Cola na Escola, Psicólogos, Cartomantes e Outras Trapaças

Quando o jovem em idade escolar, o educando, o aluno, ou seja lá como se prefira chamar essa hoje tão indefinida (mal definida, na verdade) massa de (não) aprendizes, recebe uma tarefa de seu professor, ele procura a todo custo, por todas as vias, burlar a feitura da incumbência que lhe foi atribuída.
Estudar a matéria dada no dia ao chegar em casa, revisar os pontos principais, esforçar-se no entendimento e, aí sim, depois disso, lançar-se à execução da tarefa para efeito de sedimentar as informações recebidas, pouquíssimos fazem, aliás, poucos sempre fizeram.
Antes, na era pré-internet, os três ou quatro CDFs de cada sala faziam a tarefa e o restante copiava; no mundo ASJ - antes de Steve Jobs -, o santo graal buscado por todo aluno era um exemplar do livro do professor, só ele a conter as respostas ao seu final. Poucos pensavam em ler o livro antes de procurar pelas respostas no final, poucos deviam supor, inclusive, que se o lessem atentamente, não necessitariam das respostas prontas. Sempre a "cola" antes da tentativa real e valorosa.
Hoje, com a internet, o oráculo de silício, a pitonisa binária, nem o CDF faz mais a tarefa - nem existe mais o CDF -; hoje, o bom aluno copia tudo da internet e o mau aluno, do bom.
Aprender é mudar uma situação estabelecida, é romper com uma inércia, logo, é um processo áspero e suarento. Sem as agruras e o desconforto do esforço, não há a recompensa do aprendizado, ele sairá da escola (como estão cada vez mais a sair) sem saber quase nada (e há uma grande dose de condescendência nesse "quase") de Português, Matemática, Biologia, Física, História etc.
Quando o professor recebe a tarefa pronta do aluno, ele percebe claramente que ela foi copiada, "colada" de alguma fonte, que nenhum tempo foi gasto ali de forma honesta; igualmente, ele, o professor, para não gastar seu escasso tempo com quem tempo não gastou com a sua tarefa, aceita a falsificação como verdadeira mostra de aprendizado, faz vistas grossas, vistas cegas, vista a tarefa e dá ao aluno o ponto que irá promovê-lo de série a série.
Mas do íntimo do professor, do alto de sua cabeça, se a situação fosse retratada em uma história em quadrinhos, veríamos brotar um balão de pensamento em forma de nuvem : "Vai, seu idiota, vai achando que me enganou, vai achando que aprendeu alguma coisa, vai achando que está a sair da escola melhor do que quando entrou, que está formado".
E o idiota vai, achando mesmo que é/foi um estudante.
Quando um adulto recebe da vida as suas tarefas - e elas nos vêm num crescente de quantidade e complexidade -, quando recebe da vida dificuldades a serem solucionadas e transpostas, nós górdios a serem desatados, ele procura a todo custo, por todas as vias, burlar a feitura da incumbência que lhe foi atribuída.
Parar, refletir, ponderar sobre a situação, aprimorar-se, aperfeiçoar-se, fazer mesmo um esforço de autoconhecimento, para melhor desfecho dar a um entrave, pouquíssimos fazem, aliás, poucos sempre fizeram.
O adulto também, e numa progressão assustadora, procura por respostas prontas das tarefas que a vida lhe impinge. Ao invés de estudar a si próprio - o que é trabalho árduo e muitas vezes revelador de aspectos que ele preferiria não conhecer de si - para determinar os melhores, ou, pelo menos, os mais viáveis caminhos e soluções para seu problema, específico, pessoal e (deveria ser) intransferível, o adulto também vai à procura dos livros com as respostas já prontas no final : psicólogos, cartomantes, terapeutas freudianos ou coisa que os valha, tarólogos, jogadores de búzios e outros picaretas.
Sim, os supracitados "profissionais" são os livros com respostas no final que o adulto busca para a solução de suas limitações, ao invés de superá-las por esforço e aprendizado próprios. Nem lhe passa pela cabeça ler o livro antes de ir às respostas, impessoais, genéricas e, muito provavelmente, inócuas para o seu problema, meros placebos, quando não prejudiciais.
E sim, psicólogos e astrólogos, terapeutas e ledores de sorte em folhas de chá, padres e pitonisas etc etc são detentores de conhecimentos igualmente "científicos".
Aprender a viver é mudar uma situação estabelecida, é romper com uma inércia, logo, é um processo áspero e suarento. Sem as agruras e o desconforto do esforço, não há a recompensa do aprendizado, ele deixará a vida sem quase nada (e há uma dose maior ainda de condescendência nesse "quase") saber de viver, dele próprio.
Quando a vida recebe a tarefa pronta do sujeito adulto, ela percebe claramente que ela foi copiada, "colada" de alguma fonte, que nenhum tempo foi gasto ali de forma honesta; igualmente, ela, a vida, para não gastar seu infinito, porém, precioso tempo com quem tempo não gastou com ela, aceita a falsificação como verdadeira mostra de amadurecimento.
Mas saída do íntimo da vida, se ela pudesse ser retratada na forma de uma película de cinema, e se apurássemos um pouco a audição, uma narração em off poderia ser ouvida : "Vai, seu idiota, vai achando que me enganou, vai achando que saiu de mim como uma pessoa melhor do que quando veio à minha luz, vai, seu idiota, vai achando que realmente viveu".
E o idiota vai, pensando mesmo que viveu por suas próprias pernas.
Alguns até se orgulham de ter "colado" a vida toda, já ouvi coisas do tipo : "Sou uma pessoa esclarecida, eu faço análise." Faz análise, porra nenhuma! É analisado, isso sim! O que é muito diferente. É analisado! Feito uma bactéria em placas de Petri, feito rato em gaiolas de laboratório, feito merda que se caga em latinha para exame de fezes.
E que se registre : a esses, é tratamento dos mais adequados.

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