Os Necessários Podres Poderes

Em sua letra de "Podres Poderes", Caetano Veloso pergunta :
Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos?
A resposta é SIM, certo povos e culturas sempre precisarão de tiranos, ditadores, déspotas, rígidos pais que os conduzam. Inteligentíssimo que é, Caetano também sabia a resposta.
Alguns povos e países nunca chegarão à idade adulta, à sua fase responsável, nunca decidirão pelos ditames de suas vidas, nunca saberão andar pelas próprias pernas. E não é porque foram dominados ou oprimidos por regimes totalitários, não : é porque ser adulto e independente dá trabalho, decidir os próprios rumos e assumir os erros ao longo desse aprendizado é extremamente trabalhoso. É mais fácil e cômodo deixar que nos levem pela mão, que tenhamos sempre um Pai a nos guiar; no caso, o Estado representado por um ditador.
A primeira providência para um povo ser verdadeiramente independente é se educar. Estudar é chato, é maçante, é muito trabalho para nada; pergunte a um brasileiro médio e verifique se a resposta obtida será muito diferente do que acabei de dizer. Estudar é árduo. Não é mesmo para qualquer um.
E a tomada de suas próprias decisões, então? É dificílimo arriscar-se sem alguém a lhe mostrar o caminho. Estabelecer suas próprias diretrizes envolve imenso planejamento e raciocínio, cumpri-las, enorme disciplina. Planejamento, raciocínio, disciplina...muito trabalho, de novo. Quero meu pai, gritam esses povos, quero que o Estado seja meu eterno provedor, e os Estados lhes atendem, mas cobram-lhes incondicional obediência, o que é mais que justo.
Certos povos e países - e aqui os latinos e os africanos são campeões - nunca deixarão de ser eternas crianças (no mau sentido), esses povos se manterão infantiloides o resto de suas existências.
Saddam Hussein foi deposto e enforcado, e o Iraque libertado de sua tirania. Voltem lá no Iraque e vejam hoje a situação do povo : muito pior que nos tempos de Saddam. Simplesmente não sabem como equilibrar-se sozinhos; ruim com um ditador, desastroso sem ele.
Passem pelo Egito daqui a uns quatro ou cinco anos. A situação, tenho certeza, estará ainda mais calamitosa, pessoas já farão referências saudosas a Mubarak, afirmarão ao mais novos que aqueles foram bons tempos. E agora querem fazer o mesmo na Líbia, depor Kadhafi.
Povos que não gerenciam os próprios destinos são ingratos, além de preguiçosos são ingratos. Insatisfeitos, têm que encontrar um bode expiatório para sua incapacidade de cuidar da vida, via de regra, seus governantes. Tudo passa a ser culpa do indivíduo centralizador do poder. Ledo e prazenteiro engano. As misérias do Iraque, Egito e Líbia não são de responsabilidade, respectivamente, de Saddam, Mubarak ou Khadafi. É do próprio despreparo e comodismo de seus povos, que permitiram que figuras como essas surgissem e se estabelecessem.
Tais povos são mesmo infantiloides, são como aquelas crianças que, um belo dia, revoltam-se contra os pais, põem mochila às costas e decidem fugir de casa, fazer as próprias regras, não obedecer a mais ninguém. Findos a comida e dinheiro, voltam de mochila murcha para seus confortáveis quartos, veem que não fazem nem para pagar o papel com que limpam o rabo embosteado. Em breve, novos ditadores estarão estabelecidos no Iraque, no Egito e na Líbia, se Khadafi cair. Por que vocês acham que os EUA mantém tropas de paz no Iraque? Justamente para isso, para que o povo, de automático, não ponha outro ditador no lugar daquele a quem os EUA tiveram tanto trabalho para depor.
Conosco, brasileiros, não é diferente, embora possa parecer. Vivemos sob uma ditadura até hoje. Somos obrigados a nos alistar no exército, somos obrigados a votar, para exercer nosso direito de ir e vir temos que pagar pedágio, somos obrigados a responder ao CENSO (tentei não respondê-lo, de pronto, o fiscal do IBGE sacou uma cópia da lei que me obrigaria a fornecer dados pessoais ao Estado), como professor sou obrigado a aprovar alunos analfabetos porque o Estado estabeleceu um plano de metas, não posso mais definir o conteúdo de minha disciplina, tenho que dar a cartilha imposta pelo Governo etc etc.
Sim, Caetano, nós também sempre precisaremos de rídiculos tiranos, estejam eles trajando fardas verde-oliva, macacão de operário ou laquê e botox : sempre necessitaremos deles.
Ser independente, arcar com as consequências das próprias decisões, impor-se como indivíduo, diferenciar-se do rebanho, repito, dá muito trabalho. E, nós, povos colonizados, não temos predisposição ou afeição pela labuta, ou colonizados não teríamos sido. Melhor suportar uma chicotada e um ferro em brasa na bunda de vez em quando.
Minha solidariedade, aqui, por todos os ditadores do mundo, esses incompreendidos.

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