Hino Nacional à Mandioca

Por várias vezes, a bela e incompreendida letra de nosso Hino Nacional sofreu ameaças de vândalos que quiseram modificá-la, violá-la, violentá-la. Em todas as tentativas, o alvo dos bárbaros foi a estrofe que contém o verso, deitado eternamente em berço esplêndido.
Em 1960, o deputado Moacyr Azevedo, do PSD do Rio de Janeiro, propôs a supressão do segundo grupo de estrofes do hino, justamente o que começa com "deitado eternamente em berço esplêndido". Em 1971, Amaral de Souza, da Arena gaúcha, também propôs nova redação ao verso do Hino Nacional, no trecho "que apresenta o Brasil deitado eternamente em berço esplêndido". Iniciativas iguais foram sugeridas em 1961, em 1964, ano do golpe militar, e em 1984, quando o regime começava a cair. Em 2007, provavelmente com todos os problemas de educação, saúde e segurança de sua cidade solucionados, o prefeito de Araçariguama (SP), Carlos Aymar Srur Bechara (DEM), sugeriu que se substituísse o "deitado" por "abençoado". Cantaríamos, portanto, abençoados eternamente em berço esplêndido. Deve ser evangélico, o filho da puta.
Pelo visto, para alguns de nossos governantes, o "deitado" causava e ainda causa certo incômodo. Truculentos e incapazes de um minímo de abstração lirica e poética, o "deitado" talvez lhes passe a impressão de um Brasil cansado e desanimado, de um Brasil que é um eterno indolente, um perene preguiçoso, um perpétuo folgazão, que vive ao deus dará, na flauta, no dolce far niente, só no jeitinho, só na malemolência, só, em suma, na brasilidade.
E daí? É a mais pura verdade, ora porra! Não deve um Hino Nacional versar sobre e retratar fidedignamente as riquezas naturais e culturais de seu povo, seu espírito de luta e, sobretudo, erguer elegias ao seu caráter? Pois, então! Nisso, o tão perseguido verso de Joaquim Osório Duque Estrada foi de uma felicidade e de uma precisão inigualáveis.
E abençoados eternamente em berço esplêndido? A emenda sairia muito pior que o soneto! Aí, é que a merda estaria completa, pronta, acabada e espalhada. Além de preguiçoso, o cara ainda é abençoado por deus. Pããããta que o pariu!!! Aí é que não trabalha nunca mais.
Todas as tentativas de depredação da poética de nosso Hino foram, obviamente, malfadadas. Lembro bem da tentativa de 1984, virou notícia nos telejornais, no Fantástico etc, e lembro do quanto eu a considerei ridícula e despropositada à época.
Continuo a achar a letra de nosso Hino belíssima e irretocável, ou, como diria Rogério Magri, ministro do trabalho durante o governo Collor de Mello, imexível.
Os tempos, contudo, agora são outros. A realidade, gostemos dela ou não, se faz imperativa muitas vezes. De forma que se faz urgente, a contragosto admito, uma mudança em nosso Hino. Uma mudança, não. Que simples troca ou supressão desse ou daquele verso não bastaria para adequá-lo ao Brasil dos dias atuais.
Depois da solene saudação da presidanta Dilma Rousseff à mandioca, depois que a nobre raiz recebeu a comenda-mor da nação, foi condecorada com A Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a inclusão da viril e pujante tuberosa em nosso Hino se faz premente, irreversível e irrevogável.
Mudar um verso não basta, repito. Uma troca total é necessária. Substituamos o Hino Nacional por completo, letra e música. Que ele seja um laudatório e uma elegia à mandioca, um altar e um relicário à macaxeira, ao aipim.
Nem há a necessidade de compô-lo, apenas a de escolhê-lo em sufrágio popular, em um plebiscito que mobilize e sensibilize toda a nação às suas verdadeiras raízes, pois dois sérios candidatos já existem : A Massa, de Raimundo Sodré, e Farinha, de Djavan. O Hino de Raimundo Sodré tem um apelo mais popular, em oposição ao de Djavan, mais poética, mais "cabeça". Opine leitor, dê seu voto. Qual das duas? A popular ou a refinada? O povo ou a "elite branca"? Mais uma vez, já tô vendo onde essa merda vai dar!
A Massa
(Raimundo Sodré)
A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos, igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar


Moinho de homens que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais
Amassando a massa, a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)


A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos, igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

Moinho de homens que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais
Abraçando a massa, a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

When I remember of "massa" of manioc (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Nunca mais me fizeram aquela presença, mãe (da massa)
Da massa que planta a mandioca, mãe (da massa)
A massa que eu falo é a que passa fome, mãe (da massa)
A massa que planta a mandioca, mãe (da massa)
Quand je me souviens da la masse du manioc, mère (da massa)
Quand je rappele de la masse du manioc, mère (da massa)


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Lelé, meu amor lelé, no cabo da minha enxada, não conheço "coroné"!
No cabo da minha enxada, não conheço "coroné"!
Eu quero, mas não quero (camarão), mulher minha na função (camarão)
Que está livre de um abraço, mas não está de um beliscão!
Torna a repetir meu amor: (ai, ai, ai!)
Torna a repetir meu amor: (ai, ai, ai!)
É que o guarda civil não quer a roupa no quarador!
O guarda civil não quer a roupa no quarador!
Meu deus onde vai parar, parar essa massa!
Meu deus onde vai rolar, rolar essa massa!


Farinha
(Djavan)
A farinha é feita de uma planta da família das
euforbiáceas, euforbiáceas
de nome manihot utilissima que um tio meu apelidou de macaxeira
e foi aí que todo mundo achou melhor!...
a farinha tá no sangue do nordestino
eu já sei desde menino o que ela pode dar
e tem da grossa, tem da fina se não tem da quebradinha
vou na vizinha pegar pra fazer pirão ou mingau
farinha com feijão é animal!
o cabra que não tem eira nem beira
lá no fundo do quintal tem um pé de macaxeira
a macaxeira é popular é macaxeira pr`ali, macaxeira pra cá
e em tudo que é farinhada a macaxeira tá
você não sabe o que é farinha boa
Farinha é a que a mãe me manda lá de Alagoas

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