Trinta Dias no Deserto da Abstinência

Iniciei meu jejum alcoólico, meu mês sabático de cerveja, no domingo (25/10), um dia antes do programado. E até ontem, quinta-feira, cinco exatos dias sem álcool, a não ser aquele absorvido pela pele, quando passo álcool gel nas mãos ao adentrar algum estabelecimento comercial, estava tudo bem, nenhuma falta ou vontade havia me acometido.
Até ontem... Ontem, o Demônio resolveu me tentar nesses meus trinta dias no deserto da continência. Não veio em pessoa, o Demo. Não deve achar que eu valha tanto. Enviou um reles diabrete de quinto escalão, para começar a testar, mais que a minha resistência, as minhas fraquezas.
Ontem, o bicho começou a pegar. Mas não "O" bicho! Não uma fera famélica e sanguinolenta, um mastim dos infernos. Um chihuahua, um pinscher, um desses pernilongos em forma de cachorro a mordiscar meus calcanhares.
A vontade de cerveja veio quando fui lavar os banheiros da casa. Tarefa para a qual sempre me muno de : balde, sabão em pó, sabão em pedra, água sanitária, esponja de espuma, bombril, limpa-vidros, pano de chão, rodo, o toca-CDs posto à janela e uma lata de cerveja; uma lata para cada banheiro..
Ontem, todo o arsenal pronto, faltava alguma coisa. A cerveja. Teria trocado, fácil, naquela hora, o limpa-vidros por uma latinha; a água sanitária por um latão. Mesmo desfalcado, comecei a limpeza do primeiro banheiro.
Não chegou a ser uma vontade incontrolável por cerveja, um desejo imperativo, uma ânsia a ser aplacada a todo custo. Foi mais uma ausência, como um espaço vazio deixado por um quadro que foi retirado da parede, por uma foto retirada de um álbum, por um amigo que não pode vir à festa.
Cinco ou dez minutos de iniciada a faina, a vontade foi embora, desvaneceu-se.
Não sei se a limpeza dos banheiros ficou igual, melhor ou pior que a de costume. Mas que foi tarefa muito mais chata de se cumprir, isso foi, pããããããta que o pariu se foi.

Postar um comentário

2 Comentários

  1. Uns no deserto, outros no oásis... No final de janeiro, invertemos os papéis.

    Pois não lhe disse que a alegria lhe abandonaria? Se bem que acho que ninguém pode estar feliz ao limpar o banheiro...

    De qualquer forma, reitero os votos de sucesso na digna empreitada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De fato, meu caro, de fato. Embora saibamos que o álcool nos deixa mais desatentos, um bom copo de cerveja na mão parece que nos ajuda com a concentração, ou com a paciência. Para assistir a um filme, ler um livro, ou fazer uma faxina. Não estou mais irritado ou irritadiço, mas estou mais irriquieto, sem muita parada. Também estou indo me deitar bem mais cedo que o de costume.
      Vamos ver como a coisa progride.
      Abraço.

      Excluir