Cerveja-Feira (58)

O filme dinamarquês Druk (que, no Brasil, ganhou o subtítulo de "Mais uma rodada" e que, se tivesse ficado ao meu encargo, eu teria posto "Mais uma dose? É claro que eu tô afim) foi agraciado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2021 e exaustivamente aclamado por público e crítica.
Deu-me um tanto de trabalho e levou um certo tempo para que conseguisse baixá-lo da internet com uma qualidade de vídeo razoável e encontrar e ajustar boas legendas em português para ele.
Tempo perdido. Assisti. E achei uma merda.
A premissa do filme se baseia num comentário - e não em uma pesquisa, como correu à época de seu lançamento - do psiquiatra norueguês Finn Skarderud na abertura de um de seus livros e onde ele diz que a vida lhe parece melhor depois de dois ou três copos de vinho, que lhe parecia que o ser humano havia  nascido com um déficit de álcool no sangue. Que lhe parecia.
Até aí, nada de novo sob o sol. Humphrey Bogart, macho noir das antigas, vivia a dizer que "a humanidade está sempre duas doses abaixo do normal". E tomava as tais doses logo ao acordar, para dar uma calibrada, para se equalizar ao seu entorno.
No capítulo seguinte, no entanto, o psiquiatra desmente sua impressão, deixa claro que é uma sensação, sem dados concretos que a comprovem. Acontece que o bebum só lê a parte da notícia que lhe interessa.
Assim, quatro professores dinamarqueses de meia-idade, desanimados com o magistério, com o desinteresse das novas gerações, deprimidos e desconsolados pelos rumos que tomaram suas vidas e sua profissão (professores dinamarqueses desanimados? Sabem de nada, esses inocentes nórdicos), resolvem fazer um experimento no qual serão as próprias cobaias, resolvem testar a "teoria" de Skarderud, de que nascemos com o tanque vazio de álcool.
Antes de pegarem no batente, ainda em suas casas, escondidos das esposas, é claro, passam a entornar duas ou três doses de birita, para atingirem o 0,5g de álcool por litro de sangue "preconizado" pelo psiquiatra.
De início, o experimento é um sucesso, as coisas correm às mil maravilhas. O quarteto etílico passa a entrar animadíssimo para as suas respectivas salas. Aumentam a motivação de suas aulas e o interesse dos alunos. Porém, quando tudo corria bem, o filme caga na retranca e descamba para o moralismo fajuto.
Eufóricos com os resultados de suas "pesquisas", os quatro começam, gradativamente, a aumentar o número de doses laborais ingeridas, a fazerem subir mais e mais os seus níveis alcoólicos e, claro, acabam por ser descobertos. E mais não conto. Quem quiser saber o resto que perca também o seu tempo, como eu perdi o meu.
Moralismo fajuto, sim. Na prática, na vida real, os professores poderiam, facilmente, ter mantido suas duas ou três doses matinais, continuado a usufruírem de seus benefícios, e nunca terem sido pegos. Como quem toma um ansiolítico ou um antidepressivo antes de encarar a plebe ignara e ninguém fica sabendo, a não ser que a pessoa conte. Sei do que falo. Nos dois casos.
Talvez inspirado pelo filme Druk, o indiano Shailendra Singh Gautam, professor em uma escola de Hathras (Uttar Pradesh, Índia), foi além da experiência dos bebuns dinamarqueses : passou a entornar un bons latões de cerveja em sala de aula!
Valham-me Santa Krishna e São Ganesh!!!
A bebedeira docente, não se sabe se por um funcionário ou se por um aluno, foi gravada e agora o mestre está afastado e responderá a um inquérito do Departamento de Educação. A qualidade das imagens são sofríveis e, mais ainda, as fotos capturadas delas, mas é possível ver na tirinha abaixo, da esquerda para a direita (que é a única boa direção a ser seguida), primeiro, um latão já aberto embaixo da mesa do professor, segundo, o professor tentando esconder um latão ainda intacto nas costas ao perceber que fora flagrado, e terceiro, o professor com a maior cara de pau a olhar para a câmera, como se nada tivesse acontecido.
Pela coragem, ousadia e por querer dar uma aula diferente e inovadora, o prêmio Cerveja-Feira desta semana vai para ele, o mestre Shailendra Singh Gautam.
Eu tentei descobrir que cerveja é essa que ele estava entornando. Deve ser alguma boa e barata da Índia, pois se professor já ganha mal por aqui, imagine, então, na terra de Gandhi, da espiritualidade, do desapego ao material. Mas minha pesquisa não rendeu frutos. Tentei várias referências no Google : "cervejas indianas", "cervejas fabricadas na Índia", "beer made in Indian" etc. Mas o Google, burro que só ele, ficou a me mostrar apenas cervejas do tipo Indian Pale Ale (IPA), de todas as nacionalidades, menos indianas.
Se alguém conseguir identificar, mande o link aqui pro Marreta. Que, quando eu for à Índia, o que só ocorrerá se, na próxima vida, eu reencarnar como um rato sagrado, procurarei experimentá-la.

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2 Comentários

  1. Salve, Azarão. Antes de tudo, congratulações antecipadas pelo dia dedicado ao seu ofício (15/10). Orbito a área e sei dos muitos problemas que atingem os trabalhadores do ramo; os maus e infelizmente, os bons. Como já disse aqui em outra oportunidade, sinto que o sr é até um professor para mim, que nao tive nos tempos de escola e juventude.

    Agora sem babação de ovo:

    Acionei alguns contatos na CSI e chegamos a uma cerveja produzida naquela regiao (Índia) que a lata tem uma aparencia próxima à da imagem muito desfocada da matéria.

    https://www.weareanimal.co/budweiser-magnum

    No final da pagina indicada no link, é informado que um dos escritórios (ou plantas) da referida marca situa-se em Nova Delhi.

    Aquele abraço, Mestre. E bom fim de semana.

    Cássio - Recife/PE.

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    1. Valeu pelo cumprimento e pelo link da cerveja. Vou verificar.
      Aliás, essa tal de Budweiser é outra que é muito bajulada, mas é propaganda pura. Tomei uma única vez e achei mais aguada que a subzero. Não sei onde ela justifica o preço que é cobrado. O pessoal "entendido" em cerveja mete o pau nas cervejas "normais" brasileiras por elas terem metade de cereal não maltado, no caso o milho, em sua composição. Essa tal budweiser tem arroz. Se ela fosse o mesmo preço de uma subzero, de uma antarctica boa etc, eu tomaria, mas não dou um tostão além disso por ela.
      Abraços e bom fim de semana pra vocês aí também.
      P.S> : e rapaz, vamos parar com essa coisa de senhor; considero-o um amigo.

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