Atletas de Cristo se Unem Contra Tupã

Já disse algumas vezes e repito : Nero é o grande culpado de tudo!
Não tivesse sido tão incompetente, o mais famoso tocador de lira romano, hoje não teríamos que tolerar (e temer, e manter sempre um pé atrás) a praga do cristianismo. Nero deveria ter mandado importar leões, uma vez que o estoque do Coliseu se mostrou insuficiente.
Nero foi perspicaz e certeiro em identificá-los como uma praga insurgente, os cristãos; porém, não foi hábil o suficiente em sua dedetização, ou, talvez, tão megalomaníaco quanto o Império que comandava, os tenha subestimado, tenha mal julgado a dimensão que a praga poderia tomar.
Feito cupins que vão infestando e solapando o arcabouço de uma edificação, o cristianismo, ao longo desses quase 2000 anos, infestou e carcomeu todo o vigamento, todo o madeirame do pensamento racional humano. Trocou-o pelo tacanho pensamento mágico, pela miserável dualidade do bem/mal, virtude/pecado, cristo/fogueira. Sem meios-termos, sem nuances, sem a beleza que é a multiplicidade do pensamento racional. Todo o potencial humano para o plural reduzido a um capenga maniqueísmo, toda a vocação humana para a grandeza restringida a uma humilhante submissão.
Todo pensamento, opinião, comportamento contrários à pobreza de espírito do cristianismo, ao pensamento mágico reducionista, ao deus-dará, passaram a ser ferreamente combatidos, reprimidos, sufocados. Incinerados. Arrisco-me tranquilamente em dizer que todas as neuroses de que o ser humano é vitima atualmente tem suas origens na repressão religiosa. Todos os desejos e impulsos naturais, segundo o cristianismo, são sujos, coisas do demo, devem ser evitados, combatidos, e, se praticados, uma culpa enorme deve incidir sobre o pecador, culpa só não maior que a penitência a lhe ser infligida. É mesmo uma máquina de criar doidos, desequilibrados.
Os psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e outros que tais devem suas profissões e seus sustentos ao cristianismo e aos seus meio-irmãos, o judaísmo e o islamismo, as três crias mal nascidas de Abraão. Ergam seus altares a Abraão, seus psicocharlatães, não a Freud.
O fato é que se o invasor não é detido a tempo, ele se assenhora do território alheio, torna-se o dono da casa.  Os que se diziam "perseguidos", uma vez donos da situação, mostram-se perseguidores e algozes ainda mais implacáveis.
E os cristãos estão por aí, exigindo tolerância religiosa para si e praticando sua intolerância para com os outros em nome de Cristo, cuspindo sua fé e seu pensamento torto na cara de todos. Colocaram o deus deles na moeda do país, abrem um igreja ao lado da sua casa, fazem barulho até altas horas e nada pode ser feito contra eles, tentam a todo momento aprovar leis canalhas que os favoreçam, como impor ensino religioso nas escolas públicas, aqui na cidade em que moro, um padre reza uma missa todas as quartas-feiras em uma praça bem no centro da cidade, sem pagar nada pela utilização do espaço público, muitas igrejas são construídas em terrenos doados por prefeituras, colocam outdoors - quem nunca viu um desse? - à entrada das cidades dizendo que tal município é do senhor Jesus etc etc.
Agora, a ignorância cristã está infectando até outra grande ignorância nacional, o futebol.
Jogadores cristãos - católicos e evangélicos - do Guarani Futebol Clube, de Campinas, estão incomodados, mesmo ofendidos em sua fé, pela figura da mascote do clube, um índio bugre estampado na camisa do time, ao lado do emblema do Guarani - os guaranis foram a mais representativa das etnias indígenas da América do Sul, em seu auge, ocupavam territórios da Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil. Devido à sua condição de não cristãos, eram chamados de bugres pelo europeu.
Querem a retirada do índio da camisa do time. São os atletas de Cristo contra Tupã.
Pois bem, mas em que tanto incomoda, aos cristãos do Guarani, a figura altiva de nosso nobre silvícola? Com a palavra, a burrice e a mesquinhez cristã : os evangélicos não acreditam em imagens, logo, a imagem do pele-vermelha poderia ser interpretada como uma idolatria; os católicos idolatram imagens, porém, a imagem do índio caboclo não é cristã, remete ao candomblé e ao espiritismo.
Além disso, como forma de reforçar o pedido a Álvaro Negrão, presidente do clube, os atletas de Cristo alegam que os resultados foram negativos desde a adoção da herética mascote : apenas uma vitória, contra duas derrotas e três empates, o que deixou o Guarani entre os últimos colocados no Campeonato.
Os escrotos de Cristo são os maiores pernas-de-pau, não jogam porra nenhum, são refugos de um timezinho da série C do campeonato brasileiro e a culpa é do bugre? Pããããta que o pariu!!!
O nome do time é Guarani, o que esses lambedores de saco de Cristo queriam que tivesse estampado em seu uniforme? A figura do Cristo, com arco e flecha, cocar e tanga? Bom, de tanga, o Cristo já está.
Mudem de time, ora porra. Fundem o seu time cristão. Ao invés de homenagear a tribo dos guaranis, rendam tributos a uma das doze tribos de Israel, fundem o Levi Futebol Clube, o Clube de Regatas de Judá, a Sociedade Esportiva de Efraim. E, no lugar do bugre, coloquem a foto de Abraão, ao lado da esposa Sarah, de suas concubinas e de sua filharada, legítimos e bastardos, que é bem o retrato da tradicional família da Bíblia Cristã.
E o pior : a direção do clube, como forma de deixar "confortáveis" os jogadores, exterminou o índio da insígnia do clube. "O pedido dos jogadores foi para tirar. Eles iam se sentir mais confortáveis para atuar. Isso foi atendido. Estamos fazendo de tudo para que os jogadores fiquem confortáveis”, afirmou um dirigente do Guarani Futebol Clube.
Alguém que seja do ramo, que entenda do traçado, deveria invocar o Caboclo Sete Flechas contra os atletas de Cristo e em defesa do bugre guarani. Sete flechas das taludas disparadas pela certeira entidade bem no meio do cu dos cristãos. Garanto que pelo menos uns dois ou três iriam se converter, iriam ter uma "revelação" com a experiência, uma epifania.
Eis a camisa da discórdia. E o tal do bugre é tão estilizado, é tão mal desenhado, que só dá pra saber que é um índio se alguém falar.

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1 Comentários

  1. É difícil para mim comentar seu texto, pois sou católico (praticante). E é muito difícil ser católico hoje em dia, pode acreditar. Eu continuo sendo porque preciso do conceito de divindade para não enlouquecer. Resumindo: eu preciso mais de Deus do que ele de mim, como não canso de repetir. A merda toda é que nem todos os que se dizem “cristãos” têm fé. O que a maioria tem é crença, crendice, superstição. Eu percebo esse equívoco com mais intensidade nos evangélicos, especialmente nos neopentecostais.
    Sinceramente, não quero ofender ninguém, mas, para mim, o simples fato de alguém se declarar “crente” já define seu grau (elevadíssimo) de ignorância, de falta de cultura e de inteligência. Porque não vejo um luterano, um metodista ou um anglicano se declarar “crente” ou “evangélico”. Caralho, todos os cristãos, aí incluídos os católicos, somos “crentes” e “evangélicos”. Aliás, eu me considero mais “evangélico” que aqueles que se dizem assim. Porque o barato para mim são os Evangelhos. O Antigo Testamento só serve basicamente para fazer novelas e filmes ridículos.
    Têm mais, só os idiotas, os iletrados e os semianalfabetos conseguem frequentar as nova$ igreja$ cristãs. E, vamos combinar, a maioria dos jogadores de futebol (eu disse maioria) é formada por analfabetos funcionais. Daí o equívoco dos jogadores do Guarani de creditar a sua própria incompetência futebolística ao emblema do índio (sinceramente, eu devo ser mais burro que eles, pois não consegui enxergar o merda do índio!). Se você pensar bem, eles acreditam mais em macumba e bruxaria do que nos princípios cristãos.
    Sendo você ateu, deve cagar mole para comentários como os meus. Mas, o que eu penso é o seguinte: os fundadores das grandes religiões (excluído o islamismo) não sistematizaram nada; quem engessou, criou ritos, fez cagadas foram seus seguidores, aqueles que achavam que tinham a guarda dos ensinamentos. E tome interpretação equivocada, manipulação de palavras, crenças malucas, rituais idiotas e por aí. Desculpe o tamanho do comentário, mas eu sou meio que viciado em temas “religiosos”.Outra coisa, não precisa publicar isso, pois, como disse um antigo colega a propósito de e-mails enviados para "centas" pessoas, “isso não é um megafone eletrônico”, nem eu sou um pregador.

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