Cerveja é a Base da Civilização

O desenvolvimento da agricultura pelo ser humano o livrou do jugo da sazonalidade com que a natureza lhe provinha com alimentos e víveres vegetais, permitiu-lhe, aos poucos, abandonar sua natureza nômade e coletora.
O advento da agricultura, há aproximadamente 11 mil anos, um pouquissimo só antes do Raul Seixas nascer, veio, portanto, da necessidade, a suposta mãe de toda invenção, do ser humano melhor fixar suas moradias e melhor abastecer de alimentos as seus bandos, as suas tribos, os seu clãs, certo?
Parece que sim. Pelo menos, é o mais lógico a se pensar e concluir. Mas há controvérsias no mundo científico quanto a isso. As técnicas de plantio e cultivo podem ter sido desenvolvidas com objetivo muito mais nobre do que simplesmente encher o pandu do povão : para fazer cerveja!!! É isso mesmo!!!
O ser humano sempre foi fisicamente muito mais fraco, mais lerdo, com sentidos menos apurados e com muito menos instintos do que a grande maioria das outras espécies com quem conviveu desde o seu surgimento. A sua permanência no planeta, o seu sucesso evolutivo, deveu-se sobretudo à sua capacidade de se organizar em sociedade, a sua habilidade de viver em grandes bandos, a força do ser humano vem do bando; a inteligência é individual e está ligada ao afastamento do bando, mas a força que garante o feijão com arroz vem do bando, viver em grandes sociedades foi um mal necessário à nossa fraca espécie.
E conviver em bando não é fácil, abrir mão muitas vezes de sua individualidade, tolerar as intoleráveis diferenças do outro  etc. Para garantir a coesão do bando, alguns elementos agregadores se fizeram necessários. A eles.
O desenvolvimento de uma linguagem mais elaborada, própria de cada bando (assim nasceram os diferentes idiomas), ao que tudo indica, foi o primeiro desses elementos. Não que os outros animais também não tenham suas linguagens, mas elas se restringem a sinais básicos, grunhidos e rosnados para sinalizar que estão com fome, com raiva, feridos, com vontade de acasalar. Em grandes bandos, uma melhor e mais detalhada comunicação se faz necessária, são precisos muita conversa e convencimento para se continuar num bando, é essencial, principalmente, mentir muito na convivência com o bando. E nenhum outro ato humano demanda uma linguagem mais elaborada que o de mentir. Mentir é complicadíssimo, boa parte da expansão de nossos códigos de comunicação veio da fundamental mentira. Além disso, falar a língua de um bando tornava difícil a migração de pessoas para outros bandos, nos quais não seriam compreendidas.
Outro fator agregador foi a criação de leis, a submissão do bando a um mesmo conjunto de normas de conduta; largar o bando por conta própria é decretar a extinção dele, sem rígidas diretrizes a norteá-lo, ele se autocomeria, afundaria-se na própria barbárie.
A religião. Desgraçadamente, a religião também foi forte elemento agregador da espécie. Todo bando possuía, obviamente, um líder, mas esse líder ainda era humano, podia ser constestado, ter suas decisões postas em xeque, ser combatido e deposto. E um "líder" imaterial, todo-poderoso, infalível e cuja base de existência fosse justamente a fé cega em sua bondade e sabedoria? Seria incontestável, certo? Daí, o surgimento dos deuses. Seres de ações e determinações incontestáveis. E que também fariam um papel complementar às leis : para ser punido pela lei, um criminoso tem que ser visto por alguém a praticar seu crime, se você comete um crime e ninguém é capaz de identificá-lo, você está livre. Deus vê tudo, quem escapa da justiça dos homens não escapa da justiça de deus, dizem. Além disso, cada bando considera seu deus melhor que o do outro, se necessário, briga, guerreia para provar isso, e a guerra fortalece a união do bando.
E a cerveja, onde entra nisso?
Nas festas, porra! O homem das cavernas também dava suas festas. As festas provavelmente eram mais do que simples encontros. Festas criam alianças, facções, vínculos entre as pessoas, poder político, redes de apoio, e tudo isto sempre foi fundamental para o desenvolvimento de tipos mais complexos de sociedade. E o que há de melhor para facilitar as relações e o entendimento dos convivas que não o bom e velho álcool, a sacrossanta cervejinha?
Algumas evidências apoiam as suspeitas dos arqueólogos de que os grãos eram mais transformados em cerveja que em alimento propriamente dito.
Cereais, como cevada e arroz, representavam um elemento menor na dieta do homem pré-histórico, provavelmente pela dificuldade em conseguir algo comestível a partir deles - é necessário reunir, peneirar, descascar, moer, tarefas muito demoradas em troca de pouco ganho energético e nutritivo. Estima-se que todo o processo para tornar os grãos palatáveis, àquela época, custava de 6 a 8 oito horas de trabalho da mulherada.
Apesar disso - muito trabalho para pouca energia -, as pessoas andavam grandes distâncias para obter os grãos. Evidências na Síria sugerem que, às vezes, as pessoas faziam um esforço incomum apenas para adquirir os grãos de cereais – andavam de 60 até 100 km. Andar 100 km para fazer uma papinha de arroz ou um pãozinho mixuruca? Vai nessa.
Não tenham dúvidas - eu, pelo menos, não as tenho em relação a esse respeito -, só por uma coisa o ser humano anda tanto : pela birita! E é assim até hoje. O sujeito fica na maior preguiça de atravessar a rua e comprar pão na padaria ou no supermercado, mas se aparece uma oferta de cerveja em tal lugar, ele atravessa a cidade.
Pelo tempo e esforço, o álcool era produzido quase que exclusivamente para ocasiões especiais, para impressionar os convidados, deixá-los felizes, e alterar sua atitude, favorável aos anfitriões. Ou seja, unir mais o bando. A cerveja, digamos assim, sempre lubrificou as ásperas relações humanas, e bem sabemos que sem lubrificação não há relações.
Muito mais que para matar a fome, o cultivo de grãos - e, portanto, o início da agricultura - se deu para fabricar cerveja. A velha loura gelada é um dos pilares da nossa civilização.
Um brinde à ela, à cerveja nossa de cada dia.
Eu acabei de abrir a minha aqui, para iniciar a noite.
Se nem com a cerveja, eu sou tão "civilizado" assim, imaginem sem ela. Vocês não me aguentariam.
Fonte : Live Science

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4 Comentários

  1. agora eu te pergunto meu caro Azarão,o que seria um homem sem sua humilde birita?

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  2. Azarão, como sei que gosta de utilizar o dom culinário e acompanhar isso de cerveja, vi este vídeo e lembrei de você.
    http://www.youtube.com/watch?v=oitYxq18xmw
    Obs: Eu realizei a receita e aprovei, faça também e me diga o que acha.
    Abraços!

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    1. Obrigado pela lembrança, mas nem vou tentar fazer. Cerveja com manteiga... é nojento!!! Com manteiga, só a Maria Schneider.
      abraços.

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