Roger Moreira é Genial

Escrevi aqui no blog, em março de 2012, uma postagem intitulada Da Inteligência e de seus Usos (Ou : o Paradigma de Roger Moreira), na qual, contrariando o espírito do Marreta, eu elogio pra caralho o vocalista do Ultraje a Rigor, dono de um dos maiores QIs do país, talvez do mundo, 172.  Já ouvi muita gente questionar e duvidar dessa genialidade toda do Roger : o cara tem um puta QI, dizem, e fica sempre na mesma coisa, sempre fazendo aquelas musiquinhas leves e descompromissadas? Por que não faz algo mais sério, mais "útil"?
Útil para quem, cara-pálida?
Na postagem, resumidamente, digo que não é porque o cara é um gênio que ele é obrigado a realizar grandes feitos, a colocar seus neurônios para trabalhar em prol da humanidade, em favor dos burros. O cara pode muito bem ser um gênio e, se quiser, não fazer porra nenhuma com isso. Pode usar de seu potencial só para satisfazer suas necessidades pessoais. O gênio nada deve aos menos dotados intelectualmente.
A postagem trouxe-me a surpresa e a honra de um comentário do próprio Roger, que disse : "Cara, sensacional. Matou a pau. Nunca vi alguém me entender tão bem nesse respeito. Parabéns!" 
Roger colocou o link da postagem no blog do Ultraje, o que rendeu ao meu modesto blog um número gigante de acessos, um dos maiores que já tive.
Agora, numa entrevista ao jornalista Morris Kachani, Roger mostra mais uma vez que não é só um cara engraçadinho, mostra que pensa e pensa pra caralho. E sabe o que mais me deixa contente? Que ele pensa, sobre a maioria das questões que lhe foram feitas, exatamente igual a mim.
Entre outras coisas, Roger diz que nós não saímos da ditadura. E tá perfeito. Vivemos uma ditadura muito pior. Uma ditadura em que o inimigo se faz passar por bonzinho, por salvador da pátria. Diz também que muitos de seus valores são de direita, por exemplo, a honestidade; a esquerda admite a desonestidade, se for para um bem maior - e por bem maior, claro, entenda-se o bem da esquerda, ou seja, a desonestidade em causa própria.
Falou ainda que Rachel Sheherazade está sofrendo censura, que a moça foi intencionalmente mal intepretada, que ao dizer que achava compreensível a situação da porradaria no bandido preso ao poste, Sheherazade não estava incitando a violência porra nenhuma, só estava dizendo de pessoas que estão de saco cheio de ser roubadas, que se cansaram de sofrer pela omissão do Estado. Compreensível. Penso exatamente o mesmo, compreensível não significa justificável, recomendável, desejável, louvável.
O que Roger diz, então, do deputado BBB Jean Willys é de um brilhantismo que é próprio só dos gênios, só dos que realmente entendem a piada de mau gosto que é a humanidade, espécie safada e oportunista por natureza : "O deputado Jean Willys por exemplo, talvez tenha boas intenções mas acho ele uma besta, sinceramente. Isso que ele faz é incitação de classes, não sei se conscientemente ou não, de gay contra hétero, de homem contra mulher, de pobre contra rico." 
Perfeito. Pessoas como Jean Willys, sim, incitam o confronto, a violência, e não Rachel Sheherazade.
E continua afirmando : A gente não sabemos eleger presidente. A gente somos inútil.
Alguém é capaz de discordar dele?
Abaixo, reproduzo a entrevista.
E para ler a postagem que me valeu um comentário do Roger, é só clicar aqui,  no meu poderoso MARRETÃO.

Você ainda acha que “a gente somos inútil”?
Eu acho. Quando fiz essa música estava voltando dos Estados Unidos, onde fui morar em 79. Tomei um baque grande de ver o que era a democracia de verdade. A gente ainda estava no finzinho da ditadura, a maioria não fazia ideia e nem hoje faz do que seja realmente uma democracia. Tudo aqui é uma merda. Quando vamos mudar o padrão de uma tomada, ao invés de adotar o padrão internacional, inventamos um padrão esdrúxulo.
E o que é uma democracia?
Um governo orientado para satisfazer o povo, por exemplo. Não como aqui onde predomina o favor e o paternalismo. Lá, quando a população tem necessidade, ela exige que seja atendida. É o lance do capitalismo funcionando direito, todos têm chance. Cheguei como estrangeiro, só pegava empregos que ninguém queria como garçom, lavador de prato, diarista. Ganhava bem, levava uma vida boa. É o que acontece com qualquer brasileiro que vai para lá, ele aprende rapidamente porque é um passo pra cima. Lá ninguém joga lixo no chão. O problema é que quando o brasileiro volta pra cá, ele esquece disso.
Estamos numa democracia?
Estamos em uma democracia fingida como na Venezuela. Não é só porque tem votação que tem democracia. Não é porque a maioria quer que isso é democracia. A democracia prevê um embate das forças e alternância de poder. E aqui há diversos subterfúgios, inclusive de dar dinheiro pro povo, espécie de coronelismo que sempre existiu.
Então nos Estados Unidos a vida é melhor?
Morei lá com minha irmã, que tinha bronquite. Quantas vezes não fomos atendidos gratuitamente no hospital. Aqui não, se você vai ao hospital público vê todo mundo morrendo, deitado no chão. Eu não, claro, graças a Deus, porque tive estudos. Não por isso sou menos brasileiro, a esquerda está sempre tentando jogar uns contra os outros.
E por que você voltou, então?
Saí de lá sinceramente porque não queria essa vida pra sempre, não usava minha cabeça pro trabalho, era só o braçal. Também senti falta de minha cultura, mas na volta senti esse baque e comecei a notar que o Brasil não funciona por causa do brasileiro. Há um vício de colocar a culpa em alguém, de esperar que o governo resolva, de não assumir. Na letra de “Inútil” usamos o português errado, porque aqui não tem educação direito.
“A gente não sabemos escolher presidente”, ainda?
Ainda não. Praticamente todos os partidos estão do mesmo lado pra começo de conversa. Os políticos prometem de tudo e o povo brasileiro meio que aceita. A gente tem essa mania histórica de corrupção e preguiça, uma série de más qualidades que fingimos que não vemos. Em português claro, o brasileiro merece tomar uns pitos de correção e não tem quem vá fazer isso porque político só rouba e promete, e trata o povo como se fosse coitado. A segunda frase desta música é “a gente não sabemos tomar conta da gente”. A gente não sabe se administrar.
O que precisa ser feito?
A gente tem que tomar as rédeas do sistema. Mas está tão corrompido que a gente nem sabe qual é esse caminho.
O país melhorou?
Melhorou. A gente saiu de uma ditadura e passou a fazer eleição direta. Mas agora estamos regredindo rapidamente sem perceber, pro ponto que a gente estava.
Como assim?
Entrei na escola em 64, naquele tempo a aula de história era muito orientada, só os melhores momentos eram apresentados e ainda assim de forma deturpada. Hoje é assim só que ao contrário. Continua a deturpação, só que por outro lado.
Dê um exemplo.
O caso da Raquel Sheherazade, que foi afastada, em férias compulsórias durante um tempo por conta de uma ação movida pela deputada Jandira Feghali (PC do B). Então é censura, só que por outro lado. Parece que desde os anos 30 mudamos de uma ditadura para outra, sempre disfarçando de democracia.
Mas a Sheherazade pisou na bola?
Ela não falou nada de mais. Ela disse que era compreensível quando amarraram um ladrão no poste. Compreensível significa que eu entendo a revolta da população que não agüenta mais ser roubada. Não quer dizer que eu ache que todo ladrão deva ser amarrado, mas interpretaram dessa maneira.
Você acompanhou os protestos de junho?
Não tenho mais idade para isso. Mas apoiei, achei legal. Pena que esvaziaram de maneira brilhante colocando black blocs na rua e com os políticos convocando reuniões, como sempre fazem. Vamos mudar de assunto, nada aconteceu, agora tem Copa e carnaval, tem sido assim de ditadura em ditadura.
O governo Lula foi bom para o Brasil?
Sinceramente acho que foi ruim, o que ele fez foi manter a inflação estabilizada com um programa que vinha do governo anterior. O que ele mais fez foi demagogia o tempo inteiro. Dizem que elevou a classe c mas pra falar a verdade não sei se isso não aconteceria naturalmente com o dinheiro estabilizado.
A ascensão da classe c não é um avanço?
Sem dúvida. Mas o pessoal acha que isso aconteceu porque o governo foi bonzinho com a gente. E pensam assim, “agora não sou mais miserável, porque posso comprar TV”. Errado, o contrário da miséria é o conhecimento, não é só comer e tal. Lula botou na cabeça do brasileiro essa luta de classes que não era pra existir. Fez o povo acreditar que quem tem dinheiro é contra os pobres.
E Dilma?
Se o país estivesse progredindo ok, mas não está. Estamos parados. E o Bolsa Família, que era para ser um analgésico, vai continuar para sempre, para garantir os 40% de votos que ela necessita para ser reeleita.
Como você se define politicamente?
Voto normalmente pra coisa ficar equilibrada. Esse é o segredo da democracia, se o poder está pendendo muito pra direita, é bom calibrar um pouco pra esquerda, e vice-versa. De todo jeito, sou mais pelo indivíduo do que pelos grupos – na coletividade, sempre tem a desculpa de que “a culpa não é minha, é do grupo”.
O que você defende?
Como força política acredito no liberalismo capitalista. Vivi isso, sei que funciona e não é só nos Estados Unidos. Na China, que é comunista, investiram pesado e estão na liderança do mundo. Gosto da ideia de que quanto menos interferência do Estado, melhor. Ele tem que regular, fiscalizar, mas não gosto da burocracia.
Que reflexão faz sobre os 50 anos do golpe militar?
Após tantos anos de ditadura criou-se a ideia de que a esquerda é tudo de bom, de que é boazinha e tal. Não vejo assim. Qualquer esquerda, não só a brasileira, é uma merda falida, com uns exemplos como Fidel Castro que socializou a miséria. Todo mundo quer é igualdade na riqueza. Isso não é fútil, as pessoas querem conforto e serviços. Agora aqui todo mundo só quer o direito, não quer os deveres.
E o que dizer sobre a direita?
A direita aqui é inexistente. A esquerda gosta de associar a direita a torturadores militares ou a Hitler, como se eles fossem o único tipo. Mas veja não sou de direita, tenho valores da direita e da esquerda, por incrível que pareça.
Exemplos.
Por exemplo cultivo um valor de direita que é a honestidade. A esquerda acha que tudo bem você ser desonesto, pra fazer supostamente um bem maior. A meritocracia por exemplo também é uma coisa mais à direita e acho que está certo. Agora, quando você não tem as mesmas chances, aí estou mais pra esquerda. Outra posição de esquerda: hoje em dia acho que deveria liberar a maconha porque não vejo muita diferença entre ela e o álcool. Não uso mais, nenhum dos dois.
Como viveu o período da ditadura?
Olha eu cresci durante a ditadura, mas não via nada disso. Tive uma infância super tranquila. Já na adolescência comecei a saber sobre bombas e atentados, mas não tinha conhecimento político, pois não se falava a respeito na escola e meus pais não eram tão ligados. Eu ouvia falar em terrorismo, comunismo e subversivos, pra mim era tudo mais ou menos a mesma coisa. Mas quando comecei a prestar atenção, percebi que havia receita de bolo nos jornais ou um filme que demorava muito para chegar.
Agora, naquele tempo a gente falava a mesma coisa que hoje em dia: não há interesse em dar educação ao povo porque quanto mais burro, mais fácil de controlar. Então vou dizer que era muito mais seguro nas ruas naquele tempo. Meus pais não sofreram perseguição e nem seus amigos. A gente só sabia que estavam censurando. Só fui conhecer mesmo a realidade no colegial, e depois na faculdade. Não estou elogiando a ditadura. Já era ruim só que hoje é a mesma coisa.
A mesma coisa?
Hoje em dia me parece que piorou até, porque tem censura também, e antes não tinha o brasileiro contra o brasileiro como tem hoje em tudo que é lugar. O deputado Jean Willys por exemplo, talvez tenha boas intenções mas acho ele uma besta, sinceramente. Isso que ele faz é incitação de classes, não sei se conscientemente ou não, de gay contra hétero, de homem contra mulher, de pobre contra rico.
mais ‘selfies’…
Será? Você parece muito desiludido.
A gente achava por exemplo que não ia mais ter “Hora do Brasil”, e continuou. Por que? Assim como o horário gratuito eleitoral. A geração de 80 foi muito feliz porque todo mundo achava que ia sair da idade das trevas, que haveria um progresso, lutando pela democracia. Mas a gente não saiu da ditadura e agora estamos vivendo um período de ditadura do proletariado. Estão aparelhando tudo, roubando paca. Tanto tempo no poder é perigoso. Pra mim tanto faz porque estou com a vida ganha de certa forma, tenho uma vida de classe média alta porque graças a Deus trabalhei por 30 anos e soube economizar.
Você sofre preconceito na classe artística por conta de suas opiniões?
Não, pra minha surpresa a maioria está do meu lado. Tem um ou outro enganado que foi pro outro lado. Naturalmente estou mais próximo dos artistas de minha geração, como a turma do Casseta, o Lobão, Paralamas. Entre a velha guarda a convivência é pacífica.
Como era nos anos 80?
Naquele tempo estávamos todos do mesmo lado contra a ditadura. Hoje em dia ganhei consciência da ditadura quando comecei a dar minhas opiniões no twitter. De repente apareceu uma patrulha ideológica de esquerda, cheia de militante virtual, que eu não sabia que existia. Sempre falei mal do governo mas agora estão me xingando. É ridículo.
Você lê muito? Como se informa?
Já li muito. Andersen, Grimm, quando criança. Muito gibi. No colegial li coleções inteiras sobre filósofos, muita ficção científica e muitas crônicas. Hoje em dia quase não consigo ler pois tenho déficit de atenção. Começo vários livros mas não termino nenhum. Mas leio jornais e fico na internet vendo links e blogs.
Como você e Danilo Gentili se conheceram?
Quando o Danilo me convidou, em 2010, para seu programa na Band, a gente só se conhecia de twitter. E eu lhe disse, ‘estou quase que me aposentando, já estou brecando na vida, enquanto você está acelerando’.
Qual seu papel no programa?
É servir de contraponto pro Danilo, fazer umas piadas, e basicamente apresentar convidados com a parte musical. Estou adorando pois era fã do ‘The Late Show’ do David Letterman e já sabia o que tinha que fazer no ar. O Ultraje já vivia tirando sarro com um espírito de fundão de escola no ginásio. Encontramos o ambiente propício para fazer a mesma coisa na TV. É bem menos tedioso que fazer show.
Que acha do programa do Jô?
Assistia bastante. Ele aumentou a parte de entrevistas e tal, com relação ao formato do ‘Late Show’. Já o Danilo está chegando mais perto do formato original. Nossa função no programa é muito maior. Embora o programa seja do Danilo, ele funciona justamente porque tem uma turma de pessoas que se identifica com o ambiente. Temos afinidade nas ideias. E não é tudo centralizado no Danilo, nem é objetivo dele, eu por exemplo tenho liberdade de falar o que quiser a qualquer hora. Se a entrevista não está indo bem por exemplo, se o entrevistado é tímido ou só responde monossílabo, a gente interfere.

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8 Comentários

  1. Sim, sim...o Roger é acima da média em muita coisa...mas dizem por aí, alguns poucos que compraram a GMagazine dele (não sei vc, mas não foi o meu caso) que tem certas coisas em que ele é, inclusive abaixo da média. O próprio Danilo Gentili já fez o comentário...apesar também que o povo fala demais, né?!

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    1. Rapaz, sempre que o nome do Roger é citado, alguém vem com essa história do tal pinto pequeno. Acho que não foram poucos que compraram a tal revista, não. E é sempre a mesma história : dizem por aí, alguém me falou, tenho um amigo viado que comprou e viu, achei sem querer nas coisas da minha irmã etc etc.
      Êêê, Leitinho, quem não te conhece que te compre!!

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  2. Parabéns ao Roger por não titubear em tocar na ferida da nossa "ditadura velada" e parabéns ao Azarão por reconhecer a inutilidade tão útil de um QI acima da média que, além de tudo, tem consciência crítica e não se acanha em expressá-la quando é solicitado. Abaixo a ditadura!

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    1. Grande Carla K! Vocês não imaginam a alegria que tenho de voltar a escrever aqui e, mais ainda, receber seus comentários amigos.
      abraços

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  3. Que bom que você voltou cara! Muito bom o texto! Seja bem vindo novamente e continue sempre... Alguns idiotas não podem fazer gente como você parar de manifestar suas opiniões...

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    1. Cara, bem-vindo de volta. Tenho poucos e bons leitores, percebi que não podia ficar sem escrever, e sem vocês,claro.
      abraço

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  4. Foi por essa postagem do blog do Roger que eu cheguei até aqui. E não sai mais. Quem bom que você voltou. Abraço.

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    1. Que bom que você também voltou. Bem-vindo de volta.
      Obrigado.

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