Morei sozinho por muito tempo.
Só eu
E meu rádio
E meus livros
E meus escritos
(nem telefone fixo eu tinha)
E minha vodka
E uma ou outra eventual louca
Que ia dar pra mim.
Não tinha nem um peixinho dourado
Ou um vaso com flor de plástico pra cuidar.
Perguntavam-me se eu era infeliz.
E o que uma coisa tem a ver com a outra?;
Eu respondia.
Hoje
Não sou sozinho há muito tempo.
Tenho filho
Esposa
Duas gatas
Uns 40 ou 50 vasos de plantas
Entre cactos, suculentas, um par de claudicantes samambaias e orquídeas
E folhagens de aráceas, trapoerabas e espadas-de-são-jorge.
Tenho piscantes e estroboscópicas luzinhas de Natal
Estendidas na tela de proteção da sacada.
Moro em 126 metros quadrados.
Perguntam-me se eu sou feliz.
E o que uma coisa tem a ver com a outra?;
3 Comentários
E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora.
ResponderExcluirEu sei que não tem nada a ver, são as associações misteriosas que se formam na minha cabeça, mas este seu texto (muito legal, diga-se) me fez pensar no Rubem Braga quando ainda não era famoso e estava sempre duro. Como já disse antes, estou revisando um arquivo em word de seu livro 200 crônicas escolhidas que obtive na internet, onde faltam palavras, há trocas de letras, etc.. Faltam "apenas" 50 páginas das mais de 200. Por estar nessa "missão, leio e releio atentamente cada crônica e comparo com o livro de papel à minha frente. Por isso fui formando uma imagem do escritor quando mais jovem: Morou em pensões e apartamentos pequenos, vivia sem dinheiro, gostava de beber cachaça e estava sempre apaixonado por alguma mulher. Há vários nomes femininos citados na crônicas. Sinceramente, ao ler seu texto essa imagem me veio à cabeça. Mas, como você mesmo disse: "E o que uma coisa tem a ver com a outra?"
ResponderExcluirEu é que agradeço a associação. E agora é definitivo : assim que passar essa semana - semana de fechamento de notas -, vou providenciar um livro dele para ler.
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