Hologramas de Rockeiros Mortos

Tu me mandas
Teu e-mail
Teu whats
Teu face
Teu twitter
Teu insta
Teu linkedin :
Dados pessoais dos curriculum vitae
Destes nuviosos tempos.
 
Gosto,
Claro que gosto.
Sabes que gosto de saber de ti.
 
Será que podes me mandar,
Se for possível,
Por favor, 
Também de volta
Aquele tempo em que :
Teu CEP era o meu RG,
Teu pombo-correio era funcionário da ECT cuja rota passava pelo meu portão,
Os sinais de fumaça do teu incenso eram o código Morse dos tambores da minha selva,
Teu sangue era o único no planeta compatível com o meu e os transfundíamos por telepatia?
 
Podes me enviar,
Se possível,
Encarecidamente,
Também o passado?
Sem o qual,
Simplesmente,
Não existimos?
Sem o qual,
Tristemente,
Não fazemos sentido?
E somos só hologramas de rockeiros mortos a fazer uma jam session no palco dos vivos? 
 

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4 Comentários

  1. “Podes me enviar,
    Se possível,
    Encarecidamente,
    Também o passado?”
    Isso ficou muito bonito.

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    Respostas
    1. E eu pensei nisso de manhãzinha, caminhando, sóbrio. Dá pra acreditar?
      As caminhadas, a liberação de endorfinas para a musculatura, a oxigenação e irrigação do cérebro também trazem, vez ou outra, boas inspirações. Eu escrevo bastante enquanto caminho, na cabeça, é claro; aí chego em casa e passo para o papel.
      Uma vez, uma amiga minha perguntou por que eu não andava com um gravadorzinho para ir registrando as ideais, pois vá que eu as perdesse antes de chegar em casa. Primeiro que andar com um gravadorzinho é um tanto pernóstica, pedante, mesmo. Depois que, conforme eu vou repetindo as ideias na cabeça, justamente para tentar não esquecê-la, feito como quem repete a matéria da prova até decorar, as ideias podem ir mudando, ganhando palavras, frases, estrofes, vão sendo amaciadas, digamos assim. E se acontecer de eu esquecer de algo - e já aconteceu várias vezes - é porque não valia a pena registrar.
      Essa poesia, eu sai com a ideia na cabeça e ela foi se montando inteirinha ao longo dos meus 8 km de caminhada. Cheguei em casa, fui ao caderno e registrei, em nem cinco minutos. Mas levou umas duas horas para a sua maturação.

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    2. O Leo Jaime disse uma vez que andava com um bloco de anotações e um gravador. Pintava uma letra? Escrevia. Pintava uma melodia? Gravava. Eu não entendo porra nenhuma de smartphones, mas parece que alguns (não sei como!) transformam a fala em texto. Deve ser o canal para não perder nada.

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  2. Rapaz, um mágico não revela seus truques.
    Bom que tenha gostado.

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