Um Dia é da Bosta, o Outro é da Geni

Toda religião monoteísta é tirânica, inflexível e intolerante. Não há como ser de outra maneira : a ideia de um deus único acaba, irrevogavelmente, por desembocar na concepção e no entendimento de uma única visão de mundo, de uma única explicação para o Universo, na aceitação de uma única verdade e mesmo, e sobretudo, de um único modelo de conduta e de comportamento, o supostamente ditado por deus.
Ditado por deus a certos esquizofrênicos intitulados de profetas e grafado na Carta Magna mais antidemocrática do planeta : a Bíblia. A Bíblia é uma Constituição composta apenas por decretos-lei do Todo-Poderoso. Nenhum versículo ali passou por votação no Senado dos arcanjos ou na Câmara dos querubins. A Bíblia é feita de atos institucionais.
A Bíblia é o AI-5 da liberdade de atos e de pensamentos.
A se aceitar os ditames da Bíblia como o único caminho para a virtude, é criado o maniqueísmo mais filho da puta de mundo, tudo o que  se desviar, muito ou pouco, das hipócritas linhas do livro santo, é taxado de pecado, perversão, corrupção moral.
Se alguém resolve pautar sua vida por uma diferente verdade, por um diferente código de comportamento, ainda que não cause nenhum mal ou prejuízo a outrem, a Bíblia se torna em munição pesada contra o sujeito, um armamento de precisão nas mãos dos atiradores de elite do Senhor, dos God's Snipers - padres, pastores e outros assemelhados.
O alvo preferencial da Bíblia sempre foi a mulher - hoje em dia, a mira foi um pouco desviada em direção ao rabo dos homossexuais, mas com esses, apesar de ser taxativamente contra e carrasca sumária, a Bíblia não gasta muitas de suas linhas, é mais um recalque de padres e pastores, mesmo.
A mulher é a campeã de citações quando o assunto é pecados e devassidões, é o Satã de tetas e de buceta. Nenhum comportamento é mais cerceado, proibido e condenado pela Bíblia que o da mulher. Aliás, eu não entendo como as mulheres, as ditas independentes, donas de seus narizes e de suas xavascas, dessas que veem machismo em comercial de lingerie e de cerveja, dessas que não admitem que o marido sequer lhes levante a voz (e não têm que admitir, mesmo), podem rezar por uma cartilha feito a Bíblia. Nada é mais porco chauvinista que a Bíblia.
Pelo que diz a Bíblia, a mulher bem vista aos olhos de deus é aquela que é um modelo de submissão e subserviência, uma escrava do marido, a matrona gorda, com uns 12 filhos na barra de sua saia, sem nenhum atrativo sexual, muito menos sexualidade, que é para não incitar o homem à tentação, a que obedece e segue o marido feito cachorro de mendigo. Quaisquer laivos de independência e de personalidade própria é tomado como insubmissão, como amotinamento. Ela é mandada à Corte Marcial do Céu, julgada uma devassa, uma libertina, e execrada perante os seus, sua humilhação é tornada pública, a servir de exemplo para as outras. Ela é transformada na Geni da música do Chico, e bosta é o que não falta para lhe ser jogada, cuzões é o que não faltam para fornecer munição.
Foi o que se deu com M.S.R, uma dona de casa de 47 anos e mãe solteira residente em Lucas do Rio Verde (MT). Há tempos, ela vinha sendo transformada em Geni pelo pastor da igreja que frequenta, ou que frequentava depois do ocorrido. Em suas pregações, de forma comum e recorrente, o pastor depreciava as mulheres sem marido, expondo-a ao desprezo dos outros fiéis, sendo que chegou a ouvir de alguns que estava pecando por ser mãe solteira.
Mas, diferente da Geni do Chico, essa Geni resolveu revidar, cansou-se, sabiamente, de dar a outra face. O dia da Geni se deu no primeiro dia do ano de 2016, durante um Culto de Ano Novo. M.S.R levantou-se e jogou um belo baldo de bosta e de urina nos pastores presentes e em alguns fiéis. Embosteou todo mundo. É a vingança da Geni. Genial. Ou, Geni-al?
M.S.R. foi detida, levada à Polícia Civil e teve seu depoimento tomado pelo delegado Walter de Melo Fonseca.
“Ela disse que estava sofrendo com essa situação e até entrou em depressão. Disse que tinha um tratamento diferente em relação às outras pessoas pelo fato de não ter um marido. Para ela, o tratamento era inadequado e trazia transtornos. Ela confessou que começou a fazer esse 'caldo' com fezes e urina em casa, dentro de um balde. Depois, decidiu participar da cerimônia, onde as pessoas oravam durante o culto de Ano Novo. Em um determinado momento ela retirou esse balde durante o culto e jogou contra o pastor e em outras pessoas”, relatou o delegado.
O delegado acredita, ainda, que M.S.R sofra de algum transtorno mental, o que explicaria o banho de bosta que deu nos crentes dos cus quentes. Quer dizer que só transtorno mental explica uma pessoa reagir e atacar seus detratores, só transtorno mental justifica alguém pagar na mesma moeda o tratamento que lhe é dado? Pois, para mim, isso é uma demonstração cabal de lucidez, de coerência. E ainda que a mulher esteja mentalmente transtornada, quanto desse desequilíbrio, se não todo ele, não foi causado pelas pregações do pastor e pelas atitudes dos fiéis? 
M.S.R foi liberada pela polícia após assinar um TCO - Termo Circunstanciado de Ocorrência -, no qual se compromete a não mais jogar bosta nos pastores. E responderá em liberdade pelo crime de ultraje religioso. E o porra do pastor? Responderá pela humilhação causada à mulher? Pela incitação da população da pequena cidade contra ela? Pelo dano emocional infligido a ela e, possivelmente, ao filho que cria sozinha? A quem o pastor responderá? A Deus? Então, ele tá tranquilo. Tá previamente absolvido.
A Geni tá certa! Bosta nos pastores! Bosta é o merecido dízimo de todos os sacerdotes, de todas as religiões e denominações. Bosta nos crentes dos tobas quentes, hipócritas e falsos moralistas do caralho! Bosta em Deus e em todas as religiões! Só não joguemos bosta na Bíblia : reservemos as suas páginas para limpar nossos cus!

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3 Comentários

  1. Mesmo que eu discorde de algumas coisas que disse (afinal, sou católico), mandou muito bem neste texto. Estranha é a lei que prevê ultraje religioso. Isso existe mesmo? Mais estranha é a atitude do delegado. Deveria tê-la orientado a fazer uma representação contra a igreja, por assédio moral.

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    1. A cidade tem 50 e poucos mil habitantes, eu já morei em cidades desse porte e,nelas, as igrejas tem uma forma gigantesca. Vai ver o delegado não quis arrumar sarna pra se coçar, ou é amigo do pastor, sei lá.
      Aposto que o que mais gostou foi do Geni-al.

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