Uma farmácia, em uma pequena cidade encravada em algum rincão esquecido do vasto interior do país. Antiga, a farmácia; tanto que mais fidedigno seria lhe designar por botica.
Arandelas com lâmpadas de vapor de sódio à entrada, piso quadriculado de preto-e-branco, balcão de maciça, grossa, pesada e aromática madeira de lei com ornatos entalhados à mão e fileiras de pequenas gavetas a conter as mais variadas ervas, unguentos e elixires, paredes de pé-direito altíssimo, forradas do rés do chão ao forro com coloridas embalagens e cujas prateleiras superiores só podem ser alcançadas através de uma longa escada que corre por trilhos horizontais.
Uma farmácia com "ph", um daqueles locais onde o tempo encosta para descansar, onde o tempo pára para dar um tempo, tomar um café, prosear um pouco, ler uns almanaques Biotônico Fontoura velhos, onde o tempo para por passatempo, para matar um pouco de tempo.
Um rapaz, visivelmente um forasteiro, adentra a botica. Sua estrangeirice é evidenciada por suas roupas, seu corte de cabelo, sua postura e jeito de andar, seus aparatos eletrônicos, sua idiotice, enfim. Dirige-se ao velho boticário.
- E aí, meu tio, o senhor tem aí vaselina, daquela boa, de qualidade mesmo, preço não é problema, sabe como é, né? - e se curva um pouco sobre o balcão, fala mais próximo ao boticário, adotando um tom de confidencialidade - hoje é uma ocasião especial, hoje eu vou comer um cu.
O boticário vai até os fundos da loja, em seu estoque, e volta com o pedido do rapaz, que abre o pote, toma uma porção da pasta entre os dedos polegar e indicador e começa a testar suas propriedades :
- Huumm... tem uma boa oleosidade, uma boa viscosidade, mas - e levando os dedos ao nariz - não tem um cheiro muito bom... por acaso, o senhor não tem aí uma mais cheirosa? Sabe como é, né? Hoje eu vou comer um cu.
O boticário retorna ao seu estoque e entrega outro pote de vaselina ao exigente rapaz.
- Huuumm... cheiro bom... framboesa, né? Mas - friccionando a nova vaselina entre os dedos - essa é um pouca áspera, abrasiva. Será que o senhor não tem uma com uma boa lubrificância e um cheiro agradável? Sabe como é, né? Hoje eu vou comer um cu.
O boticário responde afirmativamente à pergunta do rapaz, mas alerta-o de que é um produto importado, mais expensivo.
- Não tem erro, meu tio, já falei que hoje não vou ficar com miserê, não. Sabe como é, né? Hoje eu vou comer um cu.
O boticário, mais uma vez, vai aos fundos da loja e passa um novo pote às mãos do criterioso rapaz.
- Hummm... oleosidade excelente, bem escorregadia, cheiro suave e agradável, sabendo à lavanda e calêndula... pode embrulhar, meu tio.
Assim que o rapaz sai, um velhinho, desses que ficam sempre sentados aos cantos, só picando seu fuminho de corda, só pitando seu cigarrinho de palha de milho, começa a rir com gosto, desbragadamente.
- O que foi? - pergunta-lhe o boticário - Do que tanto ri, seo Antenor?
- Esse rapaz... - começa o velhinho, entre risos represados, puxadas de pigarro e tosse (velhinho já tosse pelas duas bocas) - esse rapaz não vai comer um cu coisa nenhuma, ele vai é dar o cu!
- Que é isso, seo Antenor? Deixe de ser maldoso, o senhor nem conhece o rapaz e fica aí falando que ele vai dar o rabo.
- Pois eu garanto, meu filho. Esse rapaz, hoje, vai é dar! Por acaso, você já viu alguém se preocupar tanto com o cu dos outros?
Todas as idas e vindas do boticário aos fundos da loja, todas as explicações e especificações do rapaz e, principalmente, a revelação, aos olhos argutos do seo Antenor, da sexualidade enrustida do forasteiro, poderiam ter sido evitadas, no mínimo abreviadas, se tanto o boticário quanto o rapaz conhecessem a Vaselina Pacu, Especial Para Profissionais.
Um rapaz, visivelmente um forasteiro, adentra a botica. Sua estrangeirice é evidenciada por suas roupas, seu corte de cabelo, sua postura e jeito de andar, seus aparatos eletrônicos, sua idiotice, enfim. Dirige-se ao velho boticário.
- E aí, meu tio, o senhor tem aí vaselina, daquela boa, de qualidade mesmo, preço não é problema, sabe como é, né? - e se curva um pouco sobre o balcão, fala mais próximo ao boticário, adotando um tom de confidencialidade - hoje é uma ocasião especial, hoje eu vou comer um cu.
O boticário vai até os fundos da loja, em seu estoque, e volta com o pedido do rapaz, que abre o pote, toma uma porção da pasta entre os dedos polegar e indicador e começa a testar suas propriedades :
- Huumm... tem uma boa oleosidade, uma boa viscosidade, mas - e levando os dedos ao nariz - não tem um cheiro muito bom... por acaso, o senhor não tem aí uma mais cheirosa? Sabe como é, né? Hoje eu vou comer um cu.
O boticário retorna ao seu estoque e entrega outro pote de vaselina ao exigente rapaz.
- Huuumm... cheiro bom... framboesa, né? Mas - friccionando a nova vaselina entre os dedos - essa é um pouca áspera, abrasiva. Será que o senhor não tem uma com uma boa lubrificância e um cheiro agradável? Sabe como é, né? Hoje eu vou comer um cu.
O boticário responde afirmativamente à pergunta do rapaz, mas alerta-o de que é um produto importado, mais expensivo.
- Não tem erro, meu tio, já falei que hoje não vou ficar com miserê, não. Sabe como é, né? Hoje eu vou comer um cu.
O boticário, mais uma vez, vai aos fundos da loja e passa um novo pote às mãos do criterioso rapaz.
- Hummm... oleosidade excelente, bem escorregadia, cheiro suave e agradável, sabendo à lavanda e calêndula... pode embrulhar, meu tio.
Assim que o rapaz sai, um velhinho, desses que ficam sempre sentados aos cantos, só picando seu fuminho de corda, só pitando seu cigarrinho de palha de milho, começa a rir com gosto, desbragadamente.
- O que foi? - pergunta-lhe o boticário - Do que tanto ri, seo Antenor?
- Esse rapaz... - começa o velhinho, entre risos represados, puxadas de pigarro e tosse (velhinho já tosse pelas duas bocas) - esse rapaz não vai comer um cu coisa nenhuma, ele vai é dar o cu!
- Que é isso, seo Antenor? Deixe de ser maldoso, o senhor nem conhece o rapaz e fica aí falando que ele vai dar o rabo.
- Pois eu garanto, meu filho. Esse rapaz, hoje, vai é dar! Por acaso, você já viu alguém se preocupar tanto com o cu dos outros?
Todas as idas e vindas do boticário aos fundos da loja, todas as explicações e especificações do rapaz e, principalmente, a revelação, aos olhos argutos do seo Antenor, da sexualidade enrustida do forasteiro, poderiam ter sido evitadas, no mínimo abreviadas, se tanto o boticário quanto o rapaz conhecessem a Vaselina Pacu, Especial Para Profissionais.
Vaselina Pacu!!! Pãããããta que o pariu!!! É como diz o Zé Simão : o brasileiro é lúdico!!!
O nome do produto é mais que autoexplicativo quanto aos seus usos e utilidades. Um primor de síntese.
E não se deixem enganar pelas indicações explícitas no verso do produto, são só para disfarçar e evitar problemas com os órgãos de defesa do consumidor e reguladores de publicidade, a vaselina Pacu se presta exatamente ao que o nome diz : lubrifica e protege vários tipos de rosca, a frouxa, a espanada, a queimada, também dá um trato especial no anel de couro e azeita a argola.
Se conhecessem a vaselina Pacu, o boticário e/ou o rapaz, tudo teria sido mais simples, todo o constrangimento poderia ter sido evitado.
Quando o assunto é sacanagem, o brasileiro é genial, insuperável.
E não se deixem enganar pelas indicações explícitas no verso do produto, são só para disfarçar e evitar problemas com os órgãos de defesa do consumidor e reguladores de publicidade, a vaselina Pacu se presta exatamente ao que o nome diz : lubrifica e protege vários tipos de rosca, a frouxa, a espanada, a queimada, também dá um trato especial no anel de couro e azeita a argola.
Se conhecessem a vaselina Pacu, o boticário e/ou o rapaz, tudo teria sido mais simples, todo o constrangimento poderia ter sido evitado.
Quando o assunto é sacanagem, o brasileiro é genial, insuperável.
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