Câncer Presidencial

Incompetências à parte, os chefes de Estado sul-americanos são figuras impagáveis, verdadeiros personagens de folclore. Não tivessem os destinos de nações em suas mãos, seriam divertídissimos, esses arremedos socialistas ainda estacionados na década de 1960.
Divertidos e paranoicos. Extremamente paranoicos. Como bem cabe ser a todo ditador que queira consolidar duradoura carreira. O sujeito precisa estar perenemente alerta. Com os dois olhos bem abertos e um terceiro na nuca (que seria, a rigor, um quarto olho; é que do terceiro olho, o do cu, não há registros ou confirmações de funcionalidade visual).
E de tanto procurar conspiração em tudo, esses caras acabam, vez ou outra, acertando alguma. Como já bem disse Raul Seixas (outro paranoico de carteirinha, assumidíssimo), o paranoico foi aquele que sacou. 
E como são, todos esses ditadorezinhos, restos de porra seca do Fidel, carregam consigo aquele ranço da Guerra Fria, CIA, KGB, espionagem, contraespionagem, James Bond etc.
Eles ficam procurando pelo em ovo. Melhor : procurando cabelo na cabeça do Chavéz, do Lula e, em breve, de Cristina Kirchner.
E foi ele, Hugo Chavéz, ontem, que levantou essa lebre : os líderes sul-americanos estariam sendo, de alguma forma, contaminados, ou coisa que o valha, por câncer. Palavras dele, não há como explicar, com base em probabilidades, o que está ocorrendo com os líderes sul-americanos, ou seja, cinco chefes de Estado padecendo do mesmo mal, tumores malignos. 
Além do próprio Chavéz, Lula, Dilma Rousseff, Fernando Lugo (do Paraguai) e, agora, Cristina Kirchner, estariam sendo vítimas de uma estratégia estadunidense para desestabilizar as lideranças sul-americanas. 
Chavéz não sabe bem como isso estaria sendo conduzido. Mas cita, como exemplo de que os norte-americanos seriam capazes de, o episódio na Guatemala durante a década de 1940, em que cidadãos guatemaltecos foram feitos em cobaias num estudo de doenças sexualmente transmíssiveis. Oitenta e três pessoas foram mortas, o caso teve repercussão mundial e, recentemente, o Tio Sam pediu desculpas pelo fato.
Chavéz rende-se à sabedoria, à argúcia e, por que não dizer?, ao vaticínio de Fidel Castro, seu guru espiritual : "Fidel [Castro, ex-líder de Cuba] sempre me disse: 'Chávez tenha cuidado, essa gente desenvolveu tecnologia, atenção ao que te dão para comer e cuidado com uma pequena agulha que te injetem e não se sabe o porquê'", disse o venezuelano. 
No entanto, como todo bom paranoico, é cauteloso em suas acusações : "Em todo caso, repito, eu não estou acusando ninguém, só estou fazendo uso da minha liberdade para refletir e emitir comentários perante fatos muito estranhos e difíceis de explicar", concluiu.
Adorei mais essa teoria da conspiração. Não descarto totalmente tal hipótese, porém a considero muito pouco provável. Não pela incapacidade científica dos EUA de a levarem a cabo, mas pela ingenuidade política caso o fizessem.  É bem sabido, e isso não escapa ao povo de Obama, que a ignorância abaixo da linha do Equador transforma em mártir todo líder morto de forma trágica. Morte por câncer, então, canoniza o sujeito.
Por isso, não acredito que haja uma estratégia estadunidense a minar os lideres sul-americanos. Nesse caso, acho que é só mesmo um puta dum azar probabilístico. Azar nosso, desses tumores terem se manifestado tardiamente. Muito tardiamente.

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