Uma Ode à Pretinha

Vendo-te assim
Ainda tão ágil
E serelepe
A andares aristogata pela casa,
A saltares sobre o sofá,
Sobre a mesa quando estou a escrever,
A ficares a me observar feito estátua egípcia,
A me acordar quando durmo além do nascer do sol
E da algazarra dos pardais,
Quando bato o ponto atrasado da tua ração,
A miares a me pedir rebarbas
Quando estou a limpar frango, peixes e acéns,
A mijares fora da caixa de areia
Quando a TPM te ataca,
A dormires e a ronronares
Na minha cabeça,
No meu travesseiro,
Teus pelos embaraçados ao meu cabelo
E à minha barba,
É difícil imaginar
- e mais ainda crer -
Que a vida,
O pior dos patrões,
Depois de 15 anos
De total dedicação
E inestimáveis afetos prestados,
Deste-te aviso prévio.
Revoltante crer
Que a Morte está a te comeres por dentro,
A instalar minas tumorais no teu fígado.
Logo em ti,
Que tantas madrugadas passaste em meu colo
A vermos constelações e a ouvirmos estrelas,
A escutares comigo Chico, Raul, Oswaldo, Baleiro, Rô Rô, Cazuza, Legião, Ira, Lobão, Belchior, Taiguara
Com a sobriedade de uma coruja.
Logo em ti,
Que nunca deste
Sequer uma lambida
Na cerveja que sempre te ofereci.

(deixarás órfãos a tua irmã e o Raul)

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4 Comentários

  1. Triste Marreta!! Me identifico pois tenho dois gatos. Eles são novos, mas cuido bem deles com medo de doenças e coisas futuras e, apesar do trabalho, me dão muita felicidade nas coisas simples. Sua gata já está com 15 anos, uma idade elevada para gatos, a famosa "melhor idade" e aposto que te deu muita felicidade, como você cita. Hora ou outra algo acontece e precisamos estar cientes disso, mesmo que seja triste.
    Os animais, os que já tive e os que estou cuidando agora, muito me ensinam sobre a brevidade da vida. Eles vão primeiro para nos lembrar que, independente do que façamos, uma hora ou outra, nós também iremos.
    Abraços!!

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    1. Ela teve câncer nas mamas há cerca de dois anos, operou, fez a retirada de todas, mas agora voltou e já atingiu o fígado. Ela não está sentindo dor, pelo menos, continua como se tudo estivesse normal, se alimentando bem e tudo. A veterinária falou que até é possível operar, tirar a parte afetada etc, mas pela idade dela, há um risco muito grande dela não resistir a cirurgia.
      Agora é questão de tempo - não se sabe exatamente quanto -, mais alguns meses, talvez pouco mais de um ano.
      O mais difícil será a outra gata, a irmã dela. Ela fica o tempo todo atrás da Pretinha, onde ela está a Cleonice vai lá, lambe ela e se aninha, feito mesmo na foto. Um dia, a Pretinha sairá de casa e não mais voltará. Vai saber o que a Cleonice vai ficar pensando, ou sentindo quando a irmã não mais voltar para ela se aconchegar.

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    2. Marreta, talvez seja o caso de arrumar outro gato para ela conviver e já ir se acostumando. Os gatos parecem gostar muito de comapanhia, contrário ao que muitos dizem por aí. Um outro gatinho talvez supra esse vazio que, eventualmente, virá.
      Abraços!!

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    3. Sim, se fosse o contrário, seria mais fácil, a Pretinha aceita bem melhor outro animal diferente, a Cleonice, não. Para você ter uma ideia, quando a Pretinha fez a retirada das mamas, não sei se ela ficou com algum cheiro diferente ou qualquer outra coisa, demorou uns dois dias para a Cleonice aceitar a irmã de novo. A Preta passava perto e a outra rosnava, arrepiava os pelos.
      Mas vamos ver.

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