SETEMBROCHOVE

De duas décadas para cá, paulatinamente, Ribeirão Preto está a se tornar uma franquia do deserto de Atacama. Já de saída, a cidade foi construída em uma depressão, em uma panela de um vulcão extinto, e, convenhamos, nada construído dentro de uma panela pode oferecer clima dos mais aprazíveis. 
Dessa forma, massas de ar quente se instalam sobre a cidade e formam uma espécie de tampa para essa panela, a impedir a entrada de massas mais úmidas e arautas de chuva; só forte vendavais - já houve até um tornado - para destampar a panela do diabo.
Ainda em decorrência de ocupar território onde nos primórdios rugia um iracundo vulcão, o solo é dos mais ricos, a chamada terra roxa, resultante da decomposição, principalmente, do basalto. Assim, não bastasse a baixa altitude geográfica a dificultar a chuva, Ribeirão Preto, desde a sua fundação, foi vítima do que chamam hoje de progresso.
Duas "ondas verdes" acabaram por desgraçar com o clima, acabaram por torná-lo mais seco que cu de camelo. O ciclo do café, no século XIX, e agora o novo ciclo da cana-de-açúcar, que transformou a região de Ribeirão Preto num dos principais centros sucroalcooleiros do país. Que orgulho, né? Orgulho porra nenhuma. Primeiro que nenhum centavo desse "progresso" todo cai no meu bolso, fica tudo nas contas dos usineiros e políticos da região; depois, com a aniquilação da pouca cobertura vegetal que ainda circundava a cidade, a umidade do ar foi pras picas. É a vegetação que retém a umidade, que torna o clima de um local mais ameno, mais respirável, literalmente.
Duas monoculturas - a do café e a da cana - elevaram a já seca e quente Ribeirão Preto ao status de tórrida e esturricada. Não raro, entre os meses de maio de agosto, a umidade do ar cai a níveis verdadeiramente desérticos, 20%, 14%, 11%. Mas é o progresso, não é? É o desenvolvimento econômico. O país precisa crescer. É o PIB, é o superavit. É o caralho. As pessoas preferem ter combustível para colocar em seus carros do que um ar respirável e água para beber.
Só uma coisa ainda nos salva, ainda nos redime, nos mantêm vivos. É que alheia a todas essas adversidades, a todas essas oposições, uma máxima universal sempre se cumpre por essas épocas do ano. Pode a cidade ter sido erigida em um buraco, pode o ser humano ter depredado o meio ambiente e ferrado com o clima, pode acontecer qualquer outra merda que for, há um imperativo cósmico que, acima de tudo isso, impõe sua inexorabilidade : SETEMBROCHOVE!!!
E não tem jeito. Aconteça o que acontecer, ou o que deixar de, SETEMBROCHOVE!!!
E aí, 'cê tem brochove? Tem, claro que tem. Pode querer negar, pode querer esconder, não há como, SETEMBROCHOVE!!!
E o contrário também é verdadeiro e irrevogável. Antes de entrar setembro (como diria Beto Guedes), não há o que fazer para que a chuva caia. Nem novena nem trezena nem dança da chuva apache nem sacrifício de virgem para algum deus pagão das tempestades. Tem que esperar setembro. SETEMBROCHOVE!!!
Tanto chove, que de ontem para hoje, perto da meia-noite, uma boa chuva desabou. Veio bruta, trazendo mais terra que água, desajeitada, talvez pela falta de prática em por aqui cair, mas veio. Já foi um dia de horizontes menos empoeirados - há por aqui o fenômeno da névoa seca -, de ares mais navegáveis.
SETEMBROCHOVE!!! E choveu!!! Só não veio junto a gostosa da foto abaixo. Mas ai não é nem questão de pedir que chova, é querer que chova na minha horta. Aí, eu nem mereço.
Esta postagem é em homenagem aos meus amigos - citados aqui pela ordem cronológica em que os conheci, para evitar possíveis ciúmes -, Marcelo (o famoso Leitinho), Marcellão e Fernandão. Que eu bem sei que vocês gostam de "uma chuvinha em cima".

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4 Comentários

  1. Já ia me esquecendo......quando vamos matar aquelo nobre whisky que abrimos lá em casa????

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    1. Rapaz, na hora em que você mandar. Por mim, pode ser nesse sabadão.
      Aliás, devo confessar que, inicialmente, não me agradou muito o gosto daquele legítimo paraguaio, mas fui insistindo com ele aqui em casa, aos poucos e aprendi a apreciá-lo. Acho que eu não tinha entendido direito o blend dele.

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  2. Bom...eu vou de cerveja mesmo. Agora...acho que você é que vai ter que dar as caras aqui em Franca, pois eu nunca vi uma missão mais difícil do que essa nossa cerveja. É uma vergonha!

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    1. Pois é, tanto tempo pra tomar uma cerveja... O velho Pebim ficaria triste.

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