Pequeno Conto Noturno (58)

- Essa foi das boas, não foi? - Mirelle, ainda com o pau de Rubens dentro dela, a murchar.
- Foi, foi das boas - Rubens, saindo de Mirelle e se estendendo ao lado dela, o pau dando suas últimas cabeçadas no vazio.
- Acho melhor você dar uma lavada nisso aí - diz Mirelle -, tá uma melequeira só, ainda mais que você não dá nem uma aparadinha nos pelos.
- Não aparo pelos, mesmo. Nem suvaco nem perna nem peito, que dirá o saco. E não precisa lavar, não. É só deixar secar, virar uma crosta e aí é só bater e virar pó, vai pro chão e os ácaros que façam sua festa.
- Não gosto de homem sujo, não - e Mirelle desce pro pau de Rubens e chupa e lambe tudo, até ficar limpo.
- Bem melhor, não acha? - e beija a boca de Rubens.
- Vou pegar uma cerveja.
Rubens veste a cueca e vai pra cozinha. Abre uma para si e outra para Mirelle.
- Foi das boas mesmo, né, Rubens?
- Já falei que foi, qual o problema?
- Mas já teve melhores, né?
- Umas melhores, outras piores... essa foi acima da média, o pau subiu fácil, você gozou, acho, duas ou três vezes...
- Quatro.
- Pois então.
- Sei lá, Rubens, acho que a gente meio que dominou a "técnica" um do outro, sabemos os botões certos que temos que acionar um no outro, a sequência correta, as cordinhas que temos que puxar...
- E qual o problema nisso?
- Sei lá, acho que não dá pra saber se o outro tá mesmo entregue...
- Te garanto que não fingi que meu pau tava duro.
- Idiota... tô falando sério, não dá pra saber se o ato é mecânico ou se o sentimento ainda existe. Sabe de uma coisa, Rubens?
- Diz.
- Acho que nosso caso chegou naquele estágio Gato de Schrödinger.
- Vixe!  Gato de Schrödinger... já vi que você tá eclética hoje.
- Eclética é a puta que o pariu, que essa palavra saída da tua boca não é elogio, sei muito bem o que pensa dos ecléticos, que são puro verniz, que são pessoas que sabem de quase tudo um pouco e quase tudo mal, que do livro só leem a orelha, que têm cultura de palavras cruzadas, de show do Milhão.
- Ora, ora, então, eu sou um eclético e não sabia.
- Vai pra puta que o pariu de novo. Você sabe que tem conhecimento muito além de palavras cruzadas.
- Mas, na prática, só tem me servido pra isso, fazer palavras cruzadas. E vou pegar mais duas latas, que já vi que a conversa vai longe.
- Vai tomar no cu.
- Aliás, falando em cu...
- Só se a sua mãe der o dela pra você.
Rubens ri da cozinha, e volta com mais duas latas.
- Então, estamos no estágio Gato de Schrödinger do nosso relacionamento...
- 'Cê tá de sacanagem, né? Mas eu não tô brincando, não, você sabe da coisa do gato, né?
- Claro que sei, sou eclético.
Rubens se desvia de um chute de Mirelle, que mirava seu saco.
- Sei que foi um experimento imaginado por algum desses dementes e envolvia uma caixa, uma amostra radiativa, um contador geiger, um martelo, um frasco de veneno volátil e, claro, um gato, tudo fechado na caixa. A amostra radiativa, que pode ou não decair, pode ou não disparar o contador geiger, que acionaria ou não o martelo, que quebraria ou não o frasco de veneno, que evaporaria ou não, e que, finalmente, mataria ou não o gato. O que significa que, sem abrir a caixa, não temos como saber se o gato está vivo ou morto. Sem abrir a caixa, o gato estará vivo e morto ao mesmo tempo.
- E não acha que nosso caso está assim? Meio vivo, meio morto?
- Quer mesmo abrir a caixa? Pode ser que descubra que o gato, inclusive, nunca esteve lá.
- Esteve, claro que esteve, ele é parte fundamental do experimento.
- Que é hipotético, nunca foi realizado. E se Schrödinger pensa que pôs o gato lá, mas não? E se colocou e não colocou o gato ao mesmo tempo?
- Vai pegar mais cerveja lá, vai.
Rubens vai, começara a gostar da conversa, é sempre bom provocar Mirelle, rende uma boa trepada.
- Toma. Vamos admitir, como você quer, apesar de não ter prova ou indício nenhum disso, que Schrödinger tenha colocado o gato na caixa. E se o gato for um excelente alpinista da quarta dimensão?
- Puta que o pariu, Rubens, agora fodeu.
- Tá vendo? Acho que sou mais eclético que você.
Um novo chute de Mirelle. Igualmente evitado. Rubens ainda tem planos para o seu pau hoje.
- A quarta dimensão é o tempo, Mirelle. Por que não conseguimos escapar de uma sala sem portas ou janelas? Porque somos seres que só percebemos três dimensões e, portanto, só por elas conseguimos nos mover e deslocar, a altura, a profundidade e a largura. Uma sala fechada, sem portas ou janelas, fecha as três. E se conseguíssemos nos mover pela quarta dimensão, pelo tempo? Bastaria que nos  deslocássemos para uma posição no tempo anterior àquela em que fomos trancafiados e estaríamos livres. E se o gato de Schrödinger souber subir e andar elegantemente pelos muros da quarta dimensão?
- Vamos deixar essa história da caixa pra lá, tá bom, Rubens?
- Não quer discutir a relação?
Outro chute. Triscou.
- E esse pau, Rubens? - e Mirelle aponta com um movimento da cabeça para o meio das pernas de Rubens - Como é que ele tá aí dentro da cueca?
- Digamos que ele está no estágio que eu chamo de o pau de Schrödinger.

Postar um comentário

2 Comentários

  1. Muito culto e muito nojento, ao mesmo tempo (... chupa e lambe tudo, até ficar limpo). Só uma depravada faz isso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nojento? É uma delícia! O negócio é enfiar a boca e o nariz, tudo junto, num bucetão, e quanto mais cabeluda melhor.
      Depravada? Ou você, se mulher, é muito fresquinha, cheia de não me toques e não sabe fazer seu homem gozar direito, ou você, se homem, nunca teve sorte na vida.

      Excluir