O Báculo de Adão

Qual é a maior angústia existencial do homem? O vazio do Ser, a transitoriedade da vida, o medo do desconhecido, a impotência frente à inevitabilidade da Morte?
Porra nenhuma! Que tudo isso é frescura, é melindre e falta de serviço de bichonas e filósofos. O macho humano de respeito não se deixa abater nem perde o sono ou o apetite por conta de transcendências ou de metafísicas. O macho de respeito não se sente impotente frente à inevitável das gentes. Se sente impotente frente à impotência, isso sim.
O maior cagaço e aflição do macho humano é o fantasma da paumolescência. É a incerteza e a imprevisibilidade da ereção do próprio pau. O pau humano é órgão dos mais canalhas, dos menos confiáveis. É um rebelde. A ovelha negra da família. Está ligado anatomicamente ao corpo, mas não obedece às ordens diretas do cérebro. Tem personalidade e vontade próprias. Pensa e se pauta por sua própria cabeça. É um ser independente. Um simbionte, que se manifesta ou não quando bem lhe apraz.
Ele tanto pode se tornar um rochedo de Gibraltar, um tarugo do mais puro aço, nas situações mais inesperadas e desestimulantes, como, por exemplo, durante uma reunião pedagógica ou assistindo ao programa da Ana Maria Braga (meu amigo Margá diz que sempre fica de pau duro quando vai ao urologista, mas isso é lá coisa dele), como pode também, às vezes, se fazer de morto, quedar-se em massa amorfa nas situações mais excitantes e afrodisíacas, e, nesses casos, não ressuscita nem com uma respiração boca a boca de uma peituda, não recarrega a bateria nem com uma vigorosa chupeta.
Então, o macho adulto passa a vida toda fazendo de tudo para garantir suas honra e dignidade, para não ser vítima de quem deveria ser seu maior aliado, para não tombar frente a (falta de) fogo amigo. O cara toma catuaba, ginseng, pó de guaraná, ovo de codorna, viagra, para de beber, para de fumar, pensa na vizinha gostosa etc. Toda estratégia é válida. E cansativa também.
O macho gasta uma energia valiosa em pensar em como não broxar, uma energia que poderia ser muito mais bem aplicada na trepada em si. E, mesmo depois de duro, nada garante que o pau vai levar a missão a cabo e ao fim. O pau tem Transtorno de Déficit de Atenção, qualquer coisa desconcentra o desgraçado. Um telefone que toca, uma campainha, uma buzina na rua, uma porta que bate com o vento, e ele já fica de cabeça baixa.
E se a Natureza nos tivesse sido mais generosa, mais Mãe Natureza mesmo, e não Madrasta? E se saíssemos já de fábrica com algum dispositivo antibroxada, alguma trava de segurança contra a paumolescência?
Pois saiba, para seu maior desconsolo, amigo broxa, que a maioria dos animais vêm equipados com um infalível mecanismo antipaumolescência, quase todos os mamíferos o possuem, inclusive os primatas, nossos primos mais próximos. Todos saem da linha de montagem da Natureza à prova de broxada. Exijamos, pois, um recall da Mãe Natureza.
Um gorila, meu amigo broxa, um chimpanzé, um orangotango, um babuíno, mesmo um reles sagui, nunca broxaram na vida, e nunca nem vão broxar. Eles tem um osso dentro do pau. Isso mesmo, meu caído amigo. Um osso no caralho. Já imaginou que maravilha? Um osso dando sustentação eterna e sempiterna ao cacete? E se a idade o fragilizasse com tirana osteosporose, também seria fácil, bastaria trocar o osso por uma prótese de titânio. Ficaria melhor ainda. Um pau biônico. Um osso no pau seria mais que uma mão na roda. Seria um superpoder. Dava até para ser aceito nos X-Men. O Príapo Men.
É o báculo, do latim bacullum, que significa bastão ou bengala, e que é também chamado de osso-do-pênis, ou ainda de pêmur. Cães, lobos e companhia têm báculo. Gatos e demais felinos têm báculo (agora entendo como o leão, no período de cio das fêmeas, chega a copular mais de 50 vezes num único dia, uma a cada 15 minutos; com um osso no pau, até eu, rei das selvas). Ratos têm báculo. Morsas, focas, leões-marinhos têm báculo. Golfinhos têm báculo. Até a porra do guaxinim têm báculo.
E por que não nós, machos humanos? Por que dentro de nossa ordem zoológica, a dos primatas, somos os únicos macacos de pau mole? Alguma adaptação? Trilhamos por um caminho evolutivo diferente também no quesito sexo?
Evolução é a puta que o pariu! Não culpemos a sábia Evolução por nosso infausto. Mesmo porque a Evolução sempre acontece no sentido de melhoria da espécie, de aprimoramento. Para que uma nova característica se incorpore e permaneça na espécie, ela tem que conferir uma vantagem ao grupo. Que merda de vantagem um pau mole, um peru desossado pode trazer? Nenhuma.
A resposta existe, mas não está nos compêndios de Darwin. A resposta para essa desgraça que se abateu sobre nossa espécie está Bíblia, livro que, aliás, é uma verdadeira coleção, uma enciclopédia de desgraças. A resposta está na Bíblia, meu amigo broxa, e ela é, nesse caso, devo dar meu braço ateu a torcer, esclarecedora e precisa. Irrefutável.
Nós também já tivemos báculo. Ao menos, Adão, o primeiro de nós, teve báculo. Ao  menos, durante parte de sua vida. A perda do sagrado osso foi culpa da Eva. A culpa por nosso pau mole e borrachudo é da Eva. Sim, ela, a mesma Eva da serpente, a da maçã, a biscate que nos levou à expulsão do paraíso, onde, se não fosse o fogo que ela tinha no cu, ainda poderíamos estar até hoje, no bem bom, com a natureza a tudo nos prover, sem precisarmos trabalhar, sem preocupações. Culpa da vaca da Eva, o nosso pau mole. E explico. Aliás, apenas repito a explicação do teólogo Ziony Zevit, estudioso da Bíblia e professor da Universidade Judaico-Americana de Maryland, nos Estados Unidos. É ele quem nos explica o porquê de sermos os únicos primatas sem um osso no pau.
Pensemos. A resposta esteve na nossa cara o tempo todo. Homens e mulheres têm o mesmo número de costelas, 12 pares. Ora porra, não era para que nós, homens, tivéssemos uma a menos, tivéssemos um de nossos pares capengas? Não foi, pois, da subtração de uma das costelas de Adão que Deus engendrou Eva? Quem teria nos devolvido a nossa costela feita em mulher? As respostas são : não, não foi da costela de Adão que Deus fez Eva. E não, ninguém nos restaurou a costela perdida, pois ela nunca nos foi extirpada.
O osso usado na confecção de Eva foi outro, garante Ziony Zevit. A história da costela surgiu por mais um dos inúmeros erros de tradução da Bíblia, vertida milhares e milhares de vezes de seu idioma original. Mais um erro de tradução sedimentado em verdade absoluta, que é o que a Bíblia é, uma sucessão de logros, enganos e embustes.
Segundo Ziony Zevit, a palavra "tsela", do grego antigo, não significa costela, palavra pela qual foi traduzida. "Tsela” é um “termo não específico geral” que, no caso, se refere a um “eixo vertical de um humano ereto: mão ou pé ou ainda pênis”. Sim, meu amigo broxa, você acaba de decifrar a charada. Eva foi feita a partir do osso do pau do Adão. Eva é o báculo de Adão feito em buceta. E o motivo de nosso pau mole.
E até imagino o motivo da escolha de Deus pelo báculo. Sacanagem pura. Filha da putice. Vingança. Adão vivia lá, tranquilão no Paraíso, em harmonia e idílio com a natureza, com tudo à sua disposição, mas não tinha uma companhia, via os outros animais na maior furunfa e ele, nada. Deus talvez tivesse outros planos para Adão, que não a vida puramente carnal. Mas Adão não quis nem saber dos desígnios de Deus, começou a encher o saco do Todo-Poderoso, queria uma mulherzinha de qualquer jeito, e tanto perturbou a infinita paciência do Velho Safado que conseguiu o que queria. Sabemos, porém, que Deus é um sujeito intransigente, mau-humorado, casca grossa até a medula. Não tolera questionamentos de seus atos, muito menos insubordinações. E é vingativo pra cacete. Deus deu, então, uma mulher a Adão, mas às custas de seu báculo, do osso do seu pau. Adão ganhou uma mulher, mas perdeu o pau duro. Ironia da mais fina. Bem coisa de Deus, mesmo.
Por isso, mulherada, não reclamem quando seu companheiro der aquela eventual broxada; antes pelo contrário, o agradeçam pelo pau mole, pois é graças a ele, àquela coisa inútil e sem vida, que vocês existem. Esclarecido também o mito da cara metade, da alma gêmea. O homem, desde os primórdios, sente que algo lhe falta, mas não é pela sua cara metade que ele busca, não é pela sua alma gêmea que tanto anseia, que isso de alma etc, como dito no início do texto, é coisa de boiolas e de filósofos. O que o homem tanto busca, em cada uma das mulheres com quem já esteve, é nada mais nada menos que o seu báculo perdido, o seu pau duro. Que isso é o que há de mais caro ao homem.
Imagino, você agora, meu amigo broxa, recém-empossado dessa inestimável informação, pensando com os seus botões : tanto osso, Deus, tanto osso inútil, a clavícula, a omoplata, o rádio e a ulna, o fêmur, a coluna vertebral, Deus, para que serve a porra da coluna vertebral, Senhor, e foste usar logo o osso do pau?
Pãããããta que o pariu!!!
Taí o Adão, com seu pintinho rídiculo, a comer uma maçã com a Eva. Pudera. Sem o báculo, o que mais ele poderia comer? Mais fácil a serpente, à espreita no galho, se enfiar no cu do Adão.

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