O Poema da Desejada Invisibilidade

Estão, o Coisa e a Mulher Invisível, na mesa de um bar. 
Totalmente porrados, hálitos rançosos, 
Copos rançosos de digitais e labiais, luz de 25 W, 
Paredes lacrimejantes de mofo; 
Porrados, deprimidos da vida, 
Melhor: deprimidos de vida. 
Estão numa mesa de bar, o Coisa e a Mulher Invisível.  

O Coisa: “Tá lá, porra, no dicionário Marvel, que eu dou conta de 75 toneladas”. 

Pausa, lenta pausa, para um gole, grande gole, de ambos.

Continua, o Coisa: “Mas, vez em quando, quase sempre ultimamente, 
fica tudo tão pesado que eu arrio, com as 4 patas, 
desmonto, mesmo”.  

Outra pausa, para um bater de cinzas do charuto no cinzeiro; 
Volutas de fumo rodopiam, abraçam e dançam com a face paciente 
Tolerante, resignada, da Mulher Invisível.  

Ainda, o Coisa: “Sabe, às vezes, tenho vontade de sumir”. 
A Mulher Invisível: “Esquece! Bobagem... sumir também não adianta!”. 

(A cena se fecha num superclose, num fantasticzoom 
do cruzar de dois fastientos olhares, basáltico e etéreo-vaporoso. 
A cena se fecha num superclose, num fantasticzoom 
do escapar, do vazar, do erodir de duas distintas lágrimas: 
de obsidiana, uma, capaz de riscar o quartzo, 
de cristal corrediço, a outra, com igual índice de refração do ar.)

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