Antes da censura ao Marreta pelo Google e a consequente retirada de seu endereço dos mecanismos automáticos de busca, a maioria dos acessos se dava de forma fortuita e aleatória, a maioria caía aqui de paraquedas, como é comum na internet.
Acredito que a grandessíssima parte daqueles que por aqui pousaram inadvertidamente, horrorizaram-se com o que viram e nunca mais retornaram. Alguns até se converteram, depois, àlguma seita neopentecostal para tentar fugir da danação do Inferno, por terem quedado os olhos, ainda que por breves instantes, em conteúdo tão herege e blasfemo.
Mas alguns raríssimos, sabe-se lá o porquê , gostaram, foram ficando e, se não com grande assiduidade, volta e meia ainda passam por essas plagas.
Uma dessas figuras amalucadas, também uma das mais antigas, é o Cirilo, de Belo Horizonte, MG. Caiu por aqui em agosto de 2009 - o Marreta tinha apenas seis meses de idade. Chegou aqui procurando por algo do, também mineiro, cantor, compositor, humorista e grande FDP, Kakinho Big Dog.
Não tenho certeza do que direi, mas me parece que ele estava em Timor-Leste nessa época, prestando assistência jurídica a refugiados de guerra. Cirilo é advogado dos mais fodásticos, especialista em Direitos Humanos - e acredito que defensor dos direitos dos humanos certos.
Devo a Cirilo - e pago sem chiar, com muito gosto - uma eterna gratidão pela atenção e, por que não dizer, enorme respaldo jurídico que me dispensou quando, em 2014, sofri uma série de ameaças anônimas aqui no blog. Mas essa é uma história para ser contada em outra ocasião. Ou não.
Nossos contatos sempre foram feitos via blog ou e-mail. Conversei com ele uma única vez, quando lhe telefonei, num fim de ano, para desejar-lhe boas festas e agradecer verbalmente o citado apoio.
Depois, ficamos um longo tempo sem nos falar, até que, há alguns meses, acrescentei um número de celular antigo dele (torcendo que ele não o tivesse trocado) ao meu recém-instalado Whatsapp .
Dei sorte. Cirilo não trocara o número. Desde então, voltamos a trocar curtas mensagens com mais frequência.
E foi assim que, ontem, tomei conhecimento da banda de rock dele. Nem foi bem tomar conhecimento da existência da banda, pois eu já sabia que ele era baterista e atuava num conjunto. Tomei conhecimento foi da magnitude da coisa, da estrutura de shows e de divulgação.
Para mim, até então, era mais um hobby, uma diversão particular entre amigos e conhecidos, uma atividade feita de forma amadora, diletante.
O caralho!!! Os caras, o Mentol Trio, são profissas ! Têm agendas de shows. Apresentam-se em vários bares e pubs de BH. E não fazem apenas covers de clássicos nacionais e internacionais do rock'n'roll : compõem repertório próprio. Possuem três álbuns autorais já gravados, o Mentol (2013), o Especiarias (2016) e o fresquíssimo (mas sem viadagens ) Delírio, lançado em agosto desse ano.
Juntos desde 2006. Thiago Leão na guitarra, Ricardo Machado no baixo e no vocal e Cirilo Vargas na bateria. São os Garotos de BH!!!
As músicas estão disponíveis para audição nas plataformas Spotify (seja lá o que for isso) e YouTube Music, da qual seguem os links para os álbuns : Mentol, Especiarias e Delírio.
Minha trilha sonora das madrugadas de sexta e de sábado desta semana está garantida. Usarei um desses programas online que capturam áudios em mp3 do YouTube, montarei uma pasta com as faixas, passarei-as para um pendrive e as ouvirei atenta e tranquilamente na calada da noite, acompanhadas por umas boas, baratas e geladas, claro.
Cirilo, além de um advogado sumo conhecedor de seu ofício, é também um calejado e tarimbado batera de rock e de blues. E, não nos esqueçamos, xará daquele menino do Carrossel.
Nem precisaria eu dizer, mas faço questão de : parabéns, meu caro!
Quanto ao nome da banda, Mentol Trio, deixemos que o próprio Cirilo nos explique a origem : "O nome Mentol surgiu de uma gozação de colégio. Éramos atormentados por uma gorda insuportável que fumava uns cigarros fedorentos de menta. Dez anos depois, tocando numa banda de Beatles, encontramos a gorda, que virou uma gata incrível. E gente boa. Então, numa festa que a gente tocava, ela chegou oferencendo uma maconha, segundo ela, “mentolada”. A situação foi muito engraçada e, quando o quinteto de Beatles acabou e o trio foi formado, decidimos homenagear a ex-gorda do colégio, colocando o nome na banda de Mentol. Gozação pura."
Ou seja, o vício da gorda não era o cigarro de nicotina nem o cigarrinho do capeta, era a menta. Será que ela põe menta em tudo o que leva à boca?
No mais, fica aqui mais do que uma dica de boa música, fica uma recomendação, uma ordem expressa. Em particular, para outro célebre habitante de BH, o Jotabê, o matusalém do Blogson Crusoe, que bem gostava de bandas e até arranhava um violão em sua juventude.
Dei uma ouvida geral nos três álbuns e gostei bastante do tipo de som : rock e blues dos antigos, pesado, "sujo", guitarra, baixo e bateria impiedosos. Rock e blues. E nada mais. E mais para quê? Pretendo ouvir mais atentamente o Mentol e o Especiarias ainda hoje, mais de madrugada. O Delírio já escutei três vezes, faixa a faixa, e a de que mais gostei foi da História Estranha. Não entendo picas de música, mas me parece ser um belo blues, que muito me lembrou o Frejat, dos bons e velhos tempos do Barão Vermelho.
História Estranha
(Mentol Trio)
Você não sabe que eu percebo
Nem tão pouco presumir o que desejo
A mensagem ficou clara mesmo com a cara lavada
O que eu quero é ver a cor do seu depois
Você já viu que eu não cedo
Não vou suportar ser feito de brinquedo
Você fez da forma errada
Deu a trinca e a canastra
Nessa história tão estranha de nós dois.
A gente vira e mexe desfaz nosso sossego
E nesse vai e vem eu perco todo apreço
Mas quando você vem dizendo, "eu não mereço"
Volto à estaca zero
Cometo o mesmo erro.
Dessa vez tu não me escapa
Vou até o fim da estrada
Dessa história tão estranha de nós dois.
1 Comentários
Gostei muito da sua dica, os caras são muito bons. E a historia do nome é hilária.
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