Temporada das Flores. E dos Cogumelos.

Queixa-se, talvez acostumado e afeito ao abrasador clima da cidade, o ribeirão-pretano Kiko Zambianchi : "o meu corpo viraria sol, minha mente viraria sol, mas só chove e chove, chove e chove ôôô".
Pois compactuo, eu, com o paulistano da terra da garoa e da neblina Guilherme Arantes : "deixa chover, deixa a chuva molhar..."
Há tempos que a tórrida e fétida Ribeirão Preto não era ungida por um período de tão extensas chuvas, há tempos que não tínhamos um janeiro de temperaturas tão bem educadas e cordiais. Adoro a chuva. Adoro o céu nublado, que nada tem de carrancudo para mim, sim de simpático e sorridente. O tempo continuará feio, diz o escroto e sem assunto repórter da TV local. Feio para quem, cara de cu com gel? Adoro o cinza a pairar sobre minha cabeça a me fazer as vezes de um sombrero mexicano. Acho a neblina de uma beleza deslumbrante.
Fora toda a vida que ressurge com a rega generosa das águas pluviais, que desperta de sua hibernação. O morro do Bosque Municipal, de uma calvície obscena em tempos de seca, parece ter feito implante clorofilar, está com uma basta e potente cabeleira green power. Idem para o Parque Curupira. Nas calçadas, dos pés das árvores, de cada greta das lajotas, de cada fresta do meio-fio, acena-me uma mão verde, das mais variadas espécies do que o populacho chama de "mato". Há flores - roxas, amarelas, alaranjadas, brancas - por todo lado que se olhe.
E tanta copiosidade há nos beberrões e saciados solos que até habitantes de outro reino, além do vegetal, deram as há tanto ausentes caras. Até os albinos cogumelos estão a brotar em profusão pelas praças. Tanto em quantidade quanto em variedade de espécies. Nem me lembro de quando eu vi cogumelos nascendo e crescendo pelas praças. 
Sou licenciado em Biologia (o que é muito diferente e infinitamente distante de ser um biólogo, como muitos com a mesma formação que eu se autodenominam), não me especializei em nada, mas se tivesse, teria sido no reino dos fungos, especialmente em seus indivíduos mais célebres, os cogumelos. Cogumelos (fungos) não são nem vegetais nem animais.
Cogumelos, embora apresentem estruturas que lembrem caules e raízes, não são "plantinhas", não têm clorofila, condição sine qua non para ser aceito como sócio do reino vegetal. Ou você já viu algum cogumelo verde? Se sim, é porque, na certa, tomou um chá de cogumelo.
Cogumelos, feito as plantas com que são confundidos, apresentam células revestidas de parede celular,  estrutura ausente nas células animais, é bem verdade, porém, tal envoltório não é composto de celulose, como o das plantas, é feito de quitina, proteína componente do exoesqueleto, da "casca", de insetos e crustáceos. Em lugar do amido, magna substância de reserva dos vegetais, os cogumelos armazenam glicogênio, o mesmo carboidrato de reserva dos animais - nossos fígados e músculos são depósito dele.
Nem planta nem bicho. Fungo, cogumelo, simplesmente. Inclassificável. Define-se por sua indefinição. Encantam-me e me fascinam os híbridos, as quimeras.
Tanto que em meus sonhos acordados, todos da mais completa inércia prática, pois meu comodismo, preguiça e falta de vergonha na cara nunca me deixarão concretizá-los, vejo-me aposentado, morando em uma pequena gleba de terra, longe de qualquer risada humana, a fazer minha própria cerveja, o  meu próprio queijo e a cultivar meu particular pomar de cogumelos.
Olhem só que belezuras, que belos agrados da natureza para os olhos de quem ainda se dispõe a ver. O primeiro a crescer no canteiro central de uma grande e fuliginosa avenida perto de casa; o segundo e o quarto, em uma praça onde levo meu filho para andar de bicicleta; o terceiro, em uma marginal de uma rodovia, pela qual faço minhas caminhadas quase que diárias.

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2 Comentários

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    1. Verdade, acho que quem mora em Londres, por exemplo, deve maldizer o tempo úmido, mas nós, destes tristes trópicos, temos que aproveitar essas exceções do clima.

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