Rita Lee não é das minhas cantoras/compositoras prediletas. Nunca foi. Tenho-lhe um grande respeito histórico e certa reverência por sua boa obra antes de se juntar a Roberto de Carvalho, isso lá pelos fins da década de 1970. Destaque para o antológico Fruto Proibido (1975), pelo gravadora Som Livre, que conta com clássicos como Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow, e a belíssima Ovelha Negra.
Vai daí que um dia desses, vasculhando desses sites de compartilhamento, baixei o cd Rita Lee - Duetos, de 2010. Gosto de duetos. Baixei, gravei num CD com mais outros álbuns, deixei na gaveta e pus hoje para escutar. A terceira faixa me surpreendeu. Logo de cara, uma voz que não reconheci a nenhum custo saiu disparando que odeia rodeio e que até sente um certo nojo quando um sertanejo começa a cantar. Puta que o pariu, exclamei.
Corri em busca de descobrir o dono da voz, cheguei a pensar que a música fosse composição da Rita, depois de décadas de marasmo. Não era. O autor é Chico César, aquele que tem um coqueiro nascendo do cocoruto pelado . Sei dele a tal da Mama África, e mais umas duas ou três gravadas pela Bethânia; recentemente conheci dele a bela O Barco, gravada por Zeca Baleiro. O que chegou dele até os meus ouvidos, via rádios, nunca me apeteceu a procurar por mais.
Agora, o cara manda essa. Se sai com essa coragem e ousadia. Vomita o que boa parte dos músicos de verdade pensam e não se metem a falar, talvez por medo de represália da indústria fonográfica e da pesada máfia do rodeio, que envolve multinacionais e políticos; alguns, até o próprio Zeca Baleiro, de quem muito gosto e citei aqui, já teve sua canção Lenha gravada por uma dessas excrescências sertanejas. Não sei de que ano é a composição, mas para mim ela é de hoje. Vou procurar pela net coletâneas de Chico César, prestar-lhe mais atenção. É o minímo, por sua valentia.
O disco de Rita ainda traz duetos com os Titãs, Arrigo Barnabé, as delicinhas musicais Pitty e Fernanda Takai, Banda das Velhas Virgens, Caetano Veloso, e até o Rei Roberto Carlos.
Odeio Rodeio
(Chico César)
Odeio rodeio
E sinto um certo nojo
Quando um sertanejo
Começa a tocar
Eu sei que é preconceito
Mas ninguém é perfeito
Me deixem desabafar [bis]
A calça apertada
A loura suada
Aquele poeirão
A dupla cantando
E um louco gritando
Segura peão
[Refrão]
[Refrão]
Me tira a calma
Me fere a alma
Me corta o coração
Se é luxo ou é lixo
Quem sabe é o bicho
Que sofre o esporão
[Refrão]
[Refrão]
É bom pro mercado
De disco e de gado
Laranja e trator
Mas quem corta a cana
Não pega na grana
Não vê nem a cor
Respeito Barretos
Respeito Barretos
Franca, Rio Preto
E todo interior
Mas não sou texano
A ninguém engano
Não me engane amor
[Refrão]
[Refrão]
Para ver o vídeo e ouvir a música é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.
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