Tremoço, Esse Injustiçado

No cumprimento de minhas tarefas do lar, estava eu no mercado, aguardando minha vez na fila do balcão de frios. Quando ouvi um senhor, já de vetusta idade, uns três lugares atrás de mim, pedir à pessoa logo à sua frente que lesse o preço do tremoço para ele.
O tremoço estava lá nas prateleiras - entre azeitonas, picles, alcaparras, cerejas e cebolinhas -, conservado em salmoura naqueles recipientes globulares de vidro, parecidos com um aquário. A pessoa olhou, olhou, e, com a maior cara de cu, confessou desconhecer a referida leguminosa; o senhor repetiu o pedido para a pessoa atrás dele, logrando o mesmo resultado.
Detalhe : tanto o sujeito da frente quanto o de trás traziam fardos de cerveja em seus carrinhos. Bebuns que desconhecem tremoço, uma vergonha.
Não tive como, fui obrigado a intervir. Li o preço para ele. Ele me agradeceu, mas disse que estava caro, e me deu a dica de um outro lugar que vende pela metade daquele preço. Ainda lamentou que cada vez menos pessoas conheçam o tremoço; muitos estabelecimentos, inclusive bares, nem mais o comercializam, informou-me ele, um especialista no assunto.
Despedimo-nos e, na sequência, já na fila do caixa, compus uma pequena homenagem ao tremoço, esse clássico tira-gosto tão desdenhado pelas novas gerações de bebuns. Ei-la :

Uma Pequena Ode Ao Tremoço
Não quero bife à milanesa,
Guardanapo, guarnição...
Não carece nem fazer almoço.
Fico mui guapo e bem nutrido
Com cerveja e tremoço.

Não precisa de espaguete à bolonhesa,
Pôr prato, talher...
Para que tanto alvoroço?
O dia fica muito mais divertido
Com cerveja e tremoço.

Dispenso a salada e o pavê por sobremesa,
Toalha de renda, faiança...
Deixemos de confusão, de angu de caroço.
Lava melhor a alma e aumenta a libido,
Cerveja com tremoço.

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