Bom De Bola, Ruim Da "Bola"

Nossa cabeça contém a mais sensível de nossas estruturas corporais, e a mais importante. Não é à toa que nosso cérebro se encontra encerrado numa dura caixa óssea, o crânio, e é revestido por três membranas, as meninges.
Qualquer lesão ocasionada por doença ou impacto tem caráter irreversível, suas células, os neurônios, não possuem, a exemplo de outras de nosso corpo, poder de regeneração. Uma vez perdido um neurônio, é para sempre.
Assim sendo, quem, em sã consciência e por vontade própria, sairia por aí batendo com a cabeça a torto e a direito. Resposta simples : os jogadores de futebol.
Uma bola de futebol alcança comumente velocidades entre 20m/s e 30m/s (72km/h e 108 km/h, respectivamente), o que, levando em conta sua massa, produz impactos com forças entre 1300 e 2000 N. Isso se o jogador que receber a bolada estiver parado, se ele correr em direção à bola e cabeceá-la em sentido contrário, sua força se soma à do impacto, e o resultado é ainda maior.
Só para efeitos de comparação, no boxe, um soco médio pode atingir 3000 N se o boxeador que o recebe estiver parado; caso ele jogue o corpo para trás na hora do golpe, diminuindo a resistência, esse valor diminui. Parece-me, portanto, que uma boa cabeceada e um soco de boxe "amortecido" provocam  impactos semelhantes no cérebro do sujeito.
Agora, médicos estadunidenses liderados por Michael Lipton, do Centro Médico Montefiore, do hospital da Escola de Medicina Albert Einstein, em Nova York, "suspeitam" que cabecear bola com frequência pode causar danos ao cérebro, a degeneração de suas células.
Jogadores amadores foram monitorados e os médicos descobriram que os "cabeceadores frequentes" tinham sinais óbvios de lesões traumáticas leves no cérebro. Cinco regiões do cérebro sofreram danos --áreas da frente do cérebro e na direção da parte de trás do crânio, onde ocorrem processos ligados à atenção, memória, funcionamento executivo e funções da visão.
Os médicos afirmam que uma única cabeceada não tem força suficiente para grandes danos, mas creem que a prática constante do ato possa levar a um efeito cumulativo. Citam o caso de um jogador britânico da década de 1960, Jeff Astle, falecido em 2002, cuja autópsia atestou uma doença degenerativa do cérebro, desencadeada pelas muitas cabeceadas durante sua carreira, como a causa da morte.
Os cientistas buscam, agora, determinar um número seguro de cabeceadas para cada jogador; embora não haja um estudo preciso, eles acreditam que um número em torno de mil cabeceadas/ano dê uma boa margem de segurança ao atleta. 
Fico até imaginando a cena (imaginando mesmo, não assisto a jogos de futebol) : o jogador recebe aquele passe aéreo para enfiar de cabeça para dentro do gol e deixa a bola passar, nem faz menção de pular para alcançá-la. Xingado, responde : já dei a minha cota de cabeceadas da semana.
Hoje, os jogadores de futebol têm a seu favor, dizem os médicos, o fato de que as bolas atuais são bem mais leves que as antigas. Eu não vejo grandes diferenças no resultado final. A massa das bolas de hoje é menor, mas isso faz com que elas atinjam velocidades maiores que as bolas pesadas de outrora. 
A força do impacto é dada pela multiplicação da massa do objeto pela variação de velocidade antes e depois do choque, tudo isso dividido pelo tempo de contato. A massa diminui, a velocidade aumenta em contrapartida. Praticamente, ficam elas por elas.
É óbvio ululante que constantes impactos na cabeça podem afetar o cérebro, acredito que a pesquisa seja feita para mensurar o quão grande pode ser esse dano. 
No caso de jogadores de futebol, no entanto, eu absolvo a bola. Ela não têm a menor culpa na questão. Jogadores de futebol, via de regra, já nasceram com o cérebro degenerado. O problema é que esses exames foram realizados em futebolistas já há algum tempo em atividade; daí, fornecerem a falsa impressão de que aqueles cérebros miseráveis resultaram das boladas. Se o exame tivesse sido realizado antes desses sujeitos começarem a jogar bola, o resultado teria se revelado o mesmo.
A bola em nada lesionou os cérebros dos jogadores de futebol. A coisa é de nascença, eles já saíram assim de fábrica. 
Bom de bola e ruim da bola. Precisa pesquisa para descobrir isso?
Fontes:
Reportagem : BBC Brasil
Dados sobre boxe : Ciências Olímpicas
Equação para cálculo de impacto : Física na Veia

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