Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa (24)

Taiguara foi/é um dos maiores nomes da MPB e, como tal, também um dos mais menosprezados e relegados ao esquecimento. Taiguara é poeta dos grandes, é voz poderosa e das mais versáteis que já se aninhou em nossos vinis, é exímio arranjador e instrumentista. E um ser abissal por natureza.
Fossa é com ele mesmo. Perto de Taiguara, a Fossa das Marianas é rasa poça d'água, dessas que se acumulam em dias de chuva.
Abaixo, a canção Hoje, uma de minhas preferidas. "Sorte, eu não queria a juventude assim perdida, eu não queria andar morrendo pela vida"; "meu quarto escuro é inerte como a morte", "a fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...".
O cara é imbatível! Uruguaio de nascimento, filho de um bandeonista e maestro, participou dos antigos e saudosos festivais da TV das décadas de 60 e 70. Teve 68 canções censuradas pelo governo militar, mais que todas as do Chico, Caetano, Gil e outros de nossos "defensores da democracia" somadas.
Morreu aos 51 anos, de falência múltipla dos órgãos ocasionada por um câncer na bexiga.

Hoje
(Taiguara)

Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos,

Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas...
Na solidão das noites frias por você.

Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte

Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte

Sorte
Eu não queria a juventude assim perdida
Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim como eu te amei.
É um músico cuja obra compensa, e muito, ser conhecida. Para os iniciantes, recomendo a coletânea da série Bis dois CDs.

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