Todo Castigo Pra Corno é Pouco (16)

O Premeditando o Breque, Premê para os íntimos, foi um grupo musical surgido na década de 80 e inserido pela mídia - sempre ávida por rótulos e predefinições, uma vez que simplória e burra - na chamada Vanguarda Paulista, da qual também foram expoentes o Língua de Trapo, Arrigo Barnabé (ainda que paranaense), Itamar Assumção, Grupo Rumo, Tetê Espíndola, Ná Ozzetti e outros.
De todos eles, o meu preferido sempre foi o Premê. Que, apesar de toda a vanguarda, de toda a experimentação musical misturando o erudito com o popular, de suas letras de bem construída irreverência, de sua finíssima ironia e de suas sátiras leves e alegres, mas nem por isso menos contundentes, também teve seus dias de cornagem.
A música O Império dos Sentidos conta a história de um funcionário público, já a entrar na casa dos cinquenta anos, casado com uma linda japonesa de 21 aninhos. Um dia, ele chega mais cedo da repartição e flagra a japinha com um rapaz na cama do casal. Primeira reação, ele assume a identidade do corno bravo, aquele que lava a honra com sangue, e parte para cima da esposa e do Ricardão com uma faca, porém, um fato inusitado se dá e o corno bravo percebe que as coisas não se resolvem pela violência, mas sim pelo amor.
Sai de cena o corno bravo e entra o corno vingativo, que é aquele corno cuja esposa está dando a bunda pra outro e ele, pra se vingar, pra devolver na mesma moeda, passa a dar a bunda, também.
Abaixo, O Império dos Sentidos, do Premê (quem nunca sequer ouviu dizer do grupo, vá à internet, baixe algumas músicas deles e ouça-as, garanto que irão gostar)

O Império dos Sentidos
(Premê)
Foi numa segunda-feira
Que eu saí mais cedo da repartição
Correndo eu fui pra casa
Era uma tarde morna dessas de verão


Foi numa segunda-feira
Que eu saí mais cedo da repartição
E correndo eu fui pra casa
Era uma tarde morna dessas de verão


Eu então recém-casado
Com quarenta e nove e ela vinte e um
Uma linda japonesa que me encheu de vida
Como em tempo algum


Vou te amar como ninguém mais vai
Nem pensar que eu posso ser seu pai

E eu cheguei no apartamento
O coração pulsando de felicidade
Pois teria mais um tempo
Para tê-la ao lado matando a saudade
Eu fui correndo ao nosso quarto
Abrindo então a porta quando aconteceu
Que deitado em nossa cama
Tinha um moço lindo que não era eu


Tudo foi ficando escuro
Um desamparo imenso se descortinou
Feito um louco eu vejo a faca
Como a carne é fraca a faca me amparou
E o que faz o desespero
Eu fui pra cima dela como um furacão
Mas como era muito esperta
Ela escapou da faca que rasgou o colchão


Mas pra espanto de nós três
No rasgo do colchão aquilo tão brilhante
Enroscado numa mola uma pedra rara
Era um diamante, sim

Fomos com a  jóia pra rua
Procurando rápido uma avaliação
E choramos de alegria
Quando o homem disse vale um trihão 


Vou te amar como ninguém mais vai
Nem pensar que posso ser seu pai


E hoje nós moramos juntos
Três pessoas livres cheias de alegria
Numa casa com piscina
Onde tudo pode, tudo é fantasia
E o contato com a beleza
Me deixou mais leve para perceber
Todo homem que relaxa
Tem mais abertura pra sentir prazer


Vamo-nos amar como ninguém mais vai
Sem pensar, me chamem de papai.

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2 Comentários

  1. Porra... vamos às considerações: "foi numa segunda-feira que eu saí mais cedo da repartição" - tinha que ser funcionário público mesmo, plena segunda vadiando rsrsrsrs;
    "Que deitado em nossa cama tinha um moço lindo que não era eu" - um moço lindo!!! Porra, um moço lindo (não vou nem comentar);
    "Todo homem que relaxa tem mais abertura pra sentir prazer" - sem dúvidas e sem mais...
    "J"

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    1. Conhecia o Premê? Chegou a ouvir a música ou só leu a letra aqui? Se não escutou, escute, fica melhor ainda.

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