A CETESB Garante

Agosto passado foi o segundo mês mais seco na cidade de São Paulo desde os anos 1940. Além dos evidentes prejuízos à saúde respiratória causados pela baixa taxa de vapor d'água no ar, a falta de chuvas agrava também o problema da poluição nos grandes centros, uma vez que as precipitações "limpam" a atmosfera das mais variadas partículas em suspensão, pondo enxurrada abaixo a poeira, poluentes e até vírus.
Agosto foi o segundo mês mais seco desde 1940. Apesar disso, misteriosamente, os boletins da CETESB sobre a qualidade do ar tranquilizavam a população; segundo esse órgão, a qualidade do ar se manteve dentro dos padrões legais aceitáveis. A questão : dentro dos padrões de quem? Dos padrões da CETESB, bem mais lassos e permissivos que os da Organização Mundial da Sáude (OMS); o índice de poeira, por exemplo, é de 50 microgramas/m para a CETESB, contra os 20 microgramas/m da OMS. Nós, brasileiros, podemos respirar aproximadamente 3 vezes mais detritos que os americanos, os japoneses e os europeus. Será que alguma pesquisa médica feita no Brasil verificou que somos tão mais resistentes assim?
E essa frouxidão nos padrões de tolerância de substâncias tóxicas não se restringe à qualidade do ar. Nossos alimentos podem conter mais conservantes e corantes, nossas radiografias podem nos bombardear com maiores emissões de raios-x que ao indivíduo que teve a sorte de nascer fora desses tristes trópicos. Todas as escalas de toxidade brasileiras toleram números bem superiores aos das escalas internacionais.
Sempre foi assim no Brasil. Os problemas são resolvidos, pura e simplesmente, aumentando-se legalmente o grau de tolerância a eles. Subvertem-se os parâmetros, enlouquecem-se as escalas, desnorteiam-se os referenciais, descalibram-se os instrumentos medidores do problema. E pronto: tudo fica solucionado, tudo fica dentro dos limites permitidos pela lei.
Tal como o sujeito cujo médico começa a lhe impor muitas restrições, parar de beber, de fumar, de comer alimentos gordurosos, começar a realizar exercícios... o sujeito simplesmente troca de médico, o problema é o médico.
Quero crer que os referenciais adotados pela OMS sejam estabelecidos com base em pareceres técnicos e científicos das diversas áreas afins, médica, química, metereológica etc. E os referenciais da CETESB, tão discrepantes dos internacionais? Vai ver são fundamentados em pareceres dos industriais, cujos exorbitantes lucros poderiam, talvez, ser levemente corroídos pela obrigatoriedade da instalação de equipamentos antipoluição mais modernos. Vai ver os referenciais Cetesbianos se fundamentam na politicagem, nos lobbys e nos dólares e euros dos usineiros de cana-de-acúcar, que, apesar da proibição legal, continuam incendiando o estado de SP e enchendo o ar de fuligem cancerígena.
O pior é que esse truque, essa canalhice de "alargar" as escalas de referência, é utilizido em todos os âmbitos da administração pública, inclusive, e sobretudo hoje, na Educação, mas digo disso em uma próxima postagem.
Se você sente dificuldades para respirar, nariz, olhos e garganta arderem, tem acessos de tosse, asma ou bronquite, procure um psicólogo, deve ser coisa da sua cabeça.
O ar está prenhe de qualidade, garante a CETESB.

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