Pequeno Conto Noturno (39)

Martinho da Vila já teve mulheres do tipo atrevida, do tipo acanhada, do tipo vivida, casada carente, solteira feliz, já teve donzela e até meretriz; mulheres cabeças, desequilibradas, mulheres confusas, de guerra e de paz.
Rubens considera tais classificações de Martinho, pouco importando se corretas ou equivocadas, e apesar da simpatia que tem pela obra do grande sambista, como irrelevantes.
Atrevidas ou cabeças, tanto faz, no começo da relação, todas nos proporcionam alegrias, prazeres, sensação de completude; acanhadas, casadas, solteiras ou desequilibradas, tanto faz também, do meio da coisa para frente, ou seja, da trigésima quarta foda em diante, todas nos proporcionam chateações, estorvos, sensação de castração.
Rubens classifica suas mulheres pelo que julga que elas têm de mais particular, de mais íntimo, pessoal e intransferível : a buceta. Não há duas iguais. Cada conjunto de atributos - cor, sabor, odor, viscosidade, dimensões, geometria, profundidade, tonicidade - é único. Irrepetível. Nem o DNA é tão exclusivo, os gêmeos univitelinos os têm em cópia carbono. Porém, nem as gêmeas univitelinas - de preferência, duas loironas suecas - têm bucetas exatamente iguais.
Rubens já teve das ácidas, das adocicadas, das almiscaradas, das mais triangulares, das rosadas, das elipsoides, das encarnadas, das azedas, das arroxeadas, das rasas, das insossas, das abissais, das em botão, das desbeiçadas, das áridas, das adstringentes, das salgadas, das alagadas, das abacalhoadas, das fiapentas...
Rubens se apraz em demoradamente analisar, qualitativa e quantitativamente, uma boa buceta. Adora meter-lhes a boca, a língua, o nariz, olhá-las de perto; cheirá-las, lambê-las, chupá-las, mordiscar-lhes os lábios, bebê-las. Rubens é um degustador, por excelência. Não de vinho ou de outras viadagens. De buceta. Rubens é um sommelier de buceta. Não obstante, muito lhe apetece também um cu.
Lícia tem do tipo caudaloso. A buceta de Lícia se liquefaz, derrete-se em morno magna, em abundante calda caramelada. Escorre pela virilha, pelas pernas, empoça no ventre, no umbigo, nos pentelhos, no colchão.
Mais que caudalosa, define Rubens de uma vez por todas, que caudalosas outras ele já pegou, a buceta de Lícia é torrencial. Nessa categoria, é a única representante que já passou por sua cama.
Rubens não entende como é que Lícia, depois de cada foda, não precisa ser levada às pressas para  um hospital, receber soro na veia; não entende como depois de cada trepada, Lícia não entre em grave quadro de desidratação.
Quando Lícia cavalga Rubens de frente, ele lhe passa a mão por trás, espalma-a por todo o rabo dela, encharca os dedos, espalha tudo nos peitos de Lícia, besunta-a de buceta e se põe a mamar, com dedicação e louvor quase que religiosos.
Peitos servidos ao molho de buceta... Não há iguaria, por mais fina e sofisticada, que lhes faça frente. Nenhum daqueles esnobes e afrescalhados chefs franceses entubadores de baguete é capaz de igualar, menos ainda de suplantar, a combinação de tão harmoniosos ingredientes.
- Você não vai passar uma água no corpo, dar uma enxaguada na boca? - pergunta Lícia, retornando do banho. Lícia sempre toma banho depois da foda, parece que tem vergonha de seu grande poder, ou medo dele.
- Vou é pegar uma cerveja na geladeira, isso sim. - responde Rubens e sai em direção à cozinha, nu, lambuzado, folheado a Lícia.
- Vai lá, vai - diz Lícia, brindando com Rubens e entornando mais de meio copo de uma vez - limpa pelo menos a boca, ainda  mais que está com essa barba por fazer, com esse bigode.
- Eu gosto do bigode cheiroso - Rubens, a tomar a cerveja direto da garrafa, no gargalo.
- Deixa de ser nojento, fica aí com tudo grudado.
- Eu sou um cara ecológico, cara Lícia, sou adepto da lavagem a seco, da economia de água.
- Dá essa garrafa aqui. - pede Lícia, já a tomando de Rubens.
- Cuidado, o gargalo tá com gosto de buceta.
- Vai se fuder. - Lícia ri e dá uma boa duma emborcada.
- Eu deixo tudo isso secar no corpo, endurecer, cristalizar - começa Rubens. - Depois é só chacoalhar o pau e o saco, dar uma batida nos pentelhos, que tudo esfarela, vira pó, cai tudo no chão, vira comida de ácaros.
- Vai lá pegar outra cerveja, sem gosto de buceta dessa vez.
Rubens volta com dois litrões abertos, sem copos, fica com um e passa o outro para Lícia. Os dois batem suas garrafas em brinde e entornam no gargalo.
- Às vezes, tenho a impressão de que você não toma banho nem no dia seguinte, antes de ir pro trabalho.
- E, geralmente, não tomo, mesmo. Só dou aquela lavada a seco e vou pro trabalho.
- Credo! E não fica tudo grudando, espetando, incomodando?
- A única coisa que incomoda um pouco é que a cachorrada fica me seguindo pelo caminho, me farejando, de resto...
- Filho da puta!

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6 Comentários

  1. Um dos melhores que já li. Lícia é digna de retornar em contos futuros, uma boa amiga de foda.

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  2. Sua irreverência, seu senso de humor e sua criatividade são admiráveis!

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    1. Obrigado, mas não tem nada de criatividade nos pequenos contos noturnos, são todas situações reais, vividas por mim...rsrsrsrs

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  3. Ahaha! Então, suas experiências devem ser fantásticas, hein? Ah, esqueci-me de comentar....vc escreve mto bem (seus textos são "impecáveis"). Parabéns!

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  4. Por favor, nao publique...Pois é, não tem nada a ver, né? Mas é um nick name q me veio à cabeça, me referindo a uma música postada no blog de seu primo!! rsrsr. Edesia

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