O Viagra Laranja

As mulheres, merecidamente, sobretudo a partir das décadas de 1950-60, começaram a lenta conquista pela igualdade de seus direitos constitucionais, civis, trabalhistas etc. Hoje, estão em pé de equidade com o homem em todos os setores da vida moderna. Disputam, pau a pau com o homem, ocupações, funções e cargos que, há não muito tempo, eram exclusividade dos portadores do cromossomo Y.
Pau a pau, não; isso só se for uma daquelas feministas azedas, de sovacos cabeludos e com grelos de 15 cm de comprimento. Competem buceta a pau - não espanta que elas estejam começando a ganhar a briga - com o homem pelos mesmos direitos e privilégios que ele sempre possuiu, e dos quais usufruiu, estável e soberano, por muito tempo - é verdade também que elas se eximem de alguns dos mesmos deveres, como pagar a conta do bar ou do restaurante, por exemplo, mas que, por cavalheirismo, que é a parte do machismo que agrada e interessa às mulheres, nós relevamos, deixamos passar, fazemos vistas grossas, afinal, elas têm o que a gente quer, e o que é que a gente quer?, a gente quer buceta. Algumas, mais espertas e sagazes, não só disputam buceta a pau com o homem : disputam cu a pau. Aí, é covardia; aí, essa se torna imbatível, se torna a diretora-executiva da empresa, a acionista majoritária.
Houve, no entanto, e isso elas nem comentam, um direito que, por milênios, foi único e exclusivo das mulheres. Um direito que lhes foi inalienável e intransferível desde que o Homo sapiens (e também as mulheres sapiens, como disse Dilma Rousseff) se conhece por gente, há cerca de 70 mil anos, até o ano de 1998 d.C. Direito esse que não lhes foi outorgado pela lei dos homens, mas sim pela Magna e Pétrea Carta da Mãe Natureza. Sim, a Mãe Natureza, de quem a mulher tanto reclama, que é de seu ofício reclamar - reclama de menstruar, da TPM, das estrias e das celulites, da dor do parto, da menopausa -, concedeu um direito, um direito, não, uma dádiva, uma exclusiva dádiva orgânica e fisiológica à mulher, que a faz superior e objeto de inveja para qualquer machão.
A Natureza dotou a mulher : a) da capacidade de orgasmos múltiplos, sequenciais, sem que precise de um período de latência, também conhecido como paumolescência, para seguir em frente com a lida; b) e, principalmente, da capacidade suprema e divina de fingir excitação e prazer se for pega em um daqueles dias ruins, que tanto macho e fêmea podem ter, nos quais não consegue se excitar o suficiente para dar uma boa gozadona.
A Natureza dotou a mulher do elevado dom da dissimulação, da teatralidade sexual - como pode querer que a mulher vá viver sem mentir?, já perguntou há tempos o mano Caetano. Abriu as pernas, deu um cuspidinha, o pau entra fácil. Então, é só revirar os olhinhos, soltar uns palavrões, uns arfares e resfolegares mais profundos, fazer uns movimentos mais bruscos de coxas e de buça, deixar escapar, como quem quer esconder, uns oh, yes, oh, yes, dar-se uma descabelada, cravar as unhas nas costas e na bunda do cara, gritar, gozei, gozei e ir aos poucos parando os movimentos, relaxando a musculatura até a completa lassidão, que o homem, o mais idiota e ludibriável dos seres, acredita piamente. E ainda sai da cama posando de galo, de touro reprodutor, se achando o fodão.
E nós, homens, pobres coitados? Se formos chamados à nossa função de varões num daqueles dias ruins, em que a lua não tá favorável nem a maré, para peixe? Como fingir que estamos de pau duro? O nosso brinquedo é de armar, o de vocês, de abrir. Não tem jeito.
Melhor : não havia! Até 1998, não havia - não foi por acaso que grafei essa data acima. Nesse ano, a ciência dos homens promoveu a verdadeira igualdade entre os sexos. Nesse ano, que deveria figurar na História ao lado dos anos das descobertas do fogo, da roda, da América, da pólvora, da eletricidade, da máquina a vapor, da penicilina, da chegada do homem a Lua etc etc, foi criado o fármaco mais miraculoso de todos os tempos, o santo graal buscado pelos machos desde a antiga Suméria : o citrato de sildenafila, o Viagra, o "azulzinho" para os íntimos. O Viagra trouxe o componente que faltava para a completa igualdade homem/mulher, deu ao homem a capacidade de simular, de também fingir excitação.
Enganam-se redondamente, contudo, os que supõem que o Viagra trouxe de volta a virilidade perdida, que devolveu ao frouxo homem moderno a sua condição de macho primordial. Porra nenhuma. Que macho que é macho continua macho mesmo de pau mole. Enquanto eu tiver língua e dedo, mulher nenhuma me mete medo, disse o poetinha Vinicius de Moraes.
Muito pelo contrário. Da mesma forma que as leis de igualdade entre os gêneros deu o direito à mulher de exercer o seu lado competitivo, o seu lado masculino por assim dizer, o Viagra deu ao homem o direito de usufruir e de ficar em paz com sua fragilidade, de exercer o seu lado feminino por assim dizer, ou seja, fingir no sexo.
Por isso é que as mulheres têm tanto preconceito e reserva contra o pobre do Viagra. Porque, antes dele, era só delas a prerrogativa da dissimulação. Elas se sentiram tolhidas em um direito outrora só delas. Vocês não foram tolhidas em nada, meninas. Apenas fomos nós, os homens, que passamos a também poder lutar com as mesmas armas na eterna e estratégica guerra dos sexos, o WAR das relações conjugais, nós é que também passamos a poder nos valer dos mesmos ardis.
Trabalho em meio majoritariamente feminino, o da docência, e não foram nem uma nem duas : já escutei várias mulheres dizendo que se descobrissem que o marido, namorado, amante etc toma Viagra para bem lhes comer, a casa cairia pro lado do cara, que o sujeito teria que se explicar muito bem.
Que injustiça, adoráveis xavascudas, que injustiça! Aceitamos e apoiamos vocês em tantos embustes e artificialismos - maquiagem, tintura nos cabelos, botox, silicone nos peitos e na bunda, lipoaspiração -, e vocês não são capazes de aceitar um único comprimidinho? Que machismo, adoráveis xavascudas, que machismo!
O que a mulherada não aceita é provar, vez em quando, do seu próprio veneno e sortilégio. É ficar sem saber ao certo se o pau do cara tá duro por causa delas ou por efeito do Viagra. E daí, adoráveis xavascudas, e daí? Não tá duro? Pois então. Deixem de viadagem e aproveitem. Subam, rebolem, cavalguem, metam-no no cu, esfreguem-no por entre as tetas!
E a inveja da mulher pelo homem ter conseguido o que ela sempre teve é tão grande que, há tempos, a indústria farmacêutica, não sei se por pressão de grupos feministas, ou se simplesmente por mais um nicho mercadológico, tem buscado desenvolver o Viagra feminino, o chamado Viagra Rosa. Uma droga para fazer a mulher parecer receptiva e apta ao sexo quando ela não está? Ora, adoráveis xavascudas, vocês sempre foram capazes disso. Nesse sentido, qualquer droga é placebo. É só para, de novo, a mulher se sentir igual aos homens. Machismo, adoráveis xavascudas, machismo! 
Tanto que, até onde eu sei, o tal do Viagra rosa nunca saiu da prancheta para as prateleiras das farmácias. Alguns fármacos já foram testados, mas nenhum logrou êxito. Até agora. E por uma única razão : a procura na cor errada, o rosa. O Viagra feminino não é rosa. Isso também é machismo, adoráveis xavascudas, também é machismo. O Viagra feminino é laranja!
O Viagra feminino é laranja e tem, oh, que surpresa, o formato de um pau, de um vigoroso falo, de um caralho grosso e cabeçudo. O Viagra feminino é um cogumelo alaranjado com uma baita duma chapeleta!
O cogumelo foi oficialmente descoberto pela ciência em 2001, em uma das ilhas do Havaí, mas os relatos dos nativos acerca dos mágicos e orgásticos poderes do fungo basidiomiceto não haviam sido levados muito a sério pelos cientistas. Até agora.
Dois cientistas, John Halliday e Noah Soule, depois de ouvirem por várias vezes estórias que ligavam o cogumelo de cor alaranjada da espécie Dictyophora a orgasmos instantâneos e espontâneos em mulheres, resolveram investigar. Pediram a voluntários de ambos os sexos que cheirassem o cogumelo, com o objetivo de detectar os níveis de atesuamento desencadeado pelo laranjinha. Os homens nada sentiram e chegaram a relatar uma certa repulsa ao odor. Entre as mulheres, o resultado foi outro : metade delas conseguiu gozar loucamente durante a experiência. Só no cheiro, meu amigo, só no cheiro! Esse cogumelo tem poder!
Segundo conclusão dos cientistas, publicada no International Journal of Medicinal Mushrooms, o cogumelo do amor, do prazer e da felicidade feminina "possui substâncias similares a hormônios que têm propriedades de neurotransmissores liberados durante as relações sexuais", ou seja, o cogumelo libera odores similares ao do macho em cópula.
Não tem segredo, mulherada. O negócio é a boa e velha chapeleta em plena ação, os feromônios a mil. É o cheiro do macho, do bicho peludo e suado. É que as mulheres, hoje, estão escravas da merda dessa estética do "limpinho". Depilam tudo, passam perfume em todos os lugares etc. E querem que o homem também as siga nessa bobagem. E ele as segue, torna-se metrossexual, depila perna, peito, suvaco e saco, tira sobrancelhas, faz limpeza de pele, tira cutículas, higieniza até a unha do dedão do pé, ou seja, se livra de todo o seu odor de macho. Resultado : não molha a xavasca da parceira. Sem contar que a rosca também afrouxa.
Aí, não tem como. Aí, é apelar para o "laranjinha", para o cogumelo-ricardão.

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3 Comentários

  1. Hahahahasha
    Nem cogumelo do Sol nem Shiitake : outra trolagem da natureza. E meu amigo, em defesa das mulheres do Brasil varonil, Viagra tá liberado, afinal subindo bem que mal tem!
    "J"

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  2. Às vezes eu acho que você toma chá de algum cogumelo quando escreve seus textos.

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    1. Há! Há! Há! Não, não tomo, não. Eu até que morro de curiosidade em experimentar um desses alucinógenos, mas sou muito cagão, morro de medo. Fico só na cervejinha, mesmo. E nem foi o caso desse texto, que escrevi a seco, entre as 16 e 18 h e pouquinho, num calor de quase 40 graus e numa secura de fazer inveja a toba de camelo.

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