Analfabetos Diplomados

"Nove em cada dez alunos da oitava série de escolas públicas não sabem fazer contas com centavos". Essa foi uma das constatações de um estudo feito para a UOL Educação tendo por base os resultados da Prova Brasil de 2009 - e acreditem, de lá para cá, a coisa piorou ainda mais.
A Prova Brasil trabalha com quatro conceitos classificatórios : abaixo do básico, básico, adequado e avançado. 89,4% dos alunos do último ano do ensino fundamental estão agrupados nos "abaixo do básico" e "básico".
E por que a falsa surpresa e a, mais falsa ainda, indignação? E por que seria diferente?
Nem vou falar da famigerada Progressão Continuada, não por enquanto.
Direi de uma nova atribuição ganha pelos professores da rede pública de uns anos para cá. O professor foi alçado à função de educador. Do dia para noite, chegaram-nos com essa novidade. Mais que professores, os senhores são educadores doravante. 
Atribuição que não pedimos, mas que, a bem da verdade, também não nos foi imposta. Ninguém, e aqui faço uma mea culpa pela classe, reagiu contrariamente a ela. Muito pelo contrário, a maioria sentiu-se valorizada com a nova denominação, sentiu-se socialmente mais útil, a maioria abraçou efusivamente essa nova empulhação do governo, recebeu a novidade de braços - e, principalmente, de pernas - abertos.
Há quarenta anos, quando eu esquentava os bancos escolares, a maioria de nós já vinha educada de seus lares, que vestir e prover sustento não são suas únicas funções; não eram, pelo menos. Sabíamos nos comportar em ambientes outros, o mundo não era uma extensão de nossa casa (muito menos a escola como querem os filhos das putas dos peidagogos), havia um comportamento para cada ambiente. Até nas casas de nossos avós, éramos mais respeitosos. Que dirá, então, na escola.
Chegávamos à escola já tornados em gente pelos nossos pais. Cabia a cada professor apenas transmitir seus conteúdos específicos. E cobrá-los. Cobrá-los em provas e sabatinas, que isso de avaliações diversificadas é conversa para peidagogo se masturbar. Simples e fácil, sem teorias peidagógicas libertinas. Simples, fácil e, sobretudo, funcional. Podem não acreditar, mas saíamos do primeiro ano do, na época, grupo escolar plenamente alfabetizados, e sabendo todas as tabuadas do 2 ao 10 (a do 9 era foda).
Hoje, o aluno chega um verdadeiro bicho do mato na escola. Achando que a sala de aula é uma continuação de sua casa. Para ele, passar de sua casa para a escola é a mesma coisa que passar de seu quarto para cozinha, ou para o banheiro.
Chegam sem a mínima noção do ambiente em que estão, sem nenhum limite, até sem hábitos de higiene pessoal. Num Estado próximo ao ideal, ao justo, esses pais seriam chamados, levariam uma camaçada de pau, e submetidos a cursos de como educar seus filhos. No nosso, é mais fácil eximir os pais de qualquer responsabilidade e jogar nas costas do professor, ops,  do educador.
Resumindo, o cara não é mais professor de Química, Física ou Geografia. Primeiro, ele tem que domar a turba, civilizar a horda. Depois, se sobrar um tempinho, ele dá lá um pouco de seu conteúdo, e sem grandes rigores na cobrança, por favor. Priorizar o conteúdo já é um ato herético há muito tempo nas escolas públicas.
Só nisso, no adestramento do aluno, o ex-professor já gasta tempo precioso de sua disciplina, não há como cumprir o mínimo. Para arrematar (já estavam sentindo falta dela, né?), entra a Progressão Continuada, que, na prática, torna legalmente criminosa a retenção do aluno até a sétima série do ensino fundamental, quando o sujeito já contabiliza seus 13, 14 anos. Ou seja, ele nunca precisou estudar, não adquiriu o hábito de estudo; e não vai adquirir nunca mais.
Transformar os professores em educadores, com os aplausos dos mesmos, foi uma jogada de gênio do governo. E, desgraçadamente, o governo sempre pode contar com a burrice professoral para o êxito de seus ardis. O governo não é incompetente como muitos ainda querem acreditar. Ele é competentíssimo, sabe exatamente o que quer formar nas escolas. Saber fazer conta para quê? Entregar panfletos, ser vendedor de celular e tv a cabo, caixa de supermercado? O governo sabe exatamente o nicho do mercado de trabalho para o qual ele vai preparar mão de obra.
O uso da calculadora já foi liberado há décadas em sala de aula, o próprio professor fazendo uso dela.
Os resultados da Prova Brasil ainda são muito bons. Aguardem quando esses alunos de hoje, esses analfabetos diplomados, tornarem-se pais. Aguardem para ver os resultados produzidos pelos filhos deles. Guardem suas lágrimas, que hoje elas são justas, mas não imprescíndiveis. Logo, serão.
E parabéns a todos os professores desse Brasil varonil que abraçaram a "causa" de educadores. A merda continuará a ser despejada sobre vossas cabeças. Os governantes continuarão a pôr a opinião pública contra vocês, prosseguirá imputando-lhes a culpa pela falência do ensino. Como sempre fez. No entanto com um diferencial : daqui em diante, ele terá um bom bocado de razão.

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3 Comentários

  1. é disso que eu gosto é isso que falta hoje em dia! marreta na educação...

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  2. Faz cócegas onde, seu viado? Só autorizei a porra do seu comentário inútil para não dizerem que sou homofóbico. E porque estou ligeiramente bêbado.

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