Acarajé Comanda Inflação Nacional

Quem tem por volta de seus 40 anos e frequenta supermercados regulamente, deve estar com uma pequena sensação de desconforto, uma ligeira apreensão, uma incipiente temeridade causada pela alta geral dos preços, receio este desencadeado por uma espécie de deja vu, lembranças de uma época de inflação galopante e não tão distante assim. Finais da década de 70 a meados da de 80, a inflação atingia fácil os 20% mensais, chegando a bater nos absurdos 80% mensais em 1985, quando não houve outro jeito : foram cortados três zeros da moeda, trocado seu nome para cruzado e congelados os preços, uma solução de desespero, um paliativo, foi a era dos Fiscais do Sarney e das tabelas da SUNAB. A verdadeira estabilidade da moeda nacional só foi conseguida a partir de 1994 com o Plano Real, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, estabilidade passada de mão beijada para Lula e que, parece-me, Dilma começa pôr a perder.
Foi uma época braba, os produtos tinham seus preços reajustados várias vezes numa mesma semana, e atingia todos os setores, alimentos, transportes, remédios, educação, eletrônicos, vestuário.
Colecionador de gibis que era na época, lembro que a Editora Abril desistiu de imprimir o preço na capa das revistas, substituiu-o por um código, A1, C3, Z7 etc, o jornaleiro recebia uma tabela dos códigos com os correspondentes valores em cruzados e essa tabela era trocada quinzenalmente. A impressão que tínhamos era a de que deixaram a coisa correr frouxo e quando deram pelo estrago, já não havia muito o que fazer, a inflação dessa época foi feito aquele tumor que só é descoberto depois de agigantado e metastatizado.
Parece que a inflação está a espreguiçar, a querer sair de sua hibernação. Mas desta vez será diferente, desta vez o mal será diagnosticado em seus estágios iniciais, tratado, extirpado e extinto. Aliás, já foi diagnosticado! Para nosso alívio, o grande responsável pela renascente inflação acaba de ser desmascarado e exposto. O detonador dessa nova onda inflacionária é o acarajé, tombado e tornado patrimônio nacional por Gilberto Gil, então ministro da cultura, em 2004.
A alta do feijão-fradinho fez o acarajé disparar : de R$ 2,50 para R$ 4,50 no período de um ano, uma alta de 80%. Basta agora matar a inflação no ninho : subsídios governamentais para o feijão-fradinho, que o acarajé é produto de primeira necessidade.
O baiano está alarmado, só em Salvador são mais de 3000 baianas de acarajé. Baiana de acarajé? Será que cada baiana se especializa numa iguaria? O turista chega no tabuleiro da baiana, pede um acarajé e é informado que aquela é uma baiana de vatapá, ou de cocada, ou de quindim, a de acarajé atende no quarteirão de cima. Baiano é foda. Tem até associações e sindicato das baianas de acarajé. Se em sindicato de bancário, de metalúrgico, de professor, ninguém trabalha, imagina só no sindicato do acarajé.
Resolvam logo o problema inflacionário do acarajé, membros da equipe econômica. Subiu o acarajé, subirão todos os outros preços, todos na carona deste inestimável patrimônio cultural brasileiro. Só pergunto uma coisa : o que a cerveja nossa de cada dia, já tão inflacionada, tem a ver com isso?
É como sempre digo : puta que o pariu !!!

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