Na Medida do Impossível

Eu gosto do Pato Fu. E se gosto do Pato Fu, que direi, então, da Fernanda Takai? Aí é que eu gosto mesmo!
Na Medida do Impossível é o seu quinto trabalho desvinculado da banda, precedido pelos muito bons Onde Brilhem os Olhos Seus, Luz Negra, No Jetlag (com a japonesa Maki Nomiya), e pelo estranho e inexpressivo Fundamental (com Andy Summers, ex-The Police).
É o seu álbum mais sortido. Os anteriores apresentavam repertórios bem definidos, segmentados, fechados em si - Onde Brilhem os Olhos Seus, por exemplo, traz somente canções gravadas originalmente por Nara Leão.
Na Medida do Impossível manda às favas qualquer unidade. É um balaio de gatos - adoro gatos. Fernanda Takai arrisca-se - e se dá muitíssimo bem - pelas mais, aparentemente, inconciliáveis vertentes da MPB. Gravou de tudo um pouco : o genial (e menosprezado) Benito de Paula, Marcelo Bonfá (ex-Legião Urbana), Leno (da dupla Leno e Lílian, da Jovem Guarda), a deliciosa Pitty, o impagável Reginaldo Rossi.
Fernanda Takai jogou os imiscíveis óleo e água num mesmo caldeirão. E não é que, obedientes ao comando de sua doce voz, sabotando toda a físico-química, eles imiscuiram-se perfeitamente?
Há apenas uma bola fora, apenas um cachorro nesse delicioso balaio de gatos : a música Amar Como Jesus Amou, de autoria do Pe. Zezinho, que, para "melhorar" ainda mais, Fernanda Takai gravou com  participação especial do Pe. Fábio de Melo, o padre-cantor-galã-bombadão da Canção Nova.
 A música - sim, eu a ouvi uma vez -, resumidamente, prega que a receita da felicidade é amar como Jesus amou. Tô fora. Que é bem sabida a felicidade alcançada por Jesus por amar como amou ao seu próximo : umas boas dumas chicotadas no lombo e uns pregos nas mãos. Na hora de decidir sobre quem seria crucificado, se o amoroso Jesus ou se o notório ladrão Barrabás, o povaréu não teve dúvidas, nem titubeou : mandou o nazareno para a cruz.
Mas também não é nada que deponha contra o disco, que é um verdadeiro primor, ou que nos desanime em sua audição; apenas um deslize. Aliás, bem fácil de contornar : baixe o CD e delete a faixa 9. Tudo resolvido.
A melhor do disco? Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme, de Reginaldo Rossi. Sem dúvida alguma.

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1 Comentários

  1. Acho legal quando faz a crítica de discos. deveria investir mais nisso.

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