Uma Elegia À Cláudia Ohana (A Última)

Durante mais de dois anos, sempre no primeiro dia de cada mês, eu fiz aqui no Marreta uma pequena homenagem à Cláudia Ohana, a deusa protetora das matas densas, úmidas e sombrias.
Meu singelo tributo sempre consistiu de uma foto de uma mulher bonita, preferencialmente nua, com cabelos fartos, longos e revoltos - cabeleira à la medusa -, acompanhada de um trecho de uma música consagrada de nossa MPB, em cuja letra se encontra a palavra cabelo ou pelo.
Foram vinte elegias, e mais outras tantas poderiam a essas se seguir, mas...
Cláudia Ohana desistiu de sua divindade, de seus dons Olimpianos, preferiu se tornar mortal.
No início do mês passado, declarou que sim, que agora raspa a buceta.
Aqueles pelos eram o próprio Velocino de Ouro, lã do mitológico carneiro alado Crisólamo, que conferia poderes mágicos de força e velocidade a quem o possuísse, e em cuja busca Jasão e seus Argonautas a tantos perigos mortais se expuseram.
E de uma hora para outra, Cláudia Ohana chega, como quem não quer nada, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e diz que raspa a buceta.
Perdeu o seu Velocino de Ouro, desfez-se dele voluntariamente, guilhotinou-o com um reles e mundano prestobarba, perdeu seus poderes.
Assim posto, não ficarei mais aqui a deitar loas nem a erguer templos para deusas mortas.
Prestar-lhe-ei, então, uma última reverência, mais em caráter de uma nênia que de uma elegia; e nunca mais tornarei a elevar meus pensamentos a ela.
A foto, nessa derradeira vez, é da própria Cláudia Ohana, em seus clássicos tempos; a música, Cabelo, tem letra de Arnaldo Antunes.
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Quem disse que cabelo não sente
Quem disse que cabelo não gosta de pente
Cabelo quando cresce é tempo
Cabelo embaraçado é vento
Cabelo vem lá de dentro
Cabelo é como pensamento
Quem pensa que cabelo é mato
Quem pensa que cabelo é pasto
Cabelo com orgulho é crina
Cilindros de espessura fina
Cabelo quer ficar pra cima
Laquê, fixador, gomalina
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Quem quer a força de Sansão
Quem quer a juba de leão
Cabelo pode ser cortado
Cabelo pode ser comprido
Cabelo pode ser trançado
Cabelo pode ser tingido
Aparado ou escovado
Descolorido, descabelado
Cabelo pode ser bonito
Cruzado, seco ou molhado

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1 Comentários

  1. Realmente uma perda enorme. Agora, em primeira mão: em 2014, Ribeirão Preto também terá a sua marcha para Jesus!

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