Oscar De Melhor Atriz

E porra nenhuma que amanheceu primavera,
O ar daqui não dá suporte às borboletas amarelas
Nem os campos sem útero aos veadinhos pululantes.
Amanheceu a mesma ressaca calculada,
A mesma troca de turno entre o resto de sono nunca dormido
E a sirene da xícara gigante de café.
Amanheceu a mesma barba no rosto já a se encovar,
Barba falha e esparsa
Adubada que é apenas pela preguiça de desbastá-la.
Amanheceu a mesma roupa,
Cansada, mal-humorada, amarrotada feito funcionário público,
Que me veste a contragosto, contrariada,
Negada que vem lhe sendo sua merecida aposentadoria.
Não amanheceu ruas com hálito de lavandas
Nem transpirando rosa-pólen.
Amanheceu a mesma névoa seca, 
Saliva de deserto,
Amanheceu as mesmas flores de betume,
O mesmo olor de chumbo tetraetila
Das avenidas que há muito não se banham.
Não amanheceu passarinhos enamorados tecendo ninhos monogâmicos
Nem abelhas-operárias felizes bebendo néctar em copos de alamanda.
Amanheceu o mesmo fluxo humano,
Barrento, viscoso e coagulado.
E porra nenhuma que amanheceu primavera,
Não existe a estação primavera.
A primavera
- a exemplos da felicidade, do bem que sempre vence o mal e da Angelina Jolie -
É só mais um efeito especial hollywoodiano.

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