Só os Inimigos Trazem Flores

Quando tudo acaba
Se vê que não foi tão ruim desse jeito
Nota que não se viveu tantos horrores
Que poderia se ter reparado algum defeito
Que poderiam ter sido evitadas algumas dores.
Mas agora é tarde demais
Agora é quando tudo acaba
Tarde para voltar atrás
Vão te jogar na terra molhada
Te enterrar no solo fofo
Vais apodrecer
Cheirar a mofo.
Nada vale o quanto te fizeram acreditar que eras querido
Ou quantos amores tenhas tido
(Se é que se é possível ter algum)
Serás imediatamente esquecido
Nada mais que um elo perdido.
Quando tudo acaba
É sublimada a noção dos valores
Esvai-se o dom das cores
E não importa quantos amigos tenhas feito
Não importa que te devam favores :
Quando tudo acaba
Só os inimigos trazem flores.

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8 Comentários

  1. Respostas
    1. Que bom que tenha gostado. Pensei muito para colocá-la aqui. Essa foi uma das primeiras coisas que escrevi quando me meti a escrever poesia, poema ou como quer que se chame o que faço. Foi em 1989 e eu contava com meus tenros 22 anos. Acredito que ela tenha alguns erros em relação à colocação pronominal,que até pensei em corrigir, mas optei por não mexer em uma única vírgula. Nessa época, acredito, eu escrevia tecnicamente pior do que hoje, mas as ideias fervilhavam, o ânimo jorrava, caro Jotabê. Considero que a força, a ideia, vençam a forma; assim deixei-o nu e cru, como concebido originalmente.

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    2. É interessante você dizer que optou "por não mexer..." Eu tenho essa mania também em relação a textos antigos (embora às vezes revise um texto novo umas cinco depois de publicá-lo). Mas creio que a inspiração é, como disse o Chico Buarque, "uma dádiva da juventude". Não é o seu caso, pois está sempre afiado, mas penso que, sem perceber, trilhamos às vezes o mesmo caminho (ou um muito semelhante). Isso eu percebo com mais clareza em compositores. O Jorge Ben(jor) é o exemplo mais acabado disso. VOcê diz que !escrevia tecnicamente pior do que hoje". Pior sou eu, que escrevo tecnicamente mal o tempo todo. Acho que sou o campeão mundial das vírgulas, pois escrevo como quem está em transe. Se eu parar para respirar ou se ficar pensando um pouco, a vírgula logo é colocada. Ponto e vírgula, então, é foda. Apanho o tempo todo. Mas é isso.

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    3. Os textos novos, também reviso várias vezes. Acho que já comentei com você o meu "método". Primeiro escrevo à mão em meus inseparáveis caderninhos, risco, rabisco, rasuro; depois, vou digitá-los no blog (antes do blog os passava a limpo)e, por fim, antes de mandá-lo para a rede, leio-os atentamente à procura de erros, de digitação, concordância etc.
      Acho que ficamos muito tempo burilando os novos justamente por falta de ideias que nos surjam a todo momento, ficamos brincando com uma ideia porque elas nos são cada vez mais raras e infinitamente menos originais, ficamos lambendo cada cria nossa porque já não somos tão férteis. Ponto e vírgula é foda mesmo.

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  2. Está com 49, marreta?
    É, as idéias ferviam na cabeça, hoje só a base de muita cachaça para as idéias fluirem. A vida é ingrata, marreta. E a caneta, ainda escreve? Haja viagra, meu caro.

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    1. Nossa!!! Estou espantado!!! Você conseguiu acertar a conta da minha idade. Usou a calculadora do celular, né?
      Sim, a caneta ainda escreve, e escreverá sempre. Mas claro que cada época tem o seu combustível.

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    2. Errou, usei mesmo foi o meu cérebro.
      Admitiu que tomas umas para ter inspiração.
      É a vida que segue, não tem como escapar da velhice, não.

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    3. Tem, sim : morrer jovem!
      Com 26, 27 anos, talvez. Acertei?

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