Rascunhos De Um Ateu

Há um blog, o Rascunhos De Um Pagão, cujas páginas visito regularmente e nas quais aprendi fatos curiosos e interessantes da cultura pagã. Simpatizo muito com seu autor, Beto Quintas, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente. Passa-me a impressão de ser um daqueles caras cheios de histórias, com quem eu seria capaz de passar horas bebendo e conversando.
Em um de seus mais recentes posts, porém, cometeu um pequeno deslize, inadvertido com certeza. Ele toma três experiências pessoais de, digamos, quase-morte como ponto de partida e segue daí com suas considerações e pareceres sobre um possível além-vida.
Num dado momento, ele diz que "os ateus tem uma vantagem prática, eles simplesmente aceitam o fato, sem especular com o além". Não é verdade. Nada mais equivocado. Especulamos, sim. Não nos preocupamos, o que é muito diferente.
É um erro achar que o ateu não acredita em nada, que nega a tudo. Acreditamos, possivelmente, na maioria das coisas que a maioria acredita. Só não acreditamos em deus. Apenas rejeitamos o conceito do deus feito em figura, antropomorfizado, ou zooantropomorfizado (egípcios e alguns indianos).
Não negamos - os ateus sérios e pensantes -, de forma alguma, a existência de forças inimaginavelmente superiores a nós e às quais estamos à mercê. Porém são as forças investigadas sobretudo pela Física, nada de sobrenatural. Elas são inúmeras, e seu conjunto é que rege e mantém nosso Universo em funcionamento. Seria burrice negá-las. Somos só ateus, não burros.
Somente rejeitamos a humanização de cada uma dessas forças na figura de um deus (nas culturas politeístas), ou, pior, na figura de um único deus  que as congregue (nas monoteístas). Não obstante, toda mitologia, unicamente como um exercício da imaginação humana, também nos interessa.
Em relação à morte e a um pós-vida, não somos muito diferentes. Também especulamos sobre a possibilidade de outros planos de existência, mas sem nenhum misticismo - a Teoria das Cordas, da Física, prevê, se não me engano, onze dimensões.
O que é a vida? O que faz que um ser seja vivo? Estruturalmente falando, não há nenhuma diferença entre um corpo morto agora e vivo há cinco minutos. A diferença é que a energia que o animava se foi, parou de ser gerada, ou coisa que o valha. Se querem chamar a essa energia de alma, espírito, anima etc, pouco me importa.
O fato é que sabemos, de novo pela Santa Física, que a energia não pode ser criada nem destruída, mas, camaleoa errante, pula de sítio para sítio travestida em suas mais diferentes formas. 
Óbvio que essa energia que nos move não se extingue quando desocupa nosso corpo. Agora, se ela mantém algum tipo de consciência do que um dia "foi", se ela vai para níveis mais superiores, ou inferiores, de energia, se ela vai reencarnar futuramente em outro corpo, já é outra história. São outras histórias.
O ateu também acredita na "eternidade" dessa energia. Também cogitamos sobre seus possíveis destinos. Só não nos preocupamos com o céu e o inferno; se há uma continuidade, ou não, da vida, nos é indiferente. E se nos é indiferente, poderiam perguntar alguns, porque especular sobre? Simples : porque é legal cogitar, pensar. E salutar.
Aos que se interessam pelas mitologias de outras culturas, há bons textos no Rascunhos de um Pagão. E aos cada vez mais raros admiradores do belo sexo (que é o feminino, quero deixar bem claro), há também, do mesmo autor, o blog Paganismo e Tattoo, um deleite para os olhos. Pagãos, cristãos ou ateus.

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