Acautele-se, Velho

A doença terminal do velho
- a sua sentença de morte -
Não é a velhice;
Sim a recidiva 
Do vírus da herpes da meninice
Alastrado nos lábios secos, na boca sem saliva
Nos genitais inúteis
Em zóster na alma.
No atestado de óbito do velho
Jamais constará como causa mortis, a decrepitude.
Não é a hipertensão
O diabetes
As veias entupidas
Ou o tombo no chão do banheiro
Que levam o velho ao ataúde;
Sim a superbactéria incubada
Insidiosa e insurgente da tardia juventude.
Não é ser ranzinza
Cinza 
A estrada do velho para a sepultura;
Sim querer retomar a rota da peraltice
Trilhar de novo pela travessura.
Não é a velhice que dá fim indigno ao velho
Não é a velhice;
Sim transformá-la na tal 3ª idade.
Aí, é fim de jogo
Aí, o velho fica bobo
Pinta os cabelos
Matricula-se na academia
Vai pro baile
Toma viagra
Confunde seu crepúsculo
Com o raiar de ensolarado dia :
Vai pro vinagre.
E se nova paixão aparece,
Retumbante
É tumba na certa para o velho.
Não é novo amor porra nenhuma, velho.
É só a Velha da Foice
Em pelego de carneiro
É só a Ossuda
Em pele e peitos de jovem mulher.
Acautele-se, velho
Acautele-se.
Que o medo é o melhor elixir da longa vida que há.

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5 Comentários

  1. Sua radiografia é boa, nítidas são as imagens. Mas uma coisa eu sei: cada um envelhece de um jeito diferente, pois a cada hora você se sente nova pessoa. Só a impaciência e um pouco de rabugice são constantes. Um de meus filho disse que eu estou na aquela fase -"não gostou, me processe".

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    1. Uma "nova" pessoa? É mais um de seus trocadilhos, né? E se impaciência e rabugice são sinais de velhice, eu já nasci com uns 80 anos e hoje sou o Highlander.

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    2. Não é trocadilho, muito menos viadagem. O lance é que o humor oscila pra caramba. Assim, uma hora eu estou rosnando e dando coice, outra hora fazendo trocadilhos ruins, outra hora babando de depressão, em outra estou esguichando ansiedade, etc. Os textos do blog refletem essa alternância. Talvez eu tenha sido sempre assim, mas não tinha tempo para prestar atenção nisso. Hoje, como aposentado, uma das minhas preocupações é manter as unhas sempre aparadas para não ferir o saco, de tanto coçar.

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    3. Pois é como dizem : cuidado você que vive coçando o saco, o Capitão Gancho morreu assim!
      Eu ainda não tenho esse todo tempo livre que você tem, que merecidamente conquistou, mas quando eu o tiver, tenho muito medo dessas alternâncias de humor, sei bem do que fala, tenha certeza. Por ora, elas são "curadas" pela obrigação do trabalho, do cuidar do filho, mas não sei como as enfrentarei quando elas tiverem todo o tempo do mundo para me atormentarem.

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