Cerveja Ponce de Leon

Tenho cá para mim que todos os poetas, escritores, compositores, enfim, todos os artistas que fazem da palavra a sua pena e seu gozo têm um quê de profetas, de visionários.
Através de suas líricas faculdades, predizem fatos, situações, mudanças de comportamento e mesmo descobertas científicas que os das artes do método, empirismo e pragmatismo só desvendarão décadas ou séculos após.
Fisgam pequenos fragmentos do futuro, captam pixels do amanhã com seus kidbengálicos paus de selfie, pinçam retalhos de cetim e confetes de carnavais do porvir com suas refinadas sensibilidade e parabólicas, do espaço, do mundo da lua, do éter, de algum banco cósmico de conhecimento.
Se não vislumbres já prontos e acabados do futuro, ao menos detectam seus indícios, suas tênues tendências que, mirrados fios d'água, afluem em caudaloso Amazonas tempos depois.
É o caso da nostradâmica canção Eu Bebo Sim, composta por Luis Antônio há mais de quatro décadas, em 1973, tempo em que a ciência só sabia dos efeitos nocivos e perniciosos do álcool, em que a birita era vista apenas como destruidora de vidas, de fígados e de lares; uma, é verdade, de suas facetas.
Há quatro décadas, eram insuspeitadas as hoje conhecidas propriedades benéficas, terapêuticas, homeopáticas, hidratantes, revigorantes, rejuvenescedoras e paudurescentes do álcool, desde que administrado com moderação, na correta posologia e, principalmente, com disciplina e perseverância, não desistir do tratamento, insistir com ele, religiosamente. O duro é definir a tal da moderação. Mas aí a culpa não é do remédio, é do paciente e da imperícia médica em bem ajustar a dose; afinal, tudo é mortal veneno a depender da dose, até a água, que o digam os afogados. O álcool também deixa o homem mais caridoso, benevolente e filantrópico : uma vez de porre, encara mocreias que jamais seriam traçadas em condições normais de pressão e temperatura.
Pois antes da morosa Ciência dos homens, o compositor Luís Antônio, autor de "Sassaricando", "Lata d'água"...na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, "Mulher de Trinta"... voce, mulher, que já sofreu ..., "Poema do Adeus" e "Poema das Mãos" , Barracão" ... de zinco, tradição do meu país ... entre outras, já cantava : Eu bebo sim, Eu tô vivendo, Tem gente que não bebe, E tá morrendo.
Há, no entanto, apesar de todas as evidências, os que não acreditam na fala da ciência a respeito do álcool. Desconfiança saudável e das mais justas, devo admitir. Afinal, cientistas são humanos e podem se mostrar tão falhos de caráter e tendenciosos quanto quaisquer outros profissionais, de quaisquer outras áreas. Um cientista  bebum pode muito bem usar de sua credibilidade acadêmica para falsear resultados ou conclusões e, assim, justificar cientificamente o seu vício.
Grandes cervejarias ou vinícolas, para somarem mais um selo de qualidade aos seus produtos, podem financiar os custos de uma pesquisa acerca dos efeitos do álcool e, assim, "induzir" o cientista. Que, por gratidão (o ser humano é o mais grato e reconhecido dos seres) e, lógico, para continuar a receber o faz-me-rir, bem pode dar uma maquiada nos resultados, pode "selecionar" amostras ou grupos de dados favoráveis aos seus mecenas para publicá-los como base da conclusão de sua pesquisa.
E não são indignos da confiança popular apenas os cientistas : mais ainda os compositores populares; afinal, é tido como fato notório e sacrossanto que todo músico é pé de cana, é pudim de cachaça.
Dessa forma, melhor e mais convincente do que arrolar aqui dados científicos, ou me fiar nas visões de um profeta manguaceiro, nas predições de um vate que parece ter saído de um vat de whisky, talvez o 69, é apresentar exemplos cabais dos benefícios do néctar do malte, é mostrar provas vivas do que falo.
A primeira é a britânica Grace Jones, que comemorou seus 109 anos de vida em setembro último, com direito a cartão de parabéns da própria Rainha Elisabeth II etc.
Aos 109 anos, disse se sentir com 60, uma ninfetinha da terceira idade. "Não tenho dores, tenho bom apetite e durmo bem", declarou aos jornalistas.
O segredo : uma talagada diária de um bom whisky. "Não bebo, mas tomo um pouquinho de whisky todas as noites", declarou. Ninguém perguntou o quão seria esse pouquinho.
Não se convenceram?
A segunda prova viva é a estadunidense Agnes Fenton, que completou 110 anos em agosto último.
Receita secreta de sua centenária idade : cerveja. A sábia idosa garante que passou a maior parte da sua vida bebendo três cervejas ao dia. Segundo ela, essa é a fórmula para garantir a chegada à idade tão avançada. Mas há opositores ao seu elixir da longevidade : os médicos, os representantes da tacanha medicina ocidental, que têm tentado fazer com que Agnes desista de sua cervejinha diária. "Ela não está se alimentando bem, e, até que sua nutrição não se normalize, as cervejas podem lhe fazer mal", garantem os equivocados esculápios. Nada, caros doutores, absolutamente nada, pode fazer mal a uma pessoa que chegou aos 110 anos. Querem que Agnes se "cuide" para quê? Para ter mais um ou dois filhos? Quem sabe fazer mais uma faculdade? Candidatar-se ao Senado Americano? Querem é, sádicos por natureza de seu ofício, tirar de Agnes um de seus últimos prazeres. Querem é deixá-la doente, isso sim. Agnes confessa que, vez em quando, também toma uma dosezinha de whisky, mas só nos dias mais frios, para aquecer o peito.
Isso de tirar do idoso seus últimos prazeres, lembrou-me de uma estória : o velhinho foi ao consultório do médico e levou os resultados de seus exames. O médico começou : glicemia normal, triglicérides, colesterol, creatinina, hemácias, leucócitos etc etc etc tudo normal. O senhor está muito bem de saúde, seo Antenor - disse-lhe o médico -, só notei que o senhor tem um pequeno probleminha de flatulência. Problema, doutor? É um de meus últimos prazeres.
A cerveja é o elixir da longa vida procurado por sábios e alquimistas desde a aurora dos tempos! É a água que passarinho não bebe, e que por isso vive tão pouco. É a água da fonte da juventude tanto buscada por Ponce de Leon. É o verdadeiro suco detox!
Baseando-me nas evidências científicas, nas profecias de Luis Antônio, nos casos de Grace e Agnes e a confiar na matemática e nas suas infalíveis razões e proporções, vos digo : viverei uns 300 anos, por baixo.

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