Palavras Cruzadas. E Desencontradas.

As ideias
Continuam a vir,
Mariposas e aleluias
A circundar a tremeluzente
Luz da minha cabeça.
Mas a mão,
Ao invés de capturá-las,
Pegá-las no visgo de tinta azul de caneta bic,
Desacordá-las em clorofórmio,
Espetá-las com alfinetes
E exibi-las em minhas paredes desbotadas,
Deu para afugentá-las, 
Para enxotá-las.

As ideias continuam a vir
- poemas, contos, crônicas, enredos pra punheta -,
Continuam a me seguir
Em minhas caminhadas.
Como cachorros de rua,
Sarnentos, pulguentos, fedorentos
Sem donos e vadios.
Mas não lhes faço mais cafunés 
Nem festinha em seus queixos
Nem mais as adoto
Não as levo para casa
Nem lhes dou banho e ração.
Bato o pé, 
Espanto-as.
Ou ando, ando, ando...
Até que desistam de mim
E procurem por outro.

As palavras,
Crianças perdidas e ófãs,
Continuam a me assediar por esmolas.
E o máximo que consigo 
- pena descontente -
É completar livros de palavras cruzadas.

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3 Comentários

  1. Não vá dizer que vai começar a comprar livros de colorir rsrs
    "J"

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  2. Cães não procuram outros donos, só procuram por eles em todos por aí, só esperam que um dia eles voltem. Cães são leais. E o texto ficou muito bom. "J"

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  3. Gostei muito.
    Só a título de curiosidade: antes de começar a ler, achei que o título remeteria à "esgrima" de palavras trocadas em correspondências ou mensagens.

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