Antigamente, o lema era : vestir a camisa da empresa.
Vistam a camisa da empresa, bradavam os patrões, ou os chefes e gerentes de setores, os seus mandatários, à guisa de motivação de seus subalternos, como um edital de convocação para uma guerra em que os interesses de todos estivessem em jogo, em que cada fronteira individual estivesse prestes a ser violada, e não somente o lucro do patrão.
Vistam a camisa, diziam, como o Tio Sam a dizer, I want You, como um técnico a convocar os seus soldados de chuteiras e sem cérebros para defender as traves feito a uma Termópilas.
Vistam a camisa, e sorriam os patrões, a dar ao escravo a sensação de que ele é livre, de que é uma honra e uma realização pessoal contribuir para o incremento das posses do patrão, como se suas fossem.
Vistam a camisa, como se algo lhes pertencesse, como se pertencessem a algo, como se não fossem mais baratos e descartáveis que os parafusos e porcas que apertam e ajustam.
Hoje, a ordem do dia é outra : saiam de suas zonas de conforto.
Saiam de suas zonas de conforto, dizem os supervisores, ou melhor, os gestores, que patrão, hoje, virou gestor, como a querer nos dizer para inovarmos em nossas ações e métodos, para empreendermos em uma empresa que não nos pertence ou num sistema público que não nos favorece, que não nos paga o devido.
Saiam de suas zonas de conforto, deem novas ideias para que melhor os exploremos, para que mais ganhemos às suas custas. Saiam de suas zonas de conforto, proponham soluções para que melhor lhes ponhamos a brida, e que mais leve ela lhes pareça.
Saiam de suas zonas de conforto, escolham a cor das paredes, o tipo de piso, os quadros das paredes, zelem pela decoração de suas salas de tortura.
Saiam de suas zonas de conforto : nós instituímos o caos, deem vocês um jeito de manter a ordem.
Levei quase 30 anos para delimitar minha zona de conforto, minha modesta, frugal, quase monástica zona de conforto, tão modesta que é zona que nem puta tem. E agora vem uns paus-mandados, uns cus de bostas, e dizem, saia de sua zona de conforto?
Vão às putas que os pariram!
Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
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