Entre Lesmas

As pessoas estão cada vez mais lerdas. E estão por todos os lugares, arrastando-se, atravancando o caminho dos (raros) mais céleres.
Estão nos supermercados a entupir os corredores e a impedir o acesso às prateleiras com suas morosidades, bundas paquidérmicas e seus carrinhos abarrotados de embalagens aluminizadas; estão pelas ruas a poluir as calçadas, tartarugas a atrasar o passo de quem tem mais o que fazer da vida, muitas vezes, prefiro andar pela rua e enfrentar os carros, faz-se necessário desviar delas como à merda de cachorro; estão nos caixas eletrônicos dos bancos, a esquecerem suas senhas e "apanhando" de uma máquina cujo manejo não ofereceria dificuldades a um chimpanzé bem treinado.
Lerdas, as pessoas estão em marcha lenta. Umas porque são muito baixas, tem pernas curtas (os incipientes gabirús), outras porque são muito altas, porém descoordenadas, outras são gordas demais, outras porque são velhas, outras porque são muito novas (essa geração videogame cujo cérebro só tem consciência do uso das mãos, os pés são meros apêndices), outras, ainda, insuportáveis, porque distraídas com fones em seus ouvidos, desligados da realidade, mp3, ipods, celulares, fios por todos os lados. Lerdas, lerdas, lerdas.
Uma das situações mais angustiantes de morte em que me imagino, sou eu alheio ao mundo, prostrado num leito, conectado a toda sorte de fios e tubos; excetuando o leito, as pessoas andam por aí dessa forma, nos dias de hoje. Bons tempos em que as pessoas dependiam de aparelhos para sobreviver apenas quando estavam em estado de coma. Lerdas, lerdas, lerdas.
Desde meus 10 anos de idade, quando do início de minhas andanças pelo centro da cidade, tenho um passatempo particular, apostar corrida com todo e qualquer outro pedestre à minha frente. A maioria, é verdade que isso não é de hoje, sempre foi ultrapassada com facilidade, mas já tive excelentes embates pelas calçadas, que muito já exigiram de minhas pernas e fôlego, mas isso em eras passadas, nada de que eu me lembre nos últimos 5 ou 6 anos.
Como um pistoleiro do Velho Oeste, pensava com temor (e com certo alívio) no dia em que seria superado por uma geração mais nova e mais rápida, com o dia em que a idade me transformaria num obstáculo facilmente transponível. Pois bem, já passei dos 40 anos e há muito não tenho um desafio pelas ruas, a molecada está patética.
Pudera. Tudo automatizado. TV com controle remoto, carro para ir à padaria da esquina, carro com vidros elétricos, portões eletrônicos, consumo precoce de álcool e tabaco, madrugadas passadas em claro e, exceto a sagrada punheta, nenhuma atividade física. Bem ou mal, eu ainda ando meus 8, 10 km diários, sem resfolegar, mal transpirando. Há as academias, disse-me alguém, dia desses, as academias têm cada vez mais frequentadores. Grande bosta, puro artificialismo, as academias; desafio qualquer idiota que fica o dia todo correndo numa esteira a me enfrentar num teste de resistência. O exercício em ambiente fechado, a atividade física em cativeiro, é risível, são as agruras do meio ambiente que conferem força e resistência. Ou Rocky Balboa não teria vencido Ivan Drago.
O que sei é que está cada vez mais complicado ser um bólide em tempos de charretes.

"Eles nos matarão se puderem, Bruce. A cada ano, eles ficam menores...e a cada ano nos odeiam mais! Eles não devem ser lembrados de que gigantes caminham sobre a Terra!" (Clark Kent)

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