Zé Ramalho é o alquimista da MPB!
Suas letras nos evocam imagens de antigos sábios, doutos nas ciências ocultas, debruçados sobre pergaminhos, palimpsestos e incunábulos, cozinheiros a condimentar caldeirões de Medeia, a alimentar fornos, cadinhos e retortas, dourando o chumbo, prolongando a vida; imagens rubro-fuliginosas, em amarelo velho, em color sépia, certo?
A linguagem de Zé Ramalho é a dos místicos, dos ascetas, dos iogues, dos que se elevaram do carnal, do terreno, do mundano, é rica em cabalismos, mantras e aliterações que se prestam a induzir transes de além-consciência, que conduzem à unificação com planos astrais superiores, certo?
A poesia de Zé Ramalho anuncia novas eras, novos Aeons, realinhamentos planetários, comunhões de galáxias, astros vagabundos, é um alerta hermético para que o ser humano se dedique ao autoconhecimento e se reintegre, uno e indissociável que é, filho rebelde, à matriz universal que foi seu berço, certo?
Certo porra nenhuma!!!
Não tem nada de místico, de transcendental, de Hermes Trismegisto, de transmutações ou de gnoses no trabalho de Zé Ramalho. Não há logosofias nem teosofias, não há mensagens cifradas ou subliminares, não há sociedades alternativas nem fraternidades secretas, milenares e conspiradoras.
Nada disso é matéria-prima nem estopim para a obra do primo mais bonito da Elba Ramalho. O que nutre e move o talento criador de Zé Ramalho não é o etéreo e o imortal da alma nem a elevação espiritual rumo à reunificação cósmica, dilacerada pelo Big Bang, que fendeu matéria e essência.
A força motriz das canções de Zé Ramalho é o trivial e mais que palpável pé na bunda. É a desilusão amorosa, é a dor de cotovelo, é a fossa, meu chapa, é a fossa...
Um exemplo é a letra de uma de suas mais belas canções, Chão de Giz, para a qual já ouvi, de fãs e de críticos musicais e literários, as mais diversas, estapafúrdias e rebuscadas interpretações, todas atribuindo conotações místicas e espirituais aos versos do trovador-mor de Brejo da Cruz.
Então, dei de cara, no blog de meu primo Leitinho, o Química Mix, com a verdadeira explicação para Chão de Giz, dada por ninguém mais ninguém menos que o próprio Zé Ramalho, que desmistifica, literalmente, a complexa e intrincada letra.
O negócio foi o seguinte : quando jovem, em um dos velhos carnavais de João Pessoa, Zé Ramalho se envolveu com uma mulher mais velha, uma coroa muito da gostosa casada com uma figura ilustre e influente da sociedade local e manteve um caso escuso com a dona durante algum tempo. Diante do fato posto de que essa dama da sociedade jamais abandonaria seu casamento para ficar exclusivamente com um "garoto pé rapado", que estava com ele por diversão, apenas para "usá-lo", Zé Ramalho pôs fim ao relacionamento, sofreu barbaridades e chegou a mudar de casa e cidade para não mais vê-la e evitar, assim, a tentação de uma volta, de uma recaída. E compôs Chão de Giz.
O que mostra, mais uma vez, que não há vencidos nem vencedores na velha e eterna luta dos chifres. Corno e corneador saem igualmente feridos da peleja
Chão de Giz não tem nada filosofias indecifráveis nem de contatos extraterrestres e abduções, tem é da boa e velha buceta, a esquiva e fugidia buceta.
Antes, porém, de reproduzir a explicação de Zé Ramalho e, em seguida, a letra completa de Chão de Giz, se faz necessário um parêntese, uma ligeira observação : já imaginaram a desgraça que não devia ser o marido da biscate, a ponto dela trai-lo com o Zé Ramalho? Imagine um amigo, ao ver o corno de chifre baixo e semblante macambúzio, perguntar-lhe sobre o motivo de tanta tristeza. Fui traído, responde o corno. O amigo toma ares consternados, solidariza-se com o corno. E pergunta : sabe com quem ela te traiu? Com o Zé Ramalho, responde o corno. Aí, o amigo, e não o culpem pela injuriosa falta de companheirismo, faríamos o mesmo em seu lugar, não aguenta, desbraga-se em gargalhadas. Corno do Zé Ramalho! Humilhação dupla para o chifrudo. Ainda se fosse do Chico Buarque...
Eis a explicação dos principais versos de Chão de Giz:
Suas letras nos evocam imagens de antigos sábios, doutos nas ciências ocultas, debruçados sobre pergaminhos, palimpsestos e incunábulos, cozinheiros a condimentar caldeirões de Medeia, a alimentar fornos, cadinhos e retortas, dourando o chumbo, prolongando a vida; imagens rubro-fuliginosas, em amarelo velho, em color sépia, certo?
A linguagem de Zé Ramalho é a dos místicos, dos ascetas, dos iogues, dos que se elevaram do carnal, do terreno, do mundano, é rica em cabalismos, mantras e aliterações que se prestam a induzir transes de além-consciência, que conduzem à unificação com planos astrais superiores, certo?
A poesia de Zé Ramalho anuncia novas eras, novos Aeons, realinhamentos planetários, comunhões de galáxias, astros vagabundos, é um alerta hermético para que o ser humano se dedique ao autoconhecimento e se reintegre, uno e indissociável que é, filho rebelde, à matriz universal que foi seu berço, certo?
Certo porra nenhuma!!!
Não tem nada de místico, de transcendental, de Hermes Trismegisto, de transmutações ou de gnoses no trabalho de Zé Ramalho. Não há logosofias nem teosofias, não há mensagens cifradas ou subliminares, não há sociedades alternativas nem fraternidades secretas, milenares e conspiradoras.
Nada disso é matéria-prima nem estopim para a obra do primo mais bonito da Elba Ramalho. O que nutre e move o talento criador de Zé Ramalho não é o etéreo e o imortal da alma nem a elevação espiritual rumo à reunificação cósmica, dilacerada pelo Big Bang, que fendeu matéria e essência.
A força motriz das canções de Zé Ramalho é o trivial e mais que palpável pé na bunda. É a desilusão amorosa, é a dor de cotovelo, é a fossa, meu chapa, é a fossa...
Um exemplo é a letra de uma de suas mais belas canções, Chão de Giz, para a qual já ouvi, de fãs e de críticos musicais e literários, as mais diversas, estapafúrdias e rebuscadas interpretações, todas atribuindo conotações místicas e espirituais aos versos do trovador-mor de Brejo da Cruz.
Então, dei de cara, no blog de meu primo Leitinho, o Química Mix, com a verdadeira explicação para Chão de Giz, dada por ninguém mais ninguém menos que o próprio Zé Ramalho, que desmistifica, literalmente, a complexa e intrincada letra.
O negócio foi o seguinte : quando jovem, em um dos velhos carnavais de João Pessoa, Zé Ramalho se envolveu com uma mulher mais velha, uma coroa muito da gostosa casada com uma figura ilustre e influente da sociedade local e manteve um caso escuso com a dona durante algum tempo. Diante do fato posto de que essa dama da sociedade jamais abandonaria seu casamento para ficar exclusivamente com um "garoto pé rapado", que estava com ele por diversão, apenas para "usá-lo", Zé Ramalho pôs fim ao relacionamento, sofreu barbaridades e chegou a mudar de casa e cidade para não mais vê-la e evitar, assim, a tentação de uma volta, de uma recaída. E compôs Chão de Giz.
O que mostra, mais uma vez, que não há vencidos nem vencedores na velha e eterna luta dos chifres. Corno e corneador saem igualmente feridos da peleja
Chão de Giz não tem nada filosofias indecifráveis nem de contatos extraterrestres e abduções, tem é da boa e velha buceta, a esquiva e fugidia buceta.
Antes, porém, de reproduzir a explicação de Zé Ramalho e, em seguida, a letra completa de Chão de Giz, se faz necessário um parêntese, uma ligeira observação : já imaginaram a desgraça que não devia ser o marido da biscate, a ponto dela trai-lo com o Zé Ramalho? Imagine um amigo, ao ver o corno de chifre baixo e semblante macambúzio, perguntar-lhe sobre o motivo de tanta tristeza. Fui traído, responde o corno. O amigo toma ares consternados, solidariza-se com o corno. E pergunta : sabe com quem ela te traiu? Com o Zé Ramalho, responde o corno. Aí, o amigo, e não o culpem pela injuriosa falta de companheirismo, faríamos o mesmo em seu lugar, não aguenta, desbraga-se em gargalhadas. Corno do Zé Ramalho! Humilhação dupla para o chifrudo. Ainda se fosse do Chico Buarque...
Eis a explicação dos principais versos de Chão de Giz:
“Eu desço desta solidão e espalho coisas sobre um chão de giz”
Um dos seus hábitos, no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as
coisas que lembravam o caso dos dois. O chão de giz indica como o
relacionamento era fugaz.
“Há meros devaneios tolos, a me torturar”
Devaneios e lembranças da mulher que não o amou. O tinha como amante, apenas para realizar suas fantasias. Quando e como queria.
“Fotografias recortadas de jornais de folhas amiúdes”
Outro hábito de Zé Ramalho era recortar e admirar TODAS as fotos dela
que saiam nos jornais – lembrem-se, ela era da alta sociedade, sempre
estava nas colunas sociais.
“Eu vou te jogar num pano de guardar confetes”
Pano de guardar confetes são balaios ou sacos típicos das costureiras do
Nordeste, nos quais elas jogam restos de pano, papel, etc. Aqui, Zé diz
que vai jogar as fotos dela nesse tipo de saco e, assim, esquecê-la de
vez.
“Disparo balas de canhão, é inútil, pois existe um grão-vizir”
Ele tenta ficar com ela de todas as formas, mas é inútil, pois ela é casada com um homem muito rico.
“Há tantas violetas velhas sem um colibri”
Aqui ele utiliza de uma metáfora. Há tantas violetas velhas (Como ela,
bela, mas velha) sem um colibri (um jovem que a admire), dessa forma ele
tenta novamente convencê-la apelando para a sorte – mesmo sendo velha
(violeta velha), ela pode, se quiser, ter um colibri (jovem).
“Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus”
Este verso mostra a dualidade do sentimento de Zé Ramalho. Ao mesmo
tempo que quer usar uma camisa de força para se afastar dela, ele também
quer usar uma camisa de vênus para transar com ela.
“Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro”
Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria
apenas para “gozar o tempo de um cigarro”. Percebe-se o tempo todo que
ele sente por ela um profundo amor e tesão, enquanto é correspondido
apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro.
“Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom”
Para quê beijá-la, se ela quer apenas o sexo?
“Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez…”
Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é impossível tentar
algo sério com ela. Entretanto, apaixonado como está, vai novamente à
lona – expressão que significa ir a nocaute no boxe, mas também
significa a lona do caminhão, com o qual ele foi embora – ele teve que
sair de casa para se livrar desse amor doentio.
“Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar”
Amor inesquecível, que acorrenta. Ela pisava nele e ele cada vez mais apaixonado. Tinha esperanças de um dia ser correspondido.
“Meus vinte anos de ‘boy’ – that’s over, baby! Freud explica”
Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da
sociedade. Freud explica um amor desse (Complexo de Édipo, talvez?).
“Não vou me sujar fumando apenas um cigarro”
Depois de muito sofrimento e consciente que ela nunca largaria o
marido/status para ficar com ele, ele decide esquecê-la. Essa parte ele
diz que não vai se sujar transando mais uma vez com ela, pois agora tem
consciência de que nunca passará disso.
“Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval”
Eles se conheceram em um carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que
iria jogar em um pano de guardar confetes, ele consolida o fim, dizendo
que já passou seu carnaval (fantasia), passou o momento.
“E isso explica porque o sexo é assunto popular”
Aqui ele faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do
amor dele por ela (ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão
popular, pois apenas ele é valorizado. Ela só queria sexo e nada mais.
“No mais, estou indo embora”
Assim encerra-se a canção. É a despedida de Zé Ramalho, mostrando que a
fuga é o melhor caminho e uma decisão madura. Ele muda de cidade e nunca
mais a vê. Sofreu por meses, enquanto compôs a música.
Chão de Giz
(Zé Ramalho)
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de boy
That's over, baby!
Freud explica
Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!
7 Comentários
E depois de td essa avalanche de sentimentos, seguiu a fase rebelde "Garoto de Aluguel", nm o Zé ficou imune... "J"
ResponderExcluirPois é, aí é que a coisa piora, beira as raias do inacreditável. Pagar pra dar pro Zé Ramalho? Pããããããta que o pariu!!!
Excluir(Risos) Vai q ele tem talento?!? Rsrs Bukowski tb não era essa belezura...
ResponderExcluir"J"
Nem eu!
ExcluirVocê não comeu tantas bucetas assim, no entanto, você até que é bem charmoso.
ResponderExcluirE como sabe quantas buças eu tracei? Era só o que me faltava, até o número de xavascas que eu comi, estão sabendo.
ExcluirA vida é assim, qm n tem colírio usa óculos escuro.
ResponderExcluirE nm eu.
"J"