Começava a ler um livro
Jornal, revista, bula de remédio
E logo me cansava.
Começava assistir a um filme
Documentário, curta-metragem, comercial de TV
E logo me cansava.
Punha-me à sacada
A contemplar o horizonte na madrugada
E logo me cansava.
Recomendaram-me um oftalmologista,
A idade, me disseram.
- Vista cansada.
E aviou-me o médico
Uns óculos lá de um grau e meio.
Fato raro, animei-me :
Voltaria a ler meus dois livros por semana,
Assistir aos meus corujões, sessões da tarde e cines privês,
A ver a noite jorrar e se diluir no horizonte.
Aos óculos,
Justiça lhes seja feita :
Tornaram maiores e menos bruxeleantes
As letras de meus amarelados livros,
Mais definidas as legendas de meus filmes B,
Mais nítidas as crateras da túrgida Lua Cheia
E até trouxe de volta
Algumas estrelas que haviam se perdido de meu céu.
Mas o cansaço continuou
E continuou.
Finalmente, vi.
O que me estava aos olhos,
O que nenhum oftalmologista poderia ter visto :
Nem me eram tanto as vistas cansadas,
Sim o cansaço de tudo o que vejo.
2 Comentários
que depressão em meu caro Azarão?
ResponderExcluirA de sempre, meu caro, a de sempre...
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