uma confissão constrangedora: estou cada vez mais parecido com um tio que ao ouvir o final de uma piada às vezes perguntava "E aí?" Ou como o Sheldon da série The Big Bang que perguntava se o que acabara de ouvir era piada. Tenho andado tão amargo que penso ter perdido a capacidade de perceber a ironia.

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  5. saiu mais um comentário sem identificação, mas já saquei o motivo: estava fazendo uma pesquisa mais púbica que pública e me esqueci de voltar à normalidade. A propósito, gostei das dicas, já transformadas em novo post.

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