O Silêncio Dos Nada Inocentes

Vi ontem as chamadas para o início da sétima temporada da série "House M.D.", em outubro, provavelmente a última. Pelo visto, o foco será o romance entre House e Cuddy, tudo indica que o tom piegas e água-com-acúçar será o eixo da nova temporada, rumo já tomado na sexta temporada, em oposição à atmosfera cáustica, sardônica, asfixiante e corrosiva das temporadas iniciais.
Eu fiquei puto com a "humanização" do personagem na temporada anterior. Mas chega uma hora em que os rebeldes como House têm o direito de capitular, de jogarem a toalha e abandonar o ringue, têm o direito de ceder ao cansaço e parar de brigar contra o mundo, mesmo sob o risco de parecer que foram derrotados, que aderiram à moral comum ou que foram cooptados, certo?
Errado. Por dois básicos motivos.
Caras como Gregory House, e tive a sorte de conhecer dois durante minha vida, não têm o direito de rendição; aos Houses, não é dado o privilégio de abandonar a luta, é sua maldição, seu ônus por serem superiores. Depois, os Houses são altruístas e magnânimos, eles não brigam contra o mundo como pode sugerir uma análise superficial e leviana, eles brigam pelo mundo, em favor do. São grosseiros, petulantes, é fato, porém suas agressões têm caráter educativo, têm por objetivo dar uma sacudida e acordar o mundo de seu estado de burrice e idiotia, seus ataques se prestam a despertar as pessoas de seus torpores, de suas faltas de senso crítico frente à vida. Mas o mundo não quer ser acordado, não quer ser tirado de sua sedação, pensar causa sofrimento e passar a vida sem dor é bem mais desejável.
E é quando percebem que não vale a pena tentar despertar as pessoas, que elas não merecem que se brigue por elas, é que os Houses aparentemente se rendem.
Aparentemente.
É justamente a partir daí que os Houses começam a brigar contra o mundo, é a partir daí que eles começam a se vingar, na sua aparente rendição. Suas armas, o silêncio, a indiferença, o descaso. O rebelde briga contra o mundo ficando quieto, deixando o mundo confortável em sua ignorância, em sua desorganização, em sua falta de método.
Foi isso que Gregory House começou a proceder em sua sexta temporada, deixou de se importar com o alheio, passou a se preocupar consigo próprio. House não capitulou, ele apenas começou a se vingar.
Alguém já disse que as sereias têm uma arma ainda mais terrível que seu canto, o seu silêncio. Igualmente, o silêncio de House se revelará a sua mais terrível arma.
Quem dera eu conseguisse torná-lo minha mais destrutiva arma, também; quem dera eu conseguisse ficar calado.

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