Pequeno Conto Noturno (60)

Rubens não tem TV a cabo. Nunca teve. Nem a intenção ou a vontade de. Instalou, no entanto, aliás, Calil instalou a troco de umas cervejas, uma antena parabólica, presente de Dona Jandira.
D. Jandira fora vizinha de Rubens por quatro anos, a pacata e silenciosa vizinha do apartamento à esquerda do de Rubens. Rubens nunca teve grandes vocações paleontológicas, tampouco instintos precisos de datação por carbono-14, mas estima que D. Jandira tenha já ultrapassado os sessenta, porém, que não tenha dado entrada ainda nos setenta.
Por volta das 20 horas da sexta-feira passada, a campainha de Rubens soou. D. Jandira, que estava de mudança, o que Rubens já sabia dada a movimentação dos últimos dias. D. Jandira passaria a morar com um dos filhos, que estivera fora, em país estrangeiro, durante a última década.
Disse a Rubens que estava encaixotando seus últimos pertences, as miudezas, e que o sobrinho, que a ajudaria na mudança, havia contraído dengue e ficado inutilizado. Sobretudo, precisava de ajuda com os objetos colocados em lugares mais altos, em prateleiras, em cima dos armários etc, pois subir em um banquinho ou em uma escada seria arriscado e temeroso em sua idade. D. Jandira trazia um lenço velho segurando os cabelos desalinhados e vestia um vestido surrado e empoeirado, adequados à tarefa que realizava. Rubens, que acabara de abrir o primeiro latão da noite, perguntou se podia levar a cerveja junto, e D. Jandira, meio encabulada, confessou também ser chegada a um traguinho, de vez em quando.
Dentro do apartamento de D. Jandira, Rubens viu o que imaginara que veria. Quinquilharias e badulaques de velha, um museu de pequenos cacarecos de valor sentimental, cacos de outras, e talvez mais felizes, épocas. Bibêlos, estatuetas de gesso, porta-retratos, caixinhas decoradas, camafeus, toalhinhas de crochê sobre os móveis, vaso solitários com flores artificiais, xícaras e pratos de porcelana comemorativos pelos tantos anos de idade, pelos tantos de casamento etc, souvenires de viagens de parentes e amigos - do tipo, estive em tal lugar e lembrei de você -, um quadro da Santa Ceia e toda a sorte de objetos inúteis- o saldo de toda uma vida.
Tarefa leve e fácil, recolhê-los e encaixotá-los, porém, enfadonha, o que fez com que as cervejas de Rubens descessem mais rápidas e mais urgentes goela abaixo - D. Jandira o ajudou em dois dos seis latões que levara. 
- Gosta de Altemar Dutra?, perguntou D. Jandira. Rubens gostava. 
Faltando apenas os objetos do quarto de D. Jandira para serem encaixotados, a cerveja acabou. Rubens disse que estava saindo para comprar mais, em uma loja de conveniência de um posto de combustíveis a alguns quarteirões dali, e que logo voltaria para encerrar o trabalho.
Assim que retornou ao apartamento de D. Jandira, ouviu a voz dela lhe chamar do quarto. D. Jandira havia iniciado a tarefa e o esperava dentro do quarto.
D. Jandira recendia a banho recém-tomado e a um antigo perfume de lavanda - Alma de Flores, Seiva de Alfazema, Rubens não se lembrava ao certo -, tinha se maquiado levemente - empoara-se com pó compacto, um pouco de rouge e, com sombra azul, camuflara as bolsas sob os olhos -, tinha arrumado o cabelo em coque e brincos de pedras vermelhas balançavam nos lóbulos flácidos e espichados de suas orelhas, e tinha também reforçado o Corega de sua dentadura, que exibia a Rubens num sorriso largo e murcho.
D. Jandira vestia um peignoir (penhoar) rosa translúcido, do qual, logo à entrada de Rubens, deixou escorregar pelos ombros as alças, mostrando peitos acondicionados em um sutiã de bojo, daqueles com armação de arame por dentro, vermelho.
Rubens se aproximou, pousou as mãos em concha sobre os peitos de D. Jandira e os apalpou, testando-lhes a consistência e a textura. D. Jandira inspirou fundo, arfou de olhos fechados, suspirou como quem suspira por uma antiga recordação, por um ente querido que há muito se foi. O sutiã, julgou Rubens, dava aos peitos de D. Jandira a firmeza que a vida roubara.
Ato reflexo, Rubens fez menção de desabotoar o sutiã de D. Jandira, no que foi detido por ela. D. Jandira preferia manter a ilusão, e Rubens, pensando melhor, também. Rubens aproximou a cara dos peitos dela, pôs o nariz entre eles e aspirou fundo - cheiravam a guardado, de tanto esperar. D. Jandira arrepiou-se, molhou-se e afastou um pouco Rubens de si, sentou-se na cama, de frente para ele, e levantou a barra do penhoar.
- Depiladinha, só para você - disse D. Jandira, e fez sinal para que Rubens se sentasse ao seu lado, na cama.
Não havia único pelo na buceta de D. Jandira, mas não por obra de uma gilete ou de cera quente, percebeu Rubens. A buceta estava careca naturalmente, pela idade, já não nasciam mais pelos na nela, caíram todos, gastaram.
Rubens sentou-se e D. Jandira alcançou imediatamente a boca dele com a sua. Uma língua voluntariosa, ávida, surpreendentemente forte e prênsil - o Corega tinha gosto de morango, de anestesia de dentista. Grudada feito uma ventosa à boca de Rubens, D. Jandira procurou, ainda por sobre a roupa, o pau dele, atochou a mão artrítica no meio das pernas de Rubens, esperava encher a mão, porém, o percebeu nada animado. Nada mesmo.
Mas a experiência e, provavelmente, o convívio com homens de idades próximas a dela, tornou D. Jandira em uma especialista em mastigar borracha, uma bomba de sucção humana. Fez com que Rubens se levantasse, ficasse de pé em frente a ela, abaixou-lhe a bermuda, libertou-lhe o cacete e o abocanhou. Uma autêntica Roto-rooter, uma bomba de vácuo, a boca de D. Jandira. A língua dela erguia o pau de Rubens até o palato e a boca fazia o resto, mordia, mascava, aspirava, erguia, mordia, mascava, aspirava.
Rubens se entesou e encacetou D. Jandira; inicialmente de frango assado (queria lhe testar a flexibilidade), depois deixou D. Jandira rebolar e cavalgar o quanto quis em sua rola, e a finalizou de quatro - e D. Jandira fez tanta sujeira, lambuzou-se a noite inteira.
Tomados o fôlego, o banho e as cervejas trazidas da loja de conveniência, D. Jandira quis mais, abocanhou de novo o pau mole de Rubens. Dessa vez, contudo, nem toda a técnica e a perícia de desentupidor de pia de D. Jandira estavam conseguindo dar nova vida ao pau de Rubens. D. Jandira, então, tirou sua última carta da manga, jogou na mesa o trunfo que toda mulher tem, mas que poucas costumam usar, proferiu a frase mágica levantadora de cacete, a frase que reanima qualquer pau, não importa quantas fodas ele já tenha dado:
- Rubens, come o meu cuzinho! - disse D. Jandira, sem tirar o pau da boca, apenas o empurrando pro lado com a língua. Em seguida, pôs-se de quatro na cama e empinou a rabeta pra Rubens.
Na mesma hora, Rubens sentiu o sangue afluir para a sua cabeça pensante, mas ficou apreensivo, com certo receio de que as pregas de D. Jandira não fossem aguentar a sua rola. O mesmo receio que se tem ao manipular coisas antigas, fotos, livros, roupas, o receio de que elas quebrem e virem pó ao menor toque. 
Rubens constatou, de novo com surpresa, enquanto enrabava D. Jandira, enquanto tirava e enfiava o pau até o talo no cu dela, ajudado por um creme hidratante para mãos,Vasenol, sugestão da própria D. Jandira, que se ela tinha, sim, alguma coisa de antiga, não era, definitivamente, a fragilidade de velhas fotografias; era a robustez e a durabilidade das velhas geladeiras, dos fuscas de parachoques de aço cromado.
Na manhã seguinte, na hora do almoço, na verdade, a campainha de Rubens tocou novamente. D. Jandira, que viera se despedir, agradecer a ajuda e deixar-lhe um presente, a tal antena parabólica. Não iria mais precisar dela, a casa do filho tinha TV a cabo, home theater e o escambau.
Agora, é em frente à TV, turbinada por um pacote de 31 canais da parabólica, que Rubens tenta encerrar a noite, procura por algum programa que o satisfaça ou o distraia minimamente. Trinta e um canais. E, possivelmente, Rubens pode ter passado trinta e uma vezes por cada um deles. Seis ou sete são canais abertos - Globo, Bandeirantes, SBT etc -, cinco são canais rurais, de leilão de gado, de boi, de cavalo e de porra do boi e do cavalo - Rubens surpreendeu-se com o preço de uma âmpola de porra de boi -, outros seis são canais de televendas, nove são canais religiosos, outro é um canal de esportes - canal de esportes para Rubens é o mesmo que um canal pornô para um eunuco. Restam ainda uns dois ou três que retransmitem o mesmo canal estatal educativo, mas quem é que está interessado em cultura às três da manhã, embriagado? 
Rubens pula de canal em canal, enquanto seca as latas de cerveja. Não consegue parar em nenhum. Nem nos canais de gado nem nos canais para o rebanho. Não tem interesse no resultado do jogo entre o Mirassol e o Miramar. Não precisa de um novo aspirador de pó nem de um fritadeira turbo de batatas fritas. Tampouco de algum deus pago no cartão de crédito.
A boca de D. Jandira viria bem a calhar agora, pensa Rubens, enquanto desliga a TV, entorna a última lata e se prepara para ir dormir.

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3 Comentários

  1. Sei não, mas vai ter muita gente perguntando pelo novo endereço da Dona Jandira. Muito bom.
    "J"

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  2. Em alguma parte me fez lembrar histórias relatadas na quermesse do padre, que fomos com outros amigos professores. Só não ganhamos o fusca do bingo, mas foi muito bom. E você ainda teve que comprar cerveja na barraca da quermesse...Leitinho

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    1. Rapaz, eu não comprei cerveja em quermesse de padre nenhuma, que não sou de ficar dando dinheiro pra esse povo de batina. Eu comprei um latão, mas foi naquele posto de combustíveis.

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