Em 2001 - virada do século, alvorada voraz -, eu, a residir em cidade alheia, estava certo dia a caminho do almoço com uma amiga do trabalho, que estava louquinha pra me comer, e dei uma parada numa dessas lojas de 1,99, para comprar uns incensos.
Acostumada ao meu pragmatismo e à minha paudurescência, ela estranhou. Disse que jamais poderia imaginar que eu gostasse de incenso, que eu acreditasse - ela acreditava - nesse papo de purificar o ambiente, de bons fluidos etc. Respondi-lhe que não acredito, mesmo; e antes que a interrogação desenhada em seu rosto se verbalizasse, eu disse que comprava incenso porque gostava do cheiro, e ponto.
Não tenho nenhum pendor para o místico, para o transcendental, para o extrassensorial. Sou puramente sensorial! Gosto do que me agrada aos sentidos. Quando gosto, gosto pelo que a coisa de fato é e não pelo sentido metafísico ou pelos supostos benefícios ou propriedades abstratas que ela possa ter, ou a que ela atribuam. Até porque, nesse caso, o do incenso, fumaça e monóxido de carbono purificando o ambiente? Tá de sacanagem, né? Ora, vá à merda! Gosto do cheiro, e ponto.
E qual a essência de incenso que você mais gosta?, ela perguntou, me comendo com os olhos. Nem sei distinguir uma da outra, respondi. Pra mim, é tudo igual. É feito macarrão miojo, tá lá que é de carne, de galinha (como se galinha não fosse carne), de legumes, de feijão, mas todos têm o mesmo gosto, só muda a ilustração da embalagem. Assim é com o incenso, disse a ela, é tudo a mesma coisa, só muda a florzinha ou o mato estampados na caixinha.
Na verdade, só aqui entre nós, tenho cá, sim, minhas preferências. Gosto de cânfora, de violeta, de café - esse último muito difícil de ser encontrado. Mas ela estava ávida e à captura de um macho que bem lhe traçasse, de um varão varonil, praticamente de um ogro. E eu respeito muito o meu público cativo, dou exatamente o que ele espera de mim. Eu não ia, portanto, nesse caso, ficar falando das diferentes nuances entre o sândalo branco e o sândalo rosa, do almiscarado do benjoim, das notas adocicadas do jasmim, ou das cítricas da erva-doce e do alecrim.
E quanto mais bronco eu me mostrava, mais ela se molhava, se encharcava, se derretia, se consumia em brasa feito mesmo uma vareta de incenso.
E sim, ela conseguiu o que tanto queria : passei-lhe a vara! Então, mostrei a ela o meu incenso predileto, o pau em riste a exalar essência e bons fluidos de buceta pelo ar (incenso de cu também é bom, mas era nosso primeiro encontro e certos gostos não devem ser ditos assim, logo de cara).
Só não deixei ela acender, claro.
Pode apertar, minha filha, só não vá acender agora!
2 Comentários
Boa Marreta, esse sim é um dos seus bons e velhos textos, e não aquela lenga lenga de versinhos achando que vai comer alguma garotinha. Incenso neles, Marreta. Você deve (ou ainda é) um grande pegador, deve ter comido muitas, e pelo jeito gosta de um anal, também (você é nordestino?). Pois por aqui e praxe comermos um xibil.
ResponderExcluirRapaz, eu gosto dos versinhos, também. Acredite ou não eles já me renderam boas bucetas. De que lugar do nordeste você é? Que paraíso é esse em que é praxe a mulherada liberar o girassol?
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