Cepas Mutantes

A poesia
Em mim
Ataca em períodos curtos
Em surtos.
De malária
De dengue
Em pandemia de peste.

A poesia
Em mim
Musa a saquear-me
A deixar-me anêmico
De sangue e sêmen
Nômade a levantar acampamento
Quando minhas palavras descarnadas
Não conseguem pantografar
Sua vaidosa autoimagem.
Quando eu
Mero espelho
Me confundo
Me embaralho em meus pixels
E não produzo a imagem que lhe apraz.

A poesia
Em mim
Aconchega-se em minha cama
Em minhas cobertas
Em meu pau
Quando gordo antepasto lhe pareço.
Vai-se embora de madrugada
Sem recado nem bilhete
Quando lhe apresento
Minhas famélicas mandíbulas
Meu príapo sequioso de suas entranhas
De seus esgotos.

A poesia
Em mim
Chega em recidivas
Diva cheia de quereres
Infecta
Rói, corrói
Debelo-a
E ela se vai.

A poesia
Em mim
Volta
Madalena arrependida
Puta desvalida
Smpre disfarçada
Diferente de dantes
Chega-me em recaídas
Em cepas de vírus mutantes
Infecta
Rói, corrói
Debelo-a
E ela se vai

E volta
E se vai
E volta
E se vai.

A mim
Só resta manter a paciência
Só resta manter minha porta destrancada.
A mim
Só resta conservar-me vivo
(À espera dela)
Enquanto estiver saudável.

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